APÓSTOLO. Esta palavra significa mais do que "mensageiro": a sua significação literal é a de "enviado", dando a idéia de ser representada a pessoa que manda. O apóstolo é um enviado, um delegado, um embaixador.
I. Nos Evangelhos. S. Lucas diz-nos que o nome apóstolos foi dado aos doze por Jesus Cristo (6.13), e em mais quatro passagens o emprega a respeito dos discípulos (9.10, 17.5, 22.14, 24.10). Era cada um dos outros Evangelhos o termo ocorre uma só vez (Mt 10.2; Mc 6.30; Jo 13.16). Nos Atos e Epístolas, especialmente nos escritos de S. Paulo, é freqüente. A razão é clara: Jesus chamou alguns "discípulos" para, de perto, viverem com Ele e irem aprendendo a Palavra do Evangelho, mas sempre com o fim de enviá-los por toda parte como Seus representantes. Daqui se depreende que as idéias essenciais do apostolado devem ser compreendidas em todas as relações do Mestre com os doze, embora o nome pertença propriamente aos casos em que o discípulo vai numa missão a qualquer ponto, quer para tratar de serviços temporais durante a vida de Cristo, quer para sustentar a obra evangélica depois da Sua morte. A idéia vem expressa com verdadeiro conhecimento e precisão de frase em S. Marcos, quando ali se diz que "chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele. Então designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar" (Mc 3.13, 14). Na significação do verbo enviar está incluída a de apóstolo (grego apostello).
O estudo primário da significação de "apóstolo", com base nos Evangelhos, deve efetuar-se em volta destes três pontos: chamada, educação, missão. Basta indicar aqui algumas das feições de cada especialidade, como se acha na simples e primitiva narração do Evangelho de S. Marcos.
(a) A Chamada. O primeiro ato do ministério público de Jesus Cristo é a chamada de Simão e André, Tiago e João, para a Sua companhia, a fim de fazer deles "pescadores de homens" (Mc 1.16 a 20). Uma estranha autoridade se nota na maneira de chamar, correspondendo-lhe uma resposta imediata: estas características aparecem na posterior chamada de Levi (2.14), e mesmo na nomeação dos doze (3.13 a 19). Não é o caso duma adesão gradual a qualquer doutrina nova, a algum novo Mestre: é o próprio Jesus que, para os fins da Sua missão, toma a iniciativa.
(b) A Educação. Na primeira parte do Evangelho são os discípulos testemunhas e companheiros de Jesus no Seu ministério público, mas ali se menciona uma direta instrução do seu Mestre (4.10 a 25,35 a 41; 6.7 a 11,31,47 a 52; 8.14 a 21). Todavia, a sua convivência com Jesus já habilitou Pedro, como que falando por todos, a fazer a grande confissão: "Tu és o Cristo" (8.29), confissão seguida da predição de Cristo, três vezes repetida, com respeito à Sua paixão (8.31, 9.31,10.33), proporcionando-lhes, entrementes, lições sobre renúncia, humildade, e serviço. O que se pode depreender do que se lê em S. Marcos é que desde o tempo do ministério da Galiléia, e depois de terem saído desta província, Jesus consagrou-Se cada vez mais à instrução e educação dos doze. Esta conclusão é sustentada, com muitos pormenores adicionais, por S. Mateus e S. Lucas, e confirmada pelo maravilhoso discurso de Jesus (Jo 13 a 17).
(c) A Missão. A missão temporária, de que se fala em Mc 6.7 a 13, ainda que, pelo que sabemos, não se acha repetida, pode ser considerada como típica. Insiste-se na simplicidade do abastecimento, como sendo de grande conveniência para concentração em trabalho urgente. Esta confiança é, também, acentuada no grande discurso que vem em Mt 10 (leia-se Lc 10.1 a 24 sobre a missão dos setenta). Os discípulos são revestidos de autoridade por Jesus, e na sua volta referem ao Mestre tudo o que tinham feito e ensinado.
II. Nos Atos e Epístolas. A suprema autoridade dos apóstolos, na Igreja Primitiva, acha-se indicada em At 1.1 a 11, e manifesta-se por todo o livro. Com a escolha de Matias para o lugar que Judas deixou pela sua traição, ficou completo o círculo dos doze. Este fato nos mostra que, para o apostolado, era essencialmente requerido que o eleito tivesse sido companheiro de Jesus desde o Seu batismo até à ascensão. Mas pelas exigências da Igreja, que tomou logo grande desenvolvimento, e pela livre concessão do Espírito Santo, deixaram de ter aquela estreiteza os limites do apostolado. Por ato da Igreja de Antioquia (At 13.1 a 3), Barnabé e Saulo foram constituídos apóstolos: é-lhes conferido esse título, em 14.4, 14. Paulo não somente reclama com firmeza aquela qualidade (Rm 1.1; 1 Co 1.1; 2 Co 1.1, etc; 1 Co 9.1; 2 Co 11.5; Gl 1.1, etc), mas associa com ele a Barnabé (Gl 2.9; 2 Co 9.5,6). E provável que Paulo queira, também, aplicar aquele termo a Tiago, o irmão do Senhor (1 Co 9.5; 15.7; Gl 1.19), a Silvano (1 Ts 2.6); e mesmo a cristãos tão pouco conhecidos na história como Andrônico e Júnias (Em 16.7). Mas esta extensão do círculo apostólico foi limitada por uma condição essencial: um apóstolo devia ter visto o Senhor (1 Co 9.1), para poder testemunhar logo o objeto da fé da Igreja, Cristo ressuscitado (1 Co 15.8). Além disto, devia haver nele uma clara consciência da chamada divina e sua nomeação (Rm 1.1; 1 Co 1.1, etc) e, servindo ao Senhor, os sinais dum apóstolo (2 Co 12.12; 1 Co 9.2), etc. É em virtude destas combinadas aptidões que os apóstolos se acham primeiramente na ordem dos dons, que Deus concedeu à Sua Igreja (1 Co 12.28; Ef 4.11). Eles conservavam-se numa relação espiritual com Jesus Cristo, que os fez depositários e autorizados pregadores da Sua Palavra (2 Pe 3.2, e repetidas vezes nos escritores da primitiva Igreja: cf. Ef 2.20 e Ap 21.14). Em conformidade com isto, a prova da apostolicidade foi mais tarde requerida nos escritos, que por fim fizeram parte do Cânon do Novo Testamento.
Fonte: Dicionário Bíblico Universal - Buckland
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