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DEUS LIDA COM NOSSOS INIMIGOS (AT 12:18-25)

"Mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males" (1 Pe 3:12).
   Se o relato tivesse terminado com a partida de Pedro, ficaríamos imaginando o que foi feito de Herodes e dos guardas. Não sabemos a que horas o anjo libertou Pedro, mas quando o grupo seguinte de soldados entrou na cela, qual não foi sua consternação ao descobrir que os guardas estavam lá, mas o prisioneiro havia desaparecido! Se a guarda recém-chegada teve de despertar os soldados da guarda anterior, certamente não o fez de modo gentil. Se a guarda anterior estava acordada e alerta, não deve ter sido fácil explicar a situação aos outros soldados. Como um prisioneiro acorrentado conseguiu escapar, quando havia quatro guardas na cela e as portas estavam trancadas?
    De acordo com a lei romana, se um guarda deixasse um prisioneiro escapar, deveria receber o mesmo castigo que o prisioneiro teria recebido, mesmo que fosse a pena de morte (ver At 16:27; 27:42). A lei não se aplicava com tanto rigor à jurisdição de Herodes e, portanto, não tinha a obrigação de mandar matar os guardas; mas, sendo quem ele era, mandou executá-los mesmo assim. Em vez de matar um homem para cair nas graças dos judeus, matou quatro na esperança de lhes agradar ainda mais. "O justo é libertado da angústia, e o perverso a recebe em seu lugar" (Pv 11 :8). Essa verdade é ilustrada pela morte de Herodes. Apesar de Deus nem sempre fazer justiça tão rapidamente, não há dúvida de que o Juiz de toda a Terra fará o que é certo (Gn 18:25; Ap 6:9-11).
   O povo de Tiro e Sidom, que dependia dos alimentos que adquiria dos judeus (ver Ed 3:7) havia, de algum modo, desagradado o rei Herodes e corria o risco de perder sua assistência. Como bons políticos, subornaram Blasto, encarregado da câmara (quarto de dormir) do rei e, portanto, um funcionário de confiança; este, por sua vez, convenceu o rei a se encontrar com a delegação estrangeira. Era uma oportunidade para o rei orgulhoso demonstrar sua autoridade e glória e para os delegados lhe agradarem com suas lisonjas.
   De acordo com o historiador judeu Josefo, a cena ocorreu durante uma festa em homenagem ao imperador Cláudio e, nessa ocasião, Herodes vestia um belíssimo traje de prata. Não sabemos o que o rei disse em seu discurso, mas sabemos que seu objetivo era impressionar o povo. E conseguiu! Falaram ao ego do rei e lhe disseram que ele era um deus, deixando-o absolutamente enlevado.
   No entanto, Herodes não deu glória a Deus, de modo que essa cena toda não passou de idolatria.
   "Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem" (Is 42:8; ver 48:11). Em vez de Pedro ser morto por Herodes, o rei é que foi morto pelo Deus de Pedro! Talvez o mesmo anjo que livrou Pedro também tenha ferido o rei. Herodes caiu enfermo, com uma doença que atacou seus intestinos e, segundo Josefo, morreu cinco dias depois, no ano de 44 d.c.
   Esse acontecimento é mais do que uma página da história antiga, pois tipifica o mundo e as pessoas de hoje. Os cidadãos de Tiro e Sidom só estavam preocupados em conseguir alimento suficiente para encher o estômago. Sem dúvida, o alimento é essencial à vida, mas há algo de errado quando estamos dispostos a pagar qualquer preço por ele. A delegação sabia que conseguiria o que desejava, se lisonjeasse o rei e o chamasse de deus.
   É impossível não ver no rei Herodes uma ilustração do futuro "homem da iniqüidade" que, um dia, governará sobre o mundo e perseguirá o povo de Deus (2 Ts 2; Ap 13). O "homem da iniqüidade" (ou Anticristo) afirmará ser um deus e exigirá que o mundo todo o adore. Mas Jesus Cristo voltará e julgará tanto esse homem quanto seus seguidores (Ap 19:11-21).
   O mundo ainda vive em função de aplausos e prazeres. O ser humano tornou-se seu deus (Rm 1:25). O mundo continua buscando apenas o físico e ignora o espiritual (ver 1 Io 2: 15-1 7). Vive pela força e pela lisonja, não pela fé e pela verdade e, um dia, o mundo será julgado.
   Hoje, assim como no Israel da Antiguidade, a Igreja sofre por causa de pessoas como Herodes, que usam sua autoridade para se opor à verdade. Desde o Faraó do Egito, o povo de Deus sofre sob o domínio de déspotas e de seus governos, e Deus sempre preservou seu testemunho no mundo. Nem sempre Deus julgou os governantes como fez com Herodes, mas sempre cuidou de seu povo e providenciou para que não sofressem nem morressem em vão. A liberdade de que desfrutamos hoje foi comprada pelos que abriram mão de ser livres.
    A Igreja primitiva não tinha qualquer influência política nem amigos em altos escalões para "mexer os pauzinhos" por eles. Em vez disso, se dirigiam ao trono mais elevado de todos, o trono da graça. Os primeiros cristãos eram um povo de oração, pois sabiam que Deus poderia resolver seus problemas. O trono glorioso de Deus era muito maior do que o trono de Herodes, e o exército celestial de Deus poderia derrotar os frágeis soldados de Herodes a qualquer momento! Não precisavam pagar subornos para conseguir que se fizesse justiça. Simplesmente levavam seu pleito à Suprema Corte e o entregavam ao Senhor!
   Qual foi o resultado de tudo isso? "A palavra do Senhor crescia e se multiplicava" (At 12:24). Trata-se de mais um dos resumos ou "relatórios de progresso" de Lucas, dos quais o primeiro se encontra em Atos 6:7 (ver 9:31; 16:5; 19:20; 28:31). Lucas está cumprindo o propósito de seu livro ao mostrar como, a partir de suas origens modestas em Jerusalém, a Igreja espalhou-se por todo o mundo romano. Que grande estímulo para nós hoje!
   No início de Atos 12, Herodes parecia no controle, e tudo indicava que a Igreja perdia a batalha. Mas, no final do capítulo, Herodes está morto, enquanto a Igreja está bem viva e crescendo rapidamente!
   Era uma Igreja que orava, por isso foi bem-sucedida.
  Quando estava em dificuldades, a missionária Isobel Kuhn orava: "Se este obstáculo vem de ti, Senhor, eu o aceito; mas, se vem de Satanás, eu o rejeito e também a todas as suas obras em nome do Calvário!" E Alan Redpath costuma dizer: "Vamos manter a cabeça erguida e os joelhos dobrados
  - a vitória está do nosso lado!"

Fonte: Comentário Bíblico expositivo N.T v.1 - Warren W. Wiersbe

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