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TESTEMUNHA INTERIOR – J.I. Packer


A ESCRITURA É AUTENTICADA PELO ESPÍRITO SANTO
E vós possuis unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento. 
                                                                              1 João 2.20
       Por que os cristãos crêem que a Bíblia é a Palavra de Deus, sessenta e seis livros formando um único livro de instrução, no qual Deus nos revela a realidade da redenção por meio de Jesus Cristo, o Salvador? A resposta é que o próprio Deus confirmou isto por meio do que chamamos a testemunha interior do Espírito Santo. Nas palavras da Confissão de Westminster (1647):
Podemos ser movidos e induzidos pelo testemunho da igreja a uma alta e reverente estima pela Sagrada Escritura. E a sacralidade do assunto, a eficácia da doutrina, a majestade do estilo, a harmonia de todas as partes, a finalidade do todo (que é dar toda glória a Deus), a plena descoberta que faz do único caminho para salvação do homem, as outras muitas incomparáveis excelências, e a sua total perfeição, são argumentos por meio dos quais ela abundantemente evidencia por si mesma ser a Palavra de Deus: não obstante, a plena persuasão e certeza que temos da sua infalível verdade e divina autoridade deve-se à obra interior do Espírito Santo que dá testemunho da Palavra em nosso coração. (I.5)

O testemunho do Espírito sobre a Escritura é como seu testemunho a respeito de Jesus, que encontramos declarado em João 15.26 e 1 João 5.7 (cf. 1 Jo 2.20,27). Não é uma questão de dar nova informação, mas de esclarecer mentes antes obscurecidas, que não discerniram a divindade por meio da apreensão de seu único impacto — o impacto, de um lado, do Jesus do evangelho, e, de outro lado, das palavras da Escritura Sagrada. O Espírito ilumina nossos corações para dar-nos a luz do conhecimento da glória de Deus, não somente na face de Jesus Cristo (2 Co 4.6), mas também no ensino da Sagrada Escritura. O resultado deste testemunho é um estado de espírito em que ambos, Salvador e Escritura, se evidenciam diante de nós como divinos — Jesus, uma pessoa divina; a Escritura, um produto divino — de um modo tão direto, imediato e impressionante como aquele em que gostos e cores se tornam evidentes por se imporem aos nossos sentidos. Em conseqüência disto, não mais achamos possível duvidar da divindade, seja de Cristo ou da Bíblia.
Assim, Deus autentica para nós a Escritura Sagrada como sua Palavra — não por alguma experiência mística ou informação secreta sussurrada às escondidas no ouvido interior de alguém, não por argumento humano isolado (por mais forte que ele seja), nem pelo testemunho isolado da igreja (comovente como é quando visto ao longo desses dois mil anos). Deus o faz, antes, por meio de sua luz perscrutadora e poder transformador, pelos quais a Escritura atesta por si mesma sua origem divina. O impacto dessa luz e desse poder é o próprio testemunho do Espírito "pela Palavra e com ela em nosso coração". Argumento, testemunho de outrem, e nossa própria experiência pessoal podem preparar-nos para receber esse testemunho, mas sua concessão, como a concessão da fé na divina obra salvífica de Cristo, é prerrogativa exclusiva e soberana do Espírito Santo.
A iluminação do Espírito testemunhando a divindade da Bíblia é experiência cristã universal, e tem sido assim desde o princípio, embora muitos cristãos não tenham sabido verbalizá-la ou manejar a Bíblia de modo compatível com ela.

Fonte: J.I. Packer - Teologia Concisa

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