Uma razão por que alguns cristãos permanecem desinteressados no estudo de profecia é que crêem que as passagens envolvidas são difíceis demais para interpretar. O simbolismo usado às vezes nestas passagens parece confundir, e a certeza do significado parece impossível. É uma atitude errada, porque Deus não teria incluído tanto na Sua Palavra sobre eventos futuros se a informação não fosse compreensível. Quando Cristo se despediu dos Seus discípulos, incluiu uma promessa específica sobre isto, dizendo, "Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade...e vos anunciará as coisas que hão de vir" (Jo 16:13). Cristo percebia claramente que as "coisas que hão de vir" profetizadas na Bíblia poderiam ser difíceis de reconhecer e entender, e Ele queria assegurar para os cristãos que também nesta área, Seu Espírito os guiaria. Isto significa que deve-se estudar a profecia com confiança, fazendo jus a esta promessa do Salvador. A medida que se estuda, ter-se-á grande auxílio ao observar algumas regras de interpretação.
1. Interpretar a passagem literalmente
Deve-se interpretar passagens proféticas literalmente, do mesmo modo que interpreta outras porções de Escritura. Deus não profetizou para esconder a Sua mensagem. Não pretendia que só certas pessoas, possuidores de alguma chave especial de interpretação, fossem capazes de entendê-la. Ele proclamou a verdade para que pudesse ser conhecida. Isto significa que passagens proféticas devem ser estudadas do mesmo modo que as outras porções, empregando princípios literais de bom senso na interpretação. Isto não quer dizer que linguagem figurativa não possa ser usada e reconhecida. Muitas passagens da Escritura usam metáforas. Estas avivam e ilustram a verdade apresentada. Mas são reconhecíveis sem dificuldade, tanto nas passagens proféticas quanto nas outras, e o contexto em si demonstra que são figurativas. A figura deveria ser compreendida simbolicamente, mas este simbolismo por sua vez, será de uma coisa literal.
Por exemplo, Isaías predisse que "do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes um renovo" (11:1). "Rebento" e "renovo" são expressões figurativas, mas a Pessoa que simbolizam é muito literal. A interpretação literal é que Cristo, como este "rebento" e "renovo", surgiria de um modo literal, histórico, e realizaria as coisas profetizadas no restante da passagem.
A escola de profecia amilenista nega este princípio de interpretação, sustentando o princípio de "espiritualização". Isto é, seguidores deste ponto de vista, embora usem o método literal para a interpretação de outras porções de Escritura, acreditam que as passagens proféticas devem ser compreendidas "espiritualmente". Isto quer dizer que tais passagens devem ser interpretadas como símbolos de verdades relacionadas à igreja. Por exemplo, a predição que Cristo reinará sobre Israel passa a significar que reinará sobre a Sua igreja. Portanto, qualquer passagem que fala deste reino de Cristo, devia ser interpretada para significar que Cristo não estabelecerá um reino terrestre sobre Israel na Palestina seguindo o padrão dos reis do Antigo Testamento, mas um reino espiritual nos corações daqueles que pertencem a Sua igreja. Parece justo dizer que a razão principal atrás desta espiritualização é que a interpretação literal destas porções parece absurda aos amilenistas. Cristo simplesmente não reinaria aqui na terra de uma maneira literal.
Em resposta a este tipo de pensamento, pode ser destacado que as profecias da primeira vinda de Cristo se cumpriram todas de modo histórico e literal. Algumas devem ter parecido absurdas na época, por exemplo, o nascimento virginal, os milagres, a crucificação, e a ressurreição. Mas a história provou que não foram dadas para ter significado simbólico. E, portanto, não existe nenhuma razão lógica para crer que as profecias acerca da Sua segunda vinda tenham cumprimento de forma diferente.
O erro de espiritualização profética pode ser demonstrado por estudar brevemente uma passagem particular. Em Lucas 1:31-33, o anjo Gabriel fala com Maria sobre o nascimento de Jesus. Ele diz que ela conceberá e dará a luz a um filho que se chamará Jesus, e que será chamado "Filho do Altíssimo"; depois acrescenta as palavras, "Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim".
A passagem inteira é uma, não dando nenhum indício de que uma parte devia ser interpretada de um modo literal e outra parte de forma figurada. Mas o amilenista aceita a primeira parte em referência ao nascimento de Cristo literalmente, e a segunda parte se referindo ao Seu reinado, espiritualmente.
2. Reconhecer a possibilidade de um intervalo de tempo
Algumas passagens proféticas misturam referências aos eventos futuros, separados por grandes espaços de tempo no seu cumprimento, de um modo que o intervalo entre eles não é reconhecido. Em tais porções, o escritor das Sagradas Escrituras, vendo de longe estes eventos, avistou-os como os picos de uma montanha, sem perceber que vales de tempo corriam entre eles. Isto é verdade especialmente falando dos eventos cercando o primeiro e segundo adventos de Cristo. Um exemplo claro se encontra em Isaías 61:1,2 que Cristo leu na sinagoga de Nazaré (Lc 4:16-21). A maior parte da passagem prediz aspectos do primeiro advento de Cristo, incluindo Ele ter sido ungido "para pregar boas-novas aos quebrantados,...a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos, e a por em liberdade os algemados; a apregoar o ano aceitável do Senhor". A última parte da passagem que é paralela gramaticamente à primeira parte, se refere ao segundo advento de Cristo: "E o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os que choram". Aqui, então, referências aos dois adventos que são separados por dois milênios de tempo, são incluídas na mesma passagem, e não há pista referente a um lapso de tempo. Jesus mesmo, ao ler a porção, evidenciou o intervalo quando incluiu na Sua leitura somente a parte referente à primeira vinda, acrescentando com significado especial as palavras, "Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir". Quando o intérprete chega a uma porção de características semelhantes, deve reconhecer o espaço de tempo envolvido. A comparação com outras passagens proféticas onde a distinção de tempo se identifica, especialmente nas revelações posteriores do Novo Testamento, providenciará a ajuda necessária.
3. Reconhecer a possibilidade de um cumprimento duplo
Não somente podem duas épocas proféticas ser tratadas numa passagem só, mas as mesmas palavras podem referir-se a mais de um tempo de cumprimento. Isto é, pode ter um cumprimento parcial anterior e um posterior cumprimento completo. Conhece-se este fato como a lei de referência dupla na profecia. Um bom exemplo pode ser tirado na predição de Isaías sobre um sinal a ser dado a Acaz. O sinal era necessário para assegurar a Acaz que Deus brevemente livraria Jerusalém de um cerco pelos reis de Israel e Síria. O profeta identificou o sinal como o nascimento de uma criança; antes que a criança conhecesse o bem e o mal, a libertação seria efetuada (Is 7:14-16). Esta profecia deve ter sido cumprida no tempo de Acaz para significar alguma coisa para ele. O cumprimento se identifica melhor com o nascimento do filho do próprio Isaías, Rápido-Despojo-Presa-Segura (Is 8:1-4). Isto não poderia ter sido o cumprimento completo porque a criança a nascer seria o filho de uma virgem, e o seu nome seria Emanuel. Este cumprimento completo veio somente com Cristo, como constata Mateus 1:22,23. O intérprete de profecia deve reconhecer a possibilidade de referências duplas semelhantes em outras passagens e discernir o seu significado do mesmo modo.
Fonte: Leon J. Wood - A Bíblia e os Eventos Futuros
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