Quanto ao décimo, assim se procede: parece que Deus não tem livre-arbítrio.
1. Com efeito, Jerônimo nos diz: “Somente em Deus o pecado não se encontra e nem pode se encontrar; os outros, porque têm livre-arbítrio, podem inclinar-se para o bem ou para o mal”.
2. Além disso, o livre-arbítrio é uma faculdade da razão e da vontade, pela qual se elege o bem ou o mal. Ora, como se disse, Deus não quer o mal. Logo, não tem livre-arbítrio.
Em sentido contrário, Ambrósio escreve: “O Espírito Santo atribui a cada um seus dons como quer, isto é, segundo o arbítrio de sua livre vontade, não sujeito à necessidade”.
Respondo.Temos livre-arbítrio com relação às coisas que não queremos por necessidade ou por instinto de natureza. Pois não pertence ao livre- arbítrio, mas ao instinto natural, que queiramos ser felizes. Eis por que não se diz dos outros animais, movidos para qualquer objeto por instinto natural, que se movem por livre-arbítrio. Como Deus quer por necessidade sua própria bondade, porém não as outras coisas, como já se demonstrou, Ele possui livre-arbítrio a respeito de tudo aquilo que não quer por necessidade.
Quanto ao 1º, portanto, deve-se dizer que Jerônimo parece excluir de Deus o livre-arbítrio, não absolutamente, mas apenas quanto a cair no pecado.
Quanto ao 2º, deve-se dizer que como o mal de culpa consiste na rejeição da vontade divina, segundo a qual Deus quer tudo o que quer, como já se demonstrou acima, é manifestamente impossível que Deus queira o mal de culpa. Entretanto, é livre quanto ao contrário, podendo querer que isto seja ou não seja. Como nós mesmos, sem pecar, podemos querer assentar-nos, ou não querê-lo.
Fonte: Suma Teológica volume 1 – Tomás de Aquino
Nenhum comentário:
Postar um comentário