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A Doutrina da Eleição numa Perspectiva Pentecostal.

A doutrina da eleição é uma das mais controvertidas de toda a teologia. Através dos séculos ela vem dividindo os cristãos em vários campos. Alguns livros sobre teologia sistemática nem sequer ensinam este assunto.

Ela tem sido apresentada de maneira tão extremista que faz parecer que os eleitos serão inevitavelmente salvos, sem levar em conta sua resposta ao evangelho e seu estilo de vida. Por outro lado, os escolhidos para se perderem padecerão eternamente, não obstante qualquer empenho em aproximar-se de Deus mediante a fé em Cristo.

Esta posição radical baseia-se nas doutrinas chamadas de "eleição incondicional" (os eleitos são escolhidos completamente em separado de qualquer arrependimento e fé da parte deles); e "expiação limitada" (que Cristo não morreu por toda humanidade, mas apenas por aqueles a quem Ele escolheu). Ela se apoia também no ensino de que o chamado geral de Deus para os homens se entregarem a Cristo não é um "chamado sincero", de que Ele só "chama verdadeiramente" (tencionando fazer isso) aqueles a quem elegeu previamente para salvação. Foi mostrado pelas Escrituras, sobre "A morte de Cristo" (seção I, A, deste capítulo), que Cristo morreu por toda humanidade e que Ele chama todos os cansados e sobrecarregados para se aproximarem dele.

O que é eleição? Thiessen diz que, no seu sentido redentivo, eleição é "o ato soberano de Deus, pela graça, através do qual ele escolheu em Cristo Jesus, para salvação, todos aqueles que previu que o aceitariam".

A eleição é um ato soberano de Deus porque, por ser Deus, Ele não tem de consultar nem pedir a opinião de quem quer que seja. Desde que a Escritura ensina que a eleição teve lugar "antes da fundação do mundo" (Ef 1:4), não havia ninguém a quem Deus pudesse consultar. Todos os homens pecaram e são culpados diante de Deus, portanto, Ele não se achava sob qualquer obrigação de salvar ninguém.

A eleição é um ato de Deus, pela graça, em vista da mesma razão. Toda humanidade pecou e não merece coisa alguma além da condenação. O homem pecador não pode fazer nada por si mesmo, a fim de ser considerado digno de salvação. Assim sendo, qualquer oferta de vida eterna deve ser pela graça.

Ela é "em Cristo Jesus", porque só Ele poderia prover a justiça de que o homem necessitava. Deus não pode escolher o homem em si, de modo que o escolheu em Cristo. A eleição é sempre tida como sendo de acordo com a presciência de Deus:

"Sabemos que todas as cousas cooperam para o bem

daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados

segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão

conheceu, também os predestinou para serem

conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja

o primogênito entre muitos irmãos. E aos que

predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou,

a esses também justificou; e aos que justificou, a esses

também glorificou" (Rm 8:28-30).

"Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são

forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia,

Ásia, e Bitínia, eleitos, segundo a presciência de Deus

Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a

aspersão do sangue de Jesus Cristo" (1 Pe 1:1,2).

Devemos distinguir claramente entre a presciência de Deus e a sua predestinação. Não é certo dizer que Deus previu todas as coisas porque arbitrariamente decidiu fazer com que elas ocorressem. Deus, em sua presciência, vê os eventos futuros praticamente como vemos os passados. A presciência não muda a natureza dos eventos futuros mais do que o conhecimento posterior pode mudar um fato histórico. Existe uma diferença entre o que Deus determina executar e o que Ele simplesmente permite que aconteça. Thiessen afirma:

"Certamente poucos que defendem o conceito da

'eleição incondicional' ensinariam que Deus é a causa

eficiente do pecado: praticamente todos concordariam

em que Deus simplesmente permitiu que o pecado

entrasse no universo, e todos admitiriam que Ele previu

que entraria antes de ter criado qualquer coisa. Se,

então. Deus pôde prever que o pecado entraria no

universo sem decretar efetivamente que entraria. Ele

pode então prever também como os homens agirão sem

decretar efetivamente como eles vão agir."

Efésios 1:3-5 torna bem claro que os crentes são escolhidos "em

Cristo Jesus”:

"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que

nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual

nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos

escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos

santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos

predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio

de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade."

Ao escolher os que são seus "em Cristo”, Deus não estava olhando para o homem em si, mas como ele é em Cristo. Os que foram escolhidos são aqueles que estavam em Cristo, pela sua presciência Deus já os viu ali quando fez a escolha. Os que estão em Cristo são pecadores que creram no sangue redentor de Cristo, através do qual eles foram unidos a Ele, como membros do seu corpo.

Não existe qualquer virtude nesta fé. Os homens não são salvos por crerem, mas através da crença. Os crentes foram vistos antecipadamente em Cristo quando Ele os escolheu. Como chegaram ali? Através da fé em seu amado Filho. Ele não determinou quem deveria achar-se ali, mas simplesmente os viu ali em Cristo ao elegê-los.

A Bíblia não ensina seleção, mas eleição. Em ponto algum a Bíblia ensina que alguns são predestinados à condenação. Isto seria desnecessário, desde que todos são pecadores e estão a caminho da condenação eterna.

"Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos

delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo

o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade

do ar, do espírito que agora atua nos filhos da

desobediência; entre os quais também todos nós

andamos outrora, segundo as inclinações da nossa

carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos;

e éramos por natureza filhos da ira, como também os

demais... naqueletempo, estáveis sem Cristo, separados

da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da

promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo"

(Ef 2:1-3, 12).

Não é a falta da eleição do homem que o leva à ruína eterna; é o seu pecado e falha em aceitar Jesus Cristo. Todo homem é livre para aceitar Cristo como seu salvador pessoal, caso assim o deseje. Ele não é apenas convidado, mas instado a isso. Cristo fez toda sorte de provisões para ele. "Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem" (Hb 2:9). "Ora, não levou Deus em conta os tempos de ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos em toda parte se arrependam" (At 17:30).

Muitos dos problemas surgidos na igreja sobre esta doutrina da eleição foram causados porque alguns a aplicaram aos não salvos. Ela é verdadeira para quem já se encontra em Cristo. Reconhece-se universalmente no corpo de crentes que a epístola de Paulo aos Romanos é a exposição mais ordenada do plano da salvação que temos na Bíblia. Deve-se notar que o apóstolo não trata do assunto da eleição até ultrapassar o capítulo 8, que conclui com a verdade de que não há separação de Cristo.

A história tem sido constantemente contada como a parábola de um homem subindo com dificuldade uma ladeira, levando às costas seu pecado e condenação. Ele vê a porta da salvação à sua frente, e sobre ela está escrito; "Quem quiser, venha." Ele se alegra ao entrar e seu fardo é retirado. Uma vez dentro do portão da salvação, ao olhar do lado interno do arco, ele descobre as palavras "escolhidos nele antes da fundação do mundo". Que verdade gloriosa para ser descoberta depois de alguém encontrar a paz do perdão de pecados, por ter posto a sua fé no sacrifício redentor de Jesus Cristo!

Não permita que qualquer ideia com relação a esta doutrina da eleição impeça a pregação do evangelho a toda a humanidade. A grande comissão continua sendo um dever da igreja de Jesus Cristo; "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer, e for batizado será salvo; quem, porém, não crer, será condenado" (Mc 16:15,16).

Fonte: Guy P. Duffield e Nathaniel M. Van Cleave - Fundamentos da Teologia Pentecostal I.

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