Vimos que os fatos respeitantes a Cristo tal como estão nos Evangelhos são altamente significativos. Estes fatos, depois de muita controvérsia, foram agrupados finalmente pela Igreja numa declaração aceita e autorizada. O exame histórico, ainda que breve, dos diferentes erros que surgiram na Cristologia de vez em quando, e a maneira como a Igreja venceu a todos eles, é essencial para a compreensão clara deste assunto.
1. O Ebionismo. Um dos primeiros erros referentes à natureza de Cristo que apareceu na Igreja Primitiva foi o dos ebionitas. Esta seita judaica dentro da Igreja não podia reconciliar a divindade de Cristo com um monoteísmo estrito e, por isso, negava-a. Dizia que no batismo Cristo recebeu incomensurável plenitude do Espírito que O constituia o Messias.
2. O Docetismo. Os docetistas derivam o nome da palavra grega que significa “parecer” ou “aparecer”. Estavam intimamente relacionados com os gnósticos e, daí, afirmavam que o corpo de Cristo era mera aparência ou fantasma. Somente pela redução da vida terrena de Cristo à Condição de prolongada teofania, podiam explicar a unidade da divindade e da humanidade em Jesus Cristo. O Ebionismo era consequência da influência judaica, o Docetismo era produto da filosofia pagã.
3. O Sabelianismo.Este erro é uma forma de monarquianismo e pertence, mais especificamente, às controvérsias trinitárias. Não obstante, uma vez que afeta também a Cristologia, devemos estudá-lo aqui, mesmo que seja sumariamente. Sabélio ensinou que havia somente um Deus que Se manifestou primeiro como Pai, depois como Filho e finalmente como Espírito Santo. Verifica-se claramente que não temos aqui uma trindade real - mas somente umatrindade de manifestações. Na sua base é panteísta porque ensina que o mesmo Deus evoluiu em diferentes formas ou manifestações. A Igreja condena esta teologia como herética.
4. O Arianismo. Como a anterior, esta heresia atinge mais a doutrina da Trindade. Ario era um presbítero de Alexandria no século IV e ensinava que Cristo era a encarnação do Logos ou Verbo preexistente, mas que este Verbo era uma criatura intermediária—a mais elevada de todas mas externa à divindade. Esta formulação foi a precursora do Socinianismo primitivo e do Unitarianismo mais moderno.
5. OApolinarianismo. Apolinário, bispo de Laodicéia no século IV, parece ter ensinado que a natureza humana de Cristo era incompleta. Sustentando uma divisão tricotômica da natureza humana em corpo, alma e espírito, atribuía a Cristo corpo humano e alma animal de caráter inferior e não espírito humano ou alma racional. Dizia que esta última foi substituída pelo Logos ou Verbo divino, formando assim um ser divino-humano. Na divisão dicotômica da natureza humana em corpo e alma, isto era equivalente a ensinar que Cristo não tinha alma humana.
6. O Nestorianismo.Nestório, bispo de Constantinopla no IV século, ensinou o extremo oposto, afirmando que em Cristo havia duas pessoas, uma humana e outra divina, destruindo assim a unidade e a unicidade da pessoa de Cristo.
7. O Eutiquianismo. Eutíquio, abade em Constantinopla no século V, caiu num erro semelhante ao de Apolinário. Sustentou que a natureza humana de Cristo foi convertida na natureza divina por absorção de maneira que, depois da união, havia uma só natureza. Por isso os que aceitaram as teorias de Eutíquio foram conhecidos mais tarde com o nome de monofisitas porque reduziram a uma só as duas naturezas.
8. O Monofísitismo e o Monotelismo. Embora o Concílio de Calcedônia (451 a.D.) tivesse terminado com as discussões cristológicas no Ocidente, continuavam as controvérsias todavia na Igreja Oriental. O monofisitismo, ou seja a doutrina de uma natureza, e o monotelismo, ou o ensino de uma só vontade em Cristo, outra coisa não foram que o desenvolvimento do Eutiquianismo. Ambas as posições eram errôneas porque não faziam justiça à natureza humana completa de Cristo.
9. O Adopcionismo. Este erro surgiu na Espanha na última parte do século VIII, sendo semelhante ao nestorianismo antigo. Cristo foi considerado como um homem comum cuja humanidade foi adotada pela divindade mediante um processo gradual. Portanto, negava a encarnação real.
10. O Socinianismo. Lélio Socínio e Fausto Socínio, tio e sobrinho respectivamente, ensinaram uma forma de unitarismo estreitamente relacionado com o arianismo primitivo. Cristo foi considerado como um homem comum, embora de nascimento milagroso, a quem Deus deu revelações extraordinárias e elevou aos céus depois da morte. Foi, portanto, um simples homem divinizado. O erro aqui consiste na negação da divindade de Cristo e, portanto, destroi efetivamente o fundamento da expiação.
Fonte:Introdução À Teologia Cristã - Henry Orton Wiley / Paul T Culbertson.
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