Além da revelação por sonho, por visão e pela palavra, o Senhor, ativo nos eventos e por intermédio deles, também se revelou pelos sinais e obras. Deus, quando acabou o grande dilúvio, fez uma aliança com Noé que incluía a promessa de nunca mais destruir a terra com um dilúvio. A seguir, ele, como um lembrete para si mesmo — e, sem dúvida, para a humanidade — pôs um arco-íris no céu como "sinal da minha aliança com a terra" (Gn 9.13). Portanto, o arco-íris falava (e fala) de um aspecto do caráter de Deus, a saber, sua lealdade à aliança.
Os termos mais comumente empregados para falar dos sinais e maravilhas transmissores do Senhor são 'ôt e môpët, ambos encontrados com freqüência nos mesmos contextos e usados de forma intercambiável. Eles funcionam com mais freqüência para indicar a presença de Deus em algum lugar ou situação determinado ou para servir como eventos de pedidos que ainda estão no futuro. Nos dois casos, eles são reveladores, embora, é óbvio, não de forma inequívoca como a palavra profética. Por isso, muitos dos sinais são acompanhados de uma palavra de interpretação proferida pelo profeta ou outro porta-voz confiável.
Muitos desses sinais giravam em torno do evento do êxodo por causa da imensa relevância histórica e teológica desse período. Quando Moisés questionou se Deus o chamara para guiar o povo, o Senhor disse-lhe que, quando voltasse ao Sinai depois do êxodo, sua própria chegada constituiria um sinal do chamado divino dele (Êx 3.12). O ceticismo do povo de Israel em relação à presença de Deus, em especial com Moisés, seria amenizado por esses sinais, como a transformação de sua vara em serpente e a cura de sua mão leprosa (Êx 4.1 -8). Se esses sinais falhassem em convencê-los, talvez eles acreditassem quando a água se transformasse em sangue (v. 9).
O faraó também testemunharia sinais e maravilhas miraculosos designados a revelar o Deus de Israel e seu poder. Esses sinais e maravilhas foram inicialmente realizados apenas na presença dos israelitas, em parte, para convencê-los de que o Senhor estava com eles e também para persuadi-los de que os sinais seriam eficazes diante do faraó (Êx 4.17,21,28,30). No entanto, em relação a essa expectativa, eles se decepcionariam, vez após outra, com o endurecimento do coração do faraó diante da esmagadora evidência da presença de Deus (Êx 7.3; 8.19; 10.1,2; 11.9,10). Os israelitas também não eram muito mais sensíveis à revelação de Deus e de seus propósitos por meio dessas obras sobrenaturais. O Senhor pergunta a Moisés: "Até quando este povo me tratará com pouco caso? Até quando se recusará a crer em mim, apesar de todos os sinais que realizei entre eles?" (Nm 14.11; cf. v. 22).
Aquelas extraordinárias demonstrações em favor deles deveriam ter persuadido os israelitas de que Iavé é Deus (Dt 4.34; 6.22) e de que é capaz de os livrar de qualquer coisa que enfrentem no futuro (Dt 7.19; 11.2-9). Infelizmente, nem mesmo essas claras demonstrações foram capazes de penetrar no coração endurecido e na mente obscurecida deles (Dt 29.2-6).
O tributo essencial para o epitáfio de Moisés foi o de que ele "fez todos aqueles sinais e maravilhas que o SENHOR O tinha enviado para fazer no Egito, contra o faraó, contra todos os seus servos e contra toda a sua terra. Pois ninguém jamais mostrou tamanho poder como Moisés nem executou os feitos temíveis que Moisés realizou aos olhos de todo o Israel" (Dt 34.11,12). Josué, em seu discurso de despedida, relembrou essas séries de eventos, e sua audiência, atenta a eles, penhorou sua eterna lealdade ao Senhor, lealdade essa, todavia, questionada por um não-convencido Josué (Js 24.16-20). Muito depois, as obras do Senhor foram celebradas pelos poetas de Israel, mas muitas vezes com lembretes de que seus ancestrais não as haviam apreciado da forma adequada nem visto Deus nelas (Sl 78.40-56; cf. 105.27; 135.8-12). Eles, por sua vez, exortavam seus ouvintes a não esquecer esses sinais que testificavam o poder e a glória do Deus deles (Sl 105.5).
Os sinais ocorreram de vez em quando na história posterior de Israel a fim de atestar a presença de Deus e/ou de fornecer testemunho do que ele faria no futuro. Gideão pediu um sinal confirmando seu chamado para a liderança (Jz 6.17); Eli recebeu um sinal de que sua linha sacerdotal terminaria (1Sm 2.34); e para Saul foi prometido de que Deus, na verdade, chamara-o para ser rei de Israel e ele recebeu sinais dessa promessa (1Sm 10.7,9). Anos depois, um profeta anônimo fez seu caminho para o santuário ilícito instituído por Jeroboão I de Israel e declarou que, um dia, o rei Josias destruiria aquele lugar malévolo. O altar, como um sinal disso, fendeu-se, e as cinzas dele espalharam-se (lRs 13.1-5). No devido tempo, a profecia aconteceu de acordo com o sinal profético (2Rs 23.15,16).
Um dos sinais mais famosos foi o de Isaías de que o rei Ezequias contrairia uma doença da qual não se recuperaria (2Rs 20.1-11; cf. Is 38.1-8; 2Cr 32.24). O Senhor, movido pela oração de Ezequias, teve compaixão e prometeu-lhe mais quinze anos de vida. No entanto, Ezequias, encorajado por essa boa notícia também transmitida pelo profeta Isaías, pediu um sinal para ter certeza de que essa mensagem do profeta, na verdade, cumprir-se-ia. Deus, alterando todo o ritmo do universo, fez a sombra do sol retroceder dez degraus no relógio de sol de Acaz. Esse ato estupendo, embora não seja de forma alguma uma palavra de Deus como tal, confirmou a palavra do profeta e, assim, era tanto uma revelação em sua própria forma como o oráculo do profeta.
O mesmo profeta anunciou um sinal para o rebelde e relutante rei Acaz, confirmando o fato de que o Senhor enviaria um julgamento terrível sobre ele e a nação por meio dos assírios (Is 7.3-17). Esse sinal seria o nascimento de um menino gerado de uma jovem que, até esse momento, jamais concebera, e o nome do menino seria Emanuel (v. 14). Presumivelmente, a criança nasceu não muito tempo depois (Is 8.3,4), e os assírios, não muito tempo depois, vieram e destruíram Israel e Judá. O Novo Testamento elevou esse sinal a uma nova e mais gloriosa dimensão, entendendo na predição o nascimento virginal de Jesus Cristo (Mt 1.22,23).
Às vezes, os próprios profetas eram sinais, por meio de alguma obra que realizassem ou apenas pela presença deles mesmos. Isaías declarou que ele mesmo e seus filhos eram sinais (Is 8.18; cf. 20.1-5), e Ezequiel, em particular, é escolhido como tendo vida e trabalho que são metáforas que comunicam a revelação divina. Ele desenhou um mapa de Jerusalém e simulou o sítio da cidade, fornecendo, assim, um sinal da iminente destruição da cidade (Ez 4.1-3). A seguir, ele apareceu em público vestido como um prisioneiro de guerra como um pressagio do exílio, que já estava em andamento e se intensificaria (12.3-6). Por fim, o Senhor disse ao profeta, privado de sua amada esposa, para não chorar nem lamentar por ela, mas, antes, servir de exemplo da futilidade, na verdade, da inadequação do lamento nacional pela chegada da devastação da conquista babilônia (Ez 24.15-27). "E assim você será um sinal para eles", disse o Senhor, "e eles saberão que eu sou o SENHOR" (V. 27).
Sinais não-verbais como esse, embora sofram de falta de precisão e sejam passíveis de interpretação errônea sem uma palavra de esclarecimento, apesar disso, eram meios de revelação. Eles, como as palavras de Deus nas obras da criação e seus atos poderosos na história, certificavam quem ele é e ofereciam garantias do que faria no futuro.
Fonte: Eugene Merrill – Teologia do Antigo Testamento.
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