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O Conceito de Jesus sobre a Morte.

Era revolucionário o conceito de Jesus sobre a morte. Referiu-se à morte como sendo sono. Na ocasião em que ressuscitou a filha de Jairo, declarou a respeito dela; «Ela não está morta, mas dorme» (Marcos 5:39; Mateus 9 :2 4 ;.Lucas 8:52). As pessoas da casa, que já estavam convencidas de que a menina estava morta, riram-se dele. Pensavam que ele não sabia do que se tratava. Não compreendiam que por «sono» ele significava a cessação da atividade desta vida, que outros chamam de «morte».
Jesus empregou a mesma ideia em falando de Lázaro, irmão de Maria e de Marta. Aos seus discípulos, ele disse: «Lázaro ... dorme, mas vou despertá-lo do sono» (João 11:11). O povo no tempo de Jesus considerava o sono como bom sinal no decorrer duma enfermidade séria; o paciente acordaria sem febre. Os discípulos perguntaram por que deviam ir, se Lázaro somente estava dormindo. Então Jesus falou-lhes em termos que pudessem compreender: «Lázaro está morto».
Este conceito de morte como sono não' tem nada a ver com a ideia corrente de «sono da alma». Jesus estava apresentando ao povo seu conceito sobre a morte como algo que trazia sossego e descanso, e não algo que devesse ser temido como um grande inimigo. Seus outros ensinos indicam que ele não considerava a morte como uma existência inconsciente do espírito. Sua linguagem era metafórica, com o propósito de expor seu ponto de vista. Após ele, outros empregaram a mesma ideia.
Jesus considerava que a morte tinha uma importância secundária. Ele tornou o fato da morte secundário em relação a coisas mais importantes — às concernentes ao dever do homem de participar da vontade e da obra de Deus. Ele nunca pensou que a morte não fosse importante. É tanto uma parte da vida como é o nascimento. Por este, a vida física começa; por aquela, a vida física termina.
A morte, entretanto, é secundária em relação a outras coisas. Uma ilustração disso vê-se em Mateus 8:21,22. Jesus chamou um homem para vir, e segui-lo. O homem concordou sob a condição de que lhe fosse permitido voltar para casa e enterrar seu pai. Jesus deu-lhe uma ordem um tanto estranha: «Segue-me, e deixa aos mortos sepultar os seus próprios mortos.» À mente moderna, esta resposta é bem abrupta. Mas não há nenhuma indicação de que o pai desse homem estivesse já morto ou mesmo enfermo! O homem estava se agarrando ao costume da devoção filial como um meio de adiar indefinidamente a chamada de Jesus para o serviço. Em essência, Jesus mandou-lhe que deixasse as coisas secundárias para as pessoas que pudessem adequadamente cuidar delas, e que concentrasse sua mente sobre a única coisa suprema — seu dever para com Deus. Coisas relacionadas com a morte são secundárias.
A agonia de Jesus no Getsêmane não deve ser aceita como se fora seu conceito sobre a morte, nem como sua atitude para com sua própria morte. Verdade é que se retraía diante da experiência da morte, que ele sabia ia enfrentar. Todavia, não era meramente a morte que o desanimava. Era, sim, o tipo de morte — a morte sobre a cruz, levando o opróbrio dos pecados do mundo.
Não há palavras que descrevam adequadamente a agonia duma crucificação romana. Acrescentada àquela agonia, estava a vergonha pública do condenado por lhe ser tirada toda a roupa e ser ele exposto ao olhar e à zombaria por parte do público. A tudo isso se deve acrescentar a agonia da alma sensível dEste que não havia cometido pecado, mas estava sofrendo como se tivesse cometido todos os pecados do mundo.
Ele já havia dito aos seus discípulos que todos eles o abandonariam e o deixariam a sós, mas acrescentou: «Mas não estou só, porque o Pai está comigo» (João 16:32). Quando chegou a terrível agonia daquela hora, entretanto, ele se sentiu completamente abandonado por Deus, e bradou: «Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?» (Mateus 27:46). A partícula traduzida «por que» não é causal, isto é, «por causa de que me desamparaste?» É, antes, télica ( Iva t i), isto é, «para que fim ou propósito me desamparaste — qual vai ser a finalidade de tal experiência?» Foi a morte nessas circunstâncias que causou a agonia de Jesus no Getsêmane, não simplesmente o aspecto físico da morte.

Fonte: A Vida no Além - Ray Summers.

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