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O LIBERTADOR INDISPENSÁVEL.

A criança que definiu o rádio como "uma televisão sem imagens" não sabia o que estava dizendo. Cresci durante os Anos Dourados do rádio e posso garantir que, enquanto escutava os programas, via mui­tas imagens vividas e figuras empolgantes - usando só minha imaginação. A televisão não permite que você faça isso. As novelas do rádio continuavam dias a fio e nos faziam pensar: "E agora, o que vai acontecer?"
O Antigo Testamento é a "novela" de Deus sobre o grandioso plano de salvação que ele anunciou a Adão e Eva (Gn 3:15) e a Abraão (Gn 12:1-3). Isso explica por que o texto hebraico de Êxodo começa com "e", pois Deus está dando continuidade à histó­ria que começou em Gênesis. A seu tempo, a história maravilhosa de Deus chegou até a vinda de Jesus à Terra para sua morte na cruz e não terminará até que todo o povo de Deus suba aos céus e veja Jesus assentado em seu trono. Uma história e tanto!
O tema de Êxodo é libertação, e não se pode ter libertação sem um libertador. É aí que Moisés entra na história, como o grande libertador, legislador e mediador.
1. O LIBERTADOR INDISPENSÁVEL - (Êx 1:1-22)
Os rabinos judeus chamam o Livro de Êxodo de "Livro dos Nomes" (ou "Estes São os Nomes"), pois ele começa com uma lista dos nomes dos filhos de Jacó (Israel) que levaram suas famílias para o Egito, a fim de fugir da fome que assolava Canaã (Gn 46). Deus usou a experiência de Israel no Egito com a intenção de prepará-los para a tarefa especial que deviam cumprir aqui na Terra: ser testemunho do verdadeiro Deus vivo, escrever as Sagradas Escrituras e trazer ao mundo o Salvador.
Bênção (vv. 1-7). Durante os anos em que José serviu como vice-governante do Egito, sua família foi extremamente respeitada e, mesmo depois que José morreu, sua memó­ria foi honrada pela forma como os egípcios trataram os hebreus. Deus cumpriu as pro­messas da aliança que havia feito com Abraão ao abençoar seus descendentes e fazer com que se multiplicassem grandemente (Gn 12:1-3; 15:5; 17:2, 6; 22:17). No tempo do êxodo, o povo hebreu contava com mais de seiscentos mil homens de vinte anos ou mais (Êx 12:37; 38:26) e, se acrescentarmos a esse número as mulheres e crianças, temos um total de cerca de dois milhões de pessoas, sendo que todas elas eram descendentes da família de Jacó. Sem dúvida, Deus havia cum­prido sua promessa!
No entanto, um novo Faraó não se agra­dou da rápida multiplicação do povo hebreu e, assim, tomou medidas para controlá-la.
Primeira medida - A aflição dos adul­tos (vv. 8-14). Deus havia dito a Abraão que seus descendentes iriam para um país es­trangeiro e lá seriam escravizados e maltra­tados, mas prometeu libertá-los por seu poder quando fosse a hora certa (Gn 15:12-14). Deus comparou o Egito com uma for­nalha de ferro (Dt 4:20) em que seu povo iria sofrer, mas sua experiência nessa forna­lha transformaria os israelitas numa nação poderosa (Gn 46:3).
Ao longo dos séculos que os hebreus habitaram no Egito (Gn 15:13; Êx 12:40, 41), passaram pela mudança de várias dinastias egípcias. Mas que novo Faraó seria tão igno­rante a ponto de não saber sobre José e sua família e de tentar destruir "o povo dos filhos de Israel"? A décima sétima dinastia dos hicsos também era de origem estrangeira, como os hebreus, de modo que provavel­mente simpatizavam com Israel. No entan­to, a décima oitava dinastia era egípcia, e seus governantes expulsaram os estrangei­ros da terra do Egito. Pode ter sido nessa dinastia que começou a perseguição ao povo de Israel.
Por que os egípcios desejavam tornar a vida dos hebreus tão infeliz? Israel era uma fonte de bênçãos para a terra, como José havia sido antes deles (Gn 39:1-6), e não estava causando problemas. De acordo com a razão apresentada pelo Faraó, a presença de tantos hebreus era um risco para a segurança nacional, uma vez que eram estrangeiros e, se houvesse uma invasão, sem dúvida se tornariam aliados dos inimigos. No entanto, quer o Faraó percebesse quer não, a verdadeira causa do conflito anunciado em Gênesis 3:15 era a inimizade entre o povo de Deus e os filhos de Satanás, conflito que persiste no mundo de hoje.
Não encontramos nos registros da história nenhum povo que tenha sofrido tanto quanto os judeus, mas toda a nação ou governante que perseguiu o povo de Deus foi castigada por isso. Afinal, Deus havia prometido a Abraão: "Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem" (Gn 12:3). Deus cumpriu essa promessa na forma como tratou com o Egito e a Babilônia na antigüidade e com Stalin e Hitler nos tempos modernos. Deus é longânimo ao observar as nações que perseguem seu povo escolhido, mas chega a hora em que sua mão de julgamento pesa sobre os opressores.
Os capatazes egípcios, "com tirania, faziam servir os filhos de Israel" (Êx 1:13), obrigando os escravos hebreus a construir cidades e trabalhar nos campos. Mas a bênção de Deus fez com que o povo de Israel continuasse a se multiplicar, o que assustou e jurou ainda mais seus dominadores egípcios. Era preciso fazer alguma coisa para manter Israel sob controle.
Segunda medida - A matança de meninos hebreus recém-nascidos (vv. 15-21). Se esse plano tivesse dado certo, o Faraó teria exterminado o povo hebreu. A futura geração de homens estaria morta, e as meninas acabariam se casando com escravos egípcios e sendo assimiladas pela raça egípcia. No entanto, de acordo com Gênesis 3:15 e 12:1-3, Deus não permitiu que isso acontecesse e usou duas parteiras hebréias para frustrar o plano do Faraó.
Esse é o primeiro caso nas Escrituras daquilo que chamamos, hoje, de "desobediência civil", a recusa em obedecer a uma lei perversa tendo em vista o bem comum. Textos das Escrituras, como Mateus 20:21-25, Romanos 13 e 1 Pedro 2:11, admoestam os cristãos a obedecer às autoridades humanas. Contudo, Romanos 13:5 nos lembra de que essa obediência não deve ofender nossa consciência. Quando as leis de Deus são contrárias às leis dos homens, "Antes importa obedecer a Deus do que aos homens" (At 5:29). Vemos um exemplo disso não apenas no caso das parteiras, mas também no de Daniel e de seus amigos (Dn 1; 3; 6) e no dos apóstolos (At 4, 5).
As parteiras estavam mentindo para o Faraó? Provavelmente não. Os bebês nasciam antes que as parteiras chegassem, pois Sifrá e Puá haviam pedido a suas assistentes que se atrasassem! Deus abençoou às duas parteiras-chefes por arriscarem a vida a fim de salvar a nação israelita da extinção. No entanto, honrou-as de um modo estranho: deu-lhes filhos numa época em que isso era tão arriscado! Talvez tenha lhes dado filhas ou, então, protegido seus filhos como fez com Moisés. De qualquer modo, essa bênção de Deus mostra quão preciosas são as crianças para o Senhor: ele desejava conceder a essas mulheres a mais alta recompensa e, assim, deu filhos a Sifrá e a Puá (Sl 127:3).
Terceira medida - o afogamento de bebês do sexo masculino (v. 22). Quando o Faraó descobriu que havia sido enganado, mudou seu plano e ordenou a todo o povo que providenciasse para que os bebês hebreus do sexo masculino fossem afogados no sagrado rio Nilo. Os guardas do Faraó não tinham como vigiar cada uma das parteiras hebréias, mas o povo egípcio podia ficar de olho nos escravos hebreus e avisar quando um menino nascia. No entanto, estava para nascer um menino que o Faraó não conseguiria matar.
Fonte: Warren W. Wiersbe – Comentário Bíblico Expositivo Volume 1

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