Diversos vocábulos são traduzidos por "céu", porém, os únicos que realmente são importantes são o hebraico shamayim e o grego ouranos. 0 primeiro é plural, e o último freqüentemente também ocorre no plural. Porém, tal qual acontece em português, parece não haver qualquer grande diferença entre "céu" e "céus". O vocábulo é usado ao referir-se ao céu físico, especialmente dentro da expressão "céu e terra" (Gn 1.1; Mt 5.18). Alguns têm sugerido que os escritores bíblicos concebiam o céu nesse aspecto sólido ou seja, como uma taça invertida ("o firmamento" de algumas versões; Gn 1.8). O sol faz sua peregrinação diária através do mesmo (SI 19.4-8), e há janelas através das quais a chuva pode cair (Gn 7.11). Alguns hebreus possivelmente tivessem tais idéias, mas não nos devemos esquecer que os homens do AT eram capazes de ter vividas imaginações. Nunca dará certo tratá-los como literalistas de madeira. O sentido teológico de sua linguagem acerca do céu pode ser compreendido sem lançarmos mão do recurso de tais hipóteses.
O céu é o lugar da habitação de Deus, bem como daqueles intimamente associados com ele. Ao israelita cumpria orar: "Olha desde a tua santa habitação, desde o céu..." (Dt 26.15). Deus é o "Deus do céu" (Jn 1.9) ou o "Senhor Deus dos céus" (Ed 1.2), ou ainda o "Pai celeste" (Mt 5.45; 7.21 etc). Deus não está sozinho no céu, pois lemos a respeito do "exército dos céus" que "te adora" (Ne 9.6) e a respeito dos "anjos no céu" (Mc 13.32). Os crentes, igualmente, podem aguardar "uma herança incorruptível... reservada nos céus para vós outros" (1Pe 1.4). Dessa maneira, o céu é a habitação presente de Deus e de seus anjos, e é o destino final de seus santos que estão na terra.
Entre muitos povos antigos havia o pensamento de uma multiplicidade de céus. Tem sido sugerido por alguns que o NT dá testemunho sobre a idéia rabínica de sete céus, pois existem referências ao "paraíso" (Lc 23.43) e ao "terceiro céu" (2Co 12.2; esse era chamado de Paraíso nos escritos rabínicos, cf. 2Co 12.4). Também é dito que Jesus "penetrou os céus" (Hb 4.14). Essas, entretanto, são bases insuficientes sobre as quais erigir tal estrutura. A linguagem empregada no NT inteiro é perfeitamente capaz de ser compreendida para que se tenha a idéia que o céu é o lugar da perfeição.
"Céu" é palavra que às vezes é empregada perifrasticamente em lugar de Deus. Assim é que quando o filho pródigo disse "pequei contra o céu" (Lc 15.18, 21) ele queria dizer "pequei contra Deus". Semelhante é o caso de Jo 3.27. "... se do céu não lhe for dada". O exemplo mais importante disso é o uso que Mateus faz da expressão "reino do céu", que parece ser idêntica à expressão "reino de Deus".
Finalmente cumpre-nos observar um emprego escatológico desse termo. Tanto no AT como no NT é reconhecido que o presente universo físico não é eterno, mas que desaparecerá, a fim de dar lugar a "novos céus e nova terra" (Is 65.17; 66.22; 2Pe 3.10-13; Ap 21.1). Devemos compreender que tais passagens indicam que a condição final das coisas será tal que a vontade de Deus será perfeitamente expressa por elas.
FONTE: Leon Morris – Novo Dicionário da Bíblia
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