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Montano e o Montanismo.

O montanismo é um movimento profético nascido na Ásia menor por volta de 170. Montano, o iniciador, assistido por duas profetisas, prega a volta próxima de Cristo para um reinado terrestre de mil anos e, em consequência, o desprezo das realidades terrenas, a ruptura com a sociedade; exalta unilateralmente o celibato e incita ao martírio. Os montanistas acusam a Igreja institucional de suavizar o Evangelho, de pactuar com o mundo; se apresentam como os únicos possuidores do Espírito profético. As comunidades montanistas distinguem-se pelo papel preponderante nelas representado pelos “espirituais”, homens e mulheres, e também por fenômenos diversos de exaltação religiosa; são animadas pela convicção de constituir a elite espiritual da Igreja, de estar sob a monção direta do Espírito, que renova nelas o fervor e os dons da Igreja primitiva.
Com o tempo, esse movimento que se pode qualificar de “renovação”, prelúdio de grande número de movimentos análogos ao longo da história, vai reforçar seu rigorismo moral, chegando aos limites do encratismo, como em Tertuliano. Embora não exclua necessariamente os ministérios ordenados, ele se encontrará progressivamente em conflito com o episcopado, cuja autoridade e poderes sacramentais ele contesta. Os bispos, por sua vez, fazem campanha contra o movimento, já no fim do século II: é o momento das primeiras reuniões de bispos na Ásia menor. Inicia-se um debate simultâneo sobre os sinais da verdadeira profecia e o discernimento dos dons do Espírito: infelizmente, uma literatura desaparecida. Por fim, os montanistas serão excomungados; a Igreja de Roma toma posição nesse sentido, no tempo de Tertuliano, e para seu grande escândalo.
Aqui está uma das declarações “montanistas” de Tertuliano:
“A Igreja é propriamente e sobretudo o Espírito mesmo, em quem reside a trindade da única divindade, Pai, Filho e Espírito Santo. É ele que reúne essa Igreja que o Senhor estabeleceu nos três. Por isso, desde então, todo grupo de pessoas reunidas nessa fé constitui uma Igreja para o Autor e Consagrador. E assim, é verdade que a Igreja perdoa os pecados, mas é a Igreja do Espírito, por meio de um homem espiritual, e não a Igreja assembléia de bispos”.
                                                                                        (Sobre a castidade, XXI, 17.)

Fonte: Os Padres da Igrejas V.1 - Jacques Liébaert.

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