Esse tema, como todos sabem, foi magistralmente tratado na obra Petrus — Jünger, Apostel, Martyrer: Das Historische und das Theologische Petrusproblem.O ensaio é dividido em duas partes. A primeira trata da questão histórica de Pedro como discípulo, apóstolo e mártir; a segunda examina as questões exegéticas e teológicas relacionadas com a história de Pedro.
A única fonte à disposição da Igreja para o conhecimento de Pedro são os Evangelhos; o material apócrifo não possui nenhum valor histórico para tal fim. O exame dos Evangelhos revela claramente que Pedro ocupa uma posição privilegiada entre os discípulos de Jesus. Devido a essa posição, ele se torna o chefe da missão cristã entre os judeus, enquanto Paulo assume a direção da missão entre os gentios. Cullmann considera que é errado argumentar que, pelo fato de terem havido divergências entre Pedro e Paulo quanto à prática cristã, suas teologias eram diferentes. Ao contrário, Pedro encontra-se mais próximo da posição de Paulo do que os outros apóstolos.
Dado que o Novo Testamento não fala do martírio de Pedro, é preciso recorrer a fontes extrabíblicas para ter conhecimento do fato. Num longo capítulo, Cullmann passa em revista todos os dados extrabíblicos, literários, litúrgicos e arqueológicos, concluindo que a Primeira Epístola de Clemente e a Epístola de Inácio de Antioquia aos Romanostornam muito provável a visita de Pedro a Roma e o seu martírio naquela cidade. Cullmann, porém, não se mostra disposto a dar crédito às conclusões sobre as escavações realizadas recentemente em Roma, segundo as quais a tumba do apóstolo se encontraria sob a basílica vaticana.
A segunda parte do livro aborda a questão teológica do primado de Pedro. Cullmann examina antes de mais nada o texto de Mateus 16.17ss. Como conclusão duma ampla e acurada investigação, afirma que a historicidade da confissão de Pedro não pode ser colocada em dúvida. E assim passa a precisar o seu significado. Segundo o teólogo, o texto significa que Jesus prometeu a Pedro que ele seria o fundamento do povo de Deus nesta terra e, através dele, do Reino de Deus. Pedro deveria assumir a direção da atividade apostólica e da organização do povo de Deus. Mas essa posição singular — segundo Cullmann — cessa com a morte de Pedro: “Aquilo que é dito de Pedro como Pedra refere-se apenas a ele, o apóstolo histórico”. Trata-se de uma promessa de primado no interior da Igreja primitiva, uma promessa única e que não pode ser repetida, para não ser transmitida a nenhum bispo. De resto, acrescenta o nosso estudioso, se tal primado tivesse sido hereditário, ele teria devido passar ao sucessor de Pedro em Jerusalém e não ao bispo de Roma, porque Pedro era chefe da Igreja de Jerusalém e não da de Roma.
Por isso, conclui Cullmann, as pretensões de primado da Igreja católica romana não encontram nenhuma justificação no Novo Testamento, mas se baseiam exclusivamente numa tradição particular.
Fonte:Os grandes teólogos do século vinte - Battista Mondin
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