Além de um grande número de afirmações sobre a identidade de Jesus, existem várias passagens importantes do Novo Testamento que falam da importância de Jesus sob aspectos funcionais, isto é, em termos que identificam Jesus como desempenhando certas funções ou tarefas relacionadas com Deus. Três grupos de textos são de particular importância, por identificarem a função de Jesus referindo-se claramente à sua identidade.
1. Jesus é o salvador da humanidade. O Antigo Testamento afirma que existe um único salvador da humanidade: Deus. Apesar do pleno conhecimento de que só Deus é o salvador e de que só Deus pode salvar, os cristãos primitivos afirmavam que Jesus era o Salvador. Como Atanásio de Alexandria (entre aproximadamente 296 e 373) afirmava, nenhuma criatura, por maior que fosse, poderia chegar a esse ponto. Se Jesus Cristo trouxe a salvação à humanidade, como se declara no Credo, então ele deve ser Deus. Se Jesus Cristo é alguma outra coisa, mas não Deus, ou seja, se Jesus Cristo é uma criatura, então toda "salvação" que ele traz não é a mesma que é oferecida por Deus.
O peixe veio a tornar-se símbolo da fé dos primeiros cristãos, porque as cinco letras que formam a palavra "peixe" na língua grega (I-CH-TH-U-S) são as cinco letras que formam a expressão "Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador". Para o Novo Testamento, Jesus salva seu povo dos seus pecados (Mt 1.21); só em seu nome é que se encontra a salvação (At 4.12), ele é o que "comanda a salvação" (Hb 2.10), ele é o "Salvador, que é Cristo, o Senhor" (Lc 2.11). Nessas afirmações, como em muitas outras, entende-se que Jesus age como Deus, fazendo algo que, falando propriamente, só Deus pode fazer.
2. Jesus é adorado. No contexto judaico em que os primeiros cristãos agiam, era Deus e somente Deus que podia ser adorado. Paulo advertia os cristãos de Roma que havia um perigo constante de que as pessoas adorassem criaturas, quando deveriam adorar só o seu criador (Rm 1.23). No entanto, a Igreja cristã primitiva adorava Cristo como Deus, uma prática que se reflete claramente no Novo Testamento. Assim, o texto de 1 Coríntios 1.2 fala dos cristãos como aqueles que "invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo", usando uma linguagem que reflete as fórmulas do Antigo Testamento referentes ao culto ou à adoração de Deus, como em Gênesis 4.26 e 13.4, no Salmo 105.1, em Jeremias 10.25 e em Joel 2.32. Entende-se dessa maneira com toda a clareza que Jesus agia como Deus, sendo objeto de adoração.
3. Jesus revela Deus. "Todo aquele que me vê, vê o Pai" (Jo 14.9). Essas palavras notáveis, tão características do evangelho de João, afirmam a crença de que o Pai fala e age no Filho, em outras palavras, essa passagem afirma que Deus é revelado em Jesus e por Jesus. Ver Jesus é ver o Pai, em outras palavras, entende-se que Jesus age como Deus.
Esses três grupos de textos evangélicos mostram claramente a compreensão de Jesus que transcende a categoria da pura humanidade. Apesar disso, nem os autores do Novo Testamento nem a teologia cristã entendem que tal afirmação negue a Jesus a condição de ser humano. Diante de qualquer passagem bíblica que afirma explicitamente que Jesus era mais que um simples ser humano, outras passagens podem ser apresentadas afirmando que ele era realmente um verdadeiro ser humano. Jesus chorava, sofria, se cansava e sentia emoções humanas. Uma das tarefas perenes da teologia cristã tem sido a explicação da relação entre os elementos humano e divino na pessoa de Jesus Cristo.
Em primeiro lugar, Jesus era um verdadeiro ser humano. Ele era uma pessoa que sofria dor, que sabia o que é ter fome e ter sede. No entanto, esta idéia, por si só, não é suficiente para justificar o retrato bíblico de Jesus. Precisamos buscar o motivo em uma segunda conclusão. Em segundo lugar, o Novo Testamento insiste que Jesus era muito mais que um ser humano. Sem negar absolutamente a verdadeira humanidade de Jesus, o Novo Testamento declara que ele é "Filho de Deus", "Senhor" etc. O Novo Testamento aplica a Jesus palavras reservadas a Deus e atribui a ele ações que são atribuídas somente a Deus.
Fonte:Teologia, Os Fundamentos - Alister E. McGrath.
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