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Mt. 8:14-17 - JESUS CURA A SOGRA DE PEDRO

A localização deste terceiro relato de milagre é a casa de Pedro (Quando Jesus entrou na casa de Pedro). O nome Jesus relembra sua missão de salvar dos pecados (1.21), instaurada em parte com seus milagres (ver 4.23-24 sobre pecado e demônios como causas de pecado). Em 4.18-20, Pedro deixou sua atividade pesqueira para seguir Jesus. Apesar de parecer que ele abandonou tudo e todos (cf. 19.29), esta cena sugere um quadro mais complexo. Pedro tem uma casa, posses, e uma família. Sua mulher não é nomeada aqui, mas sim em I Cor 9.5; André é seu irmão (4,18-20). Seguir a Jesus não significa fugir da sociedade ou abandoná-la; é experimentado na vida quotidiana (ver cap. 19-20). A existência ambivalente do discipulado compreende o desapego da sociedade e a participação nela.  Coisas importantes acontecem em casas (ver 2.11; 5.15; 7.24-27; 8.6; 9.10,23-28; 10.12-14). Seguidores de Jesus em Antioquia se reúnem em casas. Estes relatos legitimam este lugar de reunião e criam expectativas de encontros similares com Jesus.
Jesus vê (como na chamada dos primeiros discípulos, 4.18,21) a sogra de Pedro deitada com febre (literalmente, abrasada). Ela não é nomeada, mas é apresentada em relação a seu genro. Sua febre sugere mais do que uma indisposição física. O nome cognato “febre” (cf. 8.15) denota em Dt 28.22 uma enfermidade com a qual Deus amaldiçoa pessoas (assim também Fílon, Sobre prêmios e castigos 143; Josefo, GJ 1.656; Ant 17.168 [Herodes]). Em T. Sal.7.5-7; 18.20,23, os demônios causam febre. Josefo atribui sua febre depois de cair de seu cavalo em batalha a um demônio (8a.í|iovoc , daimonos, em Vida 402-4). Ver 4.24. Nem pecado nem demônio são indicados aqui. Mas curar uma febre exprime a bênção e poder de Deus e antecipa a plenitude que estabelecerá o império de Deus (2 Br 73.1-2). E significativo que Jesus derrote a doença diante da qual, em uma tradição, sucumbiu o imperador Cláudio (Sêneca, Apoc6)? Que esta ação envolva uma mulher judia depois de uma cena envolvendo um homem pagão sugere que homem e mulher, judeu e pagão, participam dos propósitos de Deus.
Ela não fala. Ciente de sua necessidade, Jesus começa sua cura. Ele tocou sua mão (ver 8.3) e a febre a deixou. Sua cura pode ser também uma vitória sobre o pecado, visto que o verbo deixou é usado para perdão em 6.12,14-15 (também 9.2,5,6; 12.31-32; 18.21-35). Pode também sugerir um exorcismo, visto que em 4.11 o verbo é usado para o diabo depois que Jesus resiste a ele (cf. 12.28). Sua reação, ela se levantou, atesta o poder do reinado de Deus. O verbo está associado com ressurreição e nova vida (9.25; 16.21; 28.6).
Ela começou a servi-lo. O verbo servir denota uma vida que faz a vontade de Deus, quer por anjos (ver 4.11), por Jesus (20.28, que os seguidores devem imitar), quer pelas mulheres (27.55). Contrasta com uma vida de dominação pagã (cf. 20.25). Recuperada pela ação de Jesus, ela responde com serviço fiel. O pronome o mantém o foco em Jesus.

Fonte: Evangelho de São Mateus – Warren Carter.

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