Muitas pessoas têm a impressão de que orar é, simplesmente, outra coisa que fazemos em conjunto com todas as outras atividades que abraçamos em nossa vida. Esta forma de pensar, que vê a oração como um interesse ou dever, pode nos levar a ler sobre oração exatamente da mesma forma que lemos um livro ou um manual de instruções, que ensina como esquiar ou iniciar uma coleção de selos.
Pode ser muito fácil fascinar-se por técnicas elaboradas de respiração ou posturas de meditação que outras correntes religiosas têm desenvolvido. Podemos começar a orar apenas porque isso nos faz sentir bem, ou meditar porque faz parte de um estilo de vida mais saudável. A oração passa a ser um instrumento para o nosso bem-estar, e quando isso acontece, ela torna-se um fim em si mesma. Na verdade, torna-se um fim inútil. Inebriados por tais técnicas, esquecemo-nos para quem estamos orando, perdendo de vista o relacionamento que desejamos manter com Deus.
Uma variação deste tema é enxergar a oração como algo que realizamos para Deus. Assim como soldados batem continência aos seus oficiais superiores, a oração pode ser uma respeitosa continência ao Todo-Poderoso. A oração pode transformar-se em uma linha direta, como o telefone que conecta a Casa Branca diretamente ao Kremlin. Talvez esta seja a visão mais comum que as pessoas têm do ato de orar, como um número de emergência para o qual devemos ligar quando tudo o mais já fracassou. Nós “fazemos” a oração após tentarmos tudo o que era humanamente possível realizar.
Entretanto, a ideia da oração como uma técnica que executamos cai por terra quando olhamos a oração na Bíblia. Numa das parábolas de Jesus, dois homens dirigiam-se ao templo para orar. Um deles, um fariseu, era bem-versado na linguagem e no ritual religioso, porém seu coração estava distante de Deus. O outro homem, um desprezado publicano, que não possuía qualquer sofisticação religiosa, mas que realmente possuía uma forte consciência de sua própria culpa diante de Deus. Ele apenas consegue murmurar: “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador.” A esse respeito, Jesus afirmou: “Eu lhes digo que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus” (Lucas 18.14). Claramente, a oração é mais uma postura e atitude perante Deus do que uma forma correta de fazer ou dizer as coisas.
A fé que depende do que fazemos se esquece de suas raízes. No verdadeiro coração da fé cristã Deus é quem toma a iniciativa para nos mostrar sua misericórdia e salvação. Este relacionamento com Deus não depende de nossas boas obras, mas da sua misericórdia para conosco. Assim, a oração jamais pode ser forçada a funcionar automaticamente por meio de apertar botões certos e seguir as técnicas corretas. Nenhum relacionamento humano funciona a este nível, tampouco nossa relação com Deus.
Quando a oração é vista apenas como mais uma técnica para uma vida atribulada, ela jamais funcionará. Todas as outras soluções técnicas para os problemas do dia a dia contribuirão, eventualmente, para aniquilar esta oração meramente técnica. Nos tempos em que a mortalidade infantil era extremamente elevada, as mães costumavam orar em desespero para que seus filhos sobrevivessem à infância. No Ocidente, as técnicas da medicina moderna já colocaram um ponto final em tais orações. Hoje, muitas pessoas oram sobre o problema do câncer, porém nutrimos a esperança de que novos avanços da medicina obterão a cura no futuro. Este aniquilamento da oração pelas técnicas modernas mostra que a verdadeira oração é muito mais que simplesmente orar por ou sobre coisas que desejaríamos ver acontecerem.
No Antigo Testamento, um dos salmos diz: “Das profundezas clamo a ti, SENHOR”(130.1). No mundo moderno, nossas profundezas podem parecer menos insondáveis do que as vividas pelo salmista. Se dispomos de milhares de formas para lidar com as nossas “profundezas”, por que devemos clamar a Deus? É muito fácil orar sobre problemas ou meditar utilizando as melhores técnicas, sem pensar em Deus um instante sequer.
Fonte: A Oração: o caminho para quem busca a amizade com Deus - James M. Houston.
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