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1 Tm.1.1 - O significado de Apóstolo

v1. Como era costume, o remetente menciona primeiro seu nome; em seguida, o nome do destinatário. Daí, Paulo... a Timóteo. Em um mundo politicamente unificado por Roma e culturalmente por Grécia, era natural que o escritor usasse seu nome greco-romano, Paulo, em vez de seu nome judaico, Saião, (Para mais detalhes sobre o significa­do e uso desses nomes, ver C.N.T. sobre 1 Tessalonicenses 1.1.)
Talvez com o fim de facilitar para Timóteo a execução das instru­ções que Paulo está para ministrar-lhe, e também com o fim de acres­centar peso às palavras de incentivo contidas nesta carta, o escritor acrescenta a seu nome as palavras um apóstolo de Cristo Jesus.
Timóteo necessita saber que esta carta não é apenas um substituto de um bate-papo amigavelmente confidencial, ainda quando sua tona­lidade é naturalmente muito cordial, porquanto é um amigo que real­mente está escrevendo a um amigo. A carta, contudo, se ergue acima do nível puramente humano. O escritor, por certo, é um amigo, mas também um apóstolo de Cristo Jesus.
Ora, no sentido mais amplo, apóstolo (άπόστολος, palavra derivada de um verbo que significa enviar, enviar com uma comissão, despa­char: άποστέλλω) é algo que se envia ou pelo qual se envia uma coisa, ou alguém que é enviado ou por meio de quem se envia uma mensa­gem. Assim temos que, no grego clássico, a palavra podia referir-se a uma expedição naval, e uma "nave apostólica" era um barco de carga. No judaísmo posterior, "apóstolos" eram pessoas enviadas pelo patriarcado de Jerusalém para recolher tributos dos judeus da dispersão. No Novo Testamento, a palavra toma um sentido claramente religioso. Em seu sentido mais amplo, refere-se a todo mensageiro do evangelho, toda pessoa que é enviada em missão espiritual, quem quer que nessa qualidade represente a quem o enviou e leva a mensagem de salvação. O termo usado assim, Barnabé, Epafrodito, Apoio, Silvano e Timóteo são chamados "apóstolos" (At 14.14; 1Co 4.6, 9; Fp 2.25; 1Ts 2.6; cf. 1.1; e ver também 1Co 15.7). Representam a causa de Deus, ainda que ao fazê-lo também pode representar certas igrejas em particular das quais são chamados "apóstolos" (cf. 2Co 8.23). Assim Paulo e Barna­bé representam a igreja de Antioquia (At 13.1, 2), e Epafrodito é o "apóstolo" de Filipos (Fp 2.25). Sob essa conotação mais ampla, al­guns incluiriam também Andrônico, Júnias (Rm 16.7) e Tiago, irmão do Senhor (Gl 1.19), porém o sentido exato das passagens nas quais se mencionam esses nomes junto com a palavra "apóstolos" é algo que está em discussão.
Mas, para determinar o sentido da palavra "apóstolo" em 1 Timó­teo 1.1, será melhor estudar as passagens nas quais é usada no sentido mais geralmente conhecido. Ela aparece dez vezes nos Evangelhos, quase trinta vezes em Atos e mais de trinta vezes nas epístolas paulinas (inclusive as cinco vezes que aparece nas pastorais) e oito vezes no restante do Novo Testamento, e geralmente (note, porém, a importante exceção de Hebreus 3.1 e as exceções já assinaladas) se refere aos doze e a Paulo.
Nesse sentido mais pleno, mais profundo, um homem é apóstolo para a vida inteira aonde quer que vá. Ele está revestido com a autori­dade daquele que o enviou, e essa autoridade tem que ver com a dou­trina e a vida. A idéia, que se encontra em muita literatura religiosa da atualidade, segundo a qual um apóstolo não tem um ofício real, nem autoridade, carece de endosso bíblico. Todos podem ver isso por si mesmos ao estudar passagens como Mateus 16.19; 18.18; 28.18, 19 (note a ligação!); João 20.23; 1 Coríntios 5.3-5; 2 Coríntios 10.8; 1 Tessalonicenses 2.6.
E assim Paulo era apóstolo no sentido mais rico do termo. Seu apostolado era o mesmo dos Doze. Por isso é que falamos de "os Doze e Paulo". Paulo ainda enfatiza o fato de que o Salvador ressurreto se lhe manifestou tão verdadeiramente como se havia manifestado a Cefas (1Co 15.5, 8). Esse mesmo Salvador o designara para uma tarefa tão extensa e universal que doravante ele iria se ocupar dela a sua vida inteira (At 26.16-18).
Não obstante, Paulo não era, definitivamente, um dos Doze. A idéia de que os discípulos haviam cometido um equívoco ao eleger Matias para ocupar a vacância deixada por Judas, e que o Espírito Santo de­pois designou a Paulo como o verdadeiro substituto, dificilmente me­rece consideração (ver At 1.24). Se ele, porém, não era um dos Doze, e foi investido com o mesmo ofício, qual era a relação entre ele e os Doze? Provavelmente, a resposta é aquela sugerida por Atos 1.8 e Gála­tas 2.7-9. Com base nessas passagens, a resposta pode ser formulada assim: Os Doze, ao reconhecerem que Paulo fora chamado especial­mente para ministrar aos gentios, de fato estavam ministrando por in­termédio dele sua vocação para os gentios.
As características de todo o apostolado, as dos Doze e as de Paulo, eram as seguintes:
Em primeiro lugar, os apóstolos foram escolhidos, chamados e en­viados por Cristo pessoalmente. Receberam a comissão diretamente dele (Jo 6.70; 13.18; 15.16, 19; Gl 1.6).
Em segundo lugar, Jesus, pessoalmente, os preparou para sua tare­fa, tendo sido testemunhas presentes de suas palavras e seus feitos; especificamente são testemunhas de sua ressurreição (At 1.8, 22; 1Co 9.1; 15.8; Gl 1.12; Ef 3.2-8; 1Jo 1.1-3).
Em terceiro lugar, foram dotados com o Espírito Santo numa medi­da especial, e é este Espírito Santo quem os guia a toda a verdade (Mt 10.20; Jo 14.26; 15.26; 16.7-14; 20.22; 1Co 2.10-13; 7.40; 1Ts 4.8).
Em quarto lugar, Deus abençoa a obra deles, confirmando sua vali­dade por meio de sinais e milagres, e dando-lhes muito fruto por meio de seu trabalho (Mt 10.1, 8; At 2.43; 3.2; 5.12-16; Rm 15.18, 19; 2Co 12.12; 1Co 9.2; Gl 2.8).
Em quinto lugar, o ofício não é restrito a uma igreja local nem se estende sobre um breve período; ao contrário, é para toda a igreja e vitalício (At 26.16-18; 2Tm 4.7, 8).
Fonte: William Hendriksen - As Pastorais

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