Todas as igrejas da Reforma deram atenção especial aos pais primitivos, não como autoridade par a par com as Escrituras, mas, sim, como intérpretes piedosos da fé apostólica, em uma Igreja ainda unida e basicamente não corrupta. A “queda” da Igreja no erro e na superstição medieval foi frequentemente datada pelos reformadores em c. 600. Os anabatistas a colocaram no tempo de Constantino e chegaram a desconsiderar os concílios e credos, recorrendo até mesmo aos pais pré-nicenos contra o dogma patrístico posterior. A tradição anglicana, por sua vez, evidenciou sempre uma consideração altamente particular aos pais. Os pais foram fecundos na maioria dos campos da: teologia apologética (e.g., Justino, Tertuliano, Orígenes, Agostinho); teologia moral (e.g., Clemente de Alexandria, Ambrósio, Gregório, o Grande); teologia bíblica (especialmente Ireneu); teologia dogmática (e.g., Atanásio, pais capadócios, Agostinho, Cirilo de Alexandria); teologia mística (e.g., Gregório de Nissa, Pseudo-Dionísio); teologia ascética (e.g., os alexandrinos, Cassiano, Evagrius Ponticus, Basílio); teologia sacramental (e.g., Cipriano, Agostinho); teologia litúrgica (e.g., Cirilo de Jerusalém); e teologia filosófica (e.g., Agostinho). Sua principal contribuição diz respeito à elucidação da Trindade, à cristologia e às doutrinas da Igreja e dos sacramentos, do pecado e da graça. Sobre essa parte de sua obra, manifestou-se claro consenso, no Ocidente ou no Oriente, quando não na totalidade da Igreja, e dela a teologia da Reforma lançou mão sem muita hesitação. Todavia, não foi alcançado consenso quanto ao pensamento patrístico a respeito de expiação, antropologia, escatologia, obra do Espírito Santo e outros tópicos.
Os aspectos distintivos da teologia patrística podem ser definidos de modo geral como se segue:
Os aspectos distintivos da teologia patrística podem ser definidos de modo geral como se segue:
1. Era teologia da Igreja. Os teólogos da patrística eram indubitavelmente homens da Igreja (nem Orígenes e Tertuliano são exceções) e mestres da Igreja. Muitos deles eram bispos (um significado comum de “pai”). Considere-se que não existiam ainda cursos ou seminários teológicos. No cânon de Vincent, a verdade e a Igreja se pertenciam conjuntamente, assim como o erro e o cisma. O catecumenato era importante no ensino doutrinário sistemático. A teologia patrística foi, então, um empreendimento corporativo.
2. Baseava-se na exegese espiritual das Escrituras. Sermões e comentários constituíam meios importantes do ensino patrístico. Convencidos da inspiração total das Escrituras, mas carentes da perspectiva histórica, os pais logo lançaram mão das formas de exegese espiritual, especialmente alegorias e vasta tipologia, particularmente ao lidar com o Antigo Testamento. Somente a Escola de Antioquia seguiu uma abordagem mais gramático-histórica.
3. Era moldada por adoração e piedade. Os pais se baseavam na lex suppliandi ou orandi(“lei da oração”) para estabelecer a lex credendi(“lei da crença”). Agostinho argumentou a partir da prática do batismo infantil quanto à doutrina do pecado original. Basílio discutiu a importância dogmática das diferentes doxologias; e outros (e.g., nas controvérsias pelagianas) discutiram as implicações doutrinárias da oração. A devoção a Cristo como theotokos (“portador de Deus”) foi um ponto de partida para as discussões cristológicas.
4. Era uma tradição em desenvolvimento. Os pais construíam sobre os fundamentos de seus predecessores. Daí ser difícil, por exemplo, negligenciar o não reconhecimento por Cipriano do batismo cismático. A explanação dos teólogos ortodoxos foi considerada como meramente o que os apóstolos haviam ensinado de maneira sucinta, mas os hereges é que haviam produzido a novidade. Já a teologia antipelagiana de Agostinho, por sua vez, provavelmente não satisfazia o critério de antiguidade de Vincent, mas o que ele tinha em vista era refutar o uso de Pelágio pelos mestres mais antigos.
5. Era intensamente sobrenatural. A maioria dos grandes pais esposou ideais ascéticos. As influências platônicas comunicaram forte tendência espiritual a muito de sua teologia. Os valores que essa teologia mais caracteristicamente afirmava pertenciam ao mundo interior do espírito ou à esfera transcendente do céu.
6. Interagia com a filosofia secular. A partir dos apologistas do século II, os pais da Igreja fizeram da filosofia a serva da teologia. Difundiu-se a influência do platonismo e do estoicismo ecléticos, em particular. Os pais se engajaram de modo crítico no pensamento secular, dirigindo-se de forma inteligível à mentalidade pagã. Hoje, no entanto, considera-se que frequentemente deixaram de distinguir entre a teologia filosófica grega e as crenças judaico-cristãs.
Fonte: Novo Dicionário de Teologia - David Wright · Sinclair B. Ferguson e J.I Packer.
Fonte: Novo Dicionário de Teologia - David Wright · Sinclair B. Ferguson e J.I Packer.
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