Poderia Deus, todavia, em casos especiais, operar mediante a luz da revelação geral — luz que chega a todo ser humano —, a fim de evocar o arrependimento e a fé e, assim, efetuar a salvação de alguns a quem jamais chegou a mensagem verbal sobre o perdão de pecados da parte de Deus? A pergunta é respondida pela declaração de Pedro: “em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável” (At 10:35). A doutrina é apoiada pela asserção de Paulo: “...(Deus) não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo” (14:17). Adicione-se a forte declaração de revelação geral da parte de Deus, a toda a humanidade, em Romanos 1:18-2:16. Considere-se o reconhecimento e a adoração do Deus de Israel por Melquisedeque, Jetro, Jó, Abimeleque, Balaão, Naamã, os marinheiros no navio de Jonas, Ciro e Nabucodonosor. Compare-se a descrição de João do Verbo pré-encarnado como a “verdadeira luz que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem” (Jo 1:9; cf v. 4) com a análise que ele faz do julgamento do pecador como sendo fuga da luz, enquanto “Quem pratica a verdade aproxima-se da luz” (3:19-21). Aceito tranquilamente que Deus nos julgará — a todos nós — de acordo com o que temos feito com a luz que recebemos e que isto é absolutamente justo da parte de Deus.
No livro Christianity and World Religions (“O Cristianismo e as Religiões do Mundo” ), Sir. Norman Anderson declara como a questão se relaciona com os adoradores não-cristãos, nestes termos: “Não poderia ser verdade a respeito do seguidor de alguma outra religião que o Deus de toda misericórdia operou em seu coração pelo Espírito Santo, levando-o, de alguma forma, a perceber seu pecado, sua necessidade de perdão, e capacitando-o, nesse crepúsculo, a atirar-se à misericórdia de Deus?”.
Parece que a resposta é sim — pode ser verdade, como poderia ter sido verdade pelo menos a respeito de alguns indivíduos veterotestamentários. Se for verdade, tais adoradores aprenderão no céu que foram salvos pela morte de Cristo, e que seus corações foram renovados pelo Espírito Santo, e se unirão à gloriosa igreja em louvor sem fim à graça soberana de Deus. Os crentes desde o primeiro século têm alimentado esta esperança e talvez Sócrates e Platão estejam neste estado feliz, agora mesmo — quem poderá nos dizer?
Todavia, não temos base para esperar que Deus agirá dessa maneira em todos os casos em que o evangelho é desconhecido, ou não é entendido. Portanto, nossas obrigações missionárias não ficam diminuídas nem por um décimo de milímetro sequer, por abrigarmos esta possibilidade. Tampouco esta idéia fará com que a ameaça das forças anticristãs pareça menor.
Se formos sábios, não gastaremos muito tempo aconchegando esta idéia. Nossa tarefa, afinal, é disseminar o evangelho, e não ficar imaginando o que pode acontecer às pessoas a quem ele não é pregado. Como lidar com tais pessoas é assunto pertinente a Deus: ele é justo e também misericordioso, e, quando soubermos, como de fato um dia saberemos, qual foi a forma por que ele tratou esses pagãos, não teremos razões para queixas. Enquanto estivermos aqui, mantenhamos diante de nós a universal necessidade de perdão e de novo nascimento que caracteriza a humanidade, tanto quanto a graça do convite evangélico que abrange “todo aquele que nele crê”. Redobremos nossos esforços para tornar conhecido o Cristo que salva verdadeiramente a todos quantos vêm a ele, mediante a graça divina.
Fonte: J.I. Packer em: Quebra – Cabeça: Perguntas Difíceis Que os Cristãos Fazem. – David Neff
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