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Daniel - Heroísmo em Dias Escuros.

O Livro de Daniel pertence a um tipo de literatura que chamamos de “apocalíptico”. Essa palavra significa “revelação” e o termo descreve livros que revelam ou descerram (tiram o véu de) segredos do futuro. No Novo Testamento o Livro de Apocalipse é um exemplo óbvio desse tipo de literatura. A mensagem de Daniel pode ser dividida em duas partes bem distintas:

1. Lealdade ao passado (capítulos 1 a 6).

A primeira seção descreve a bravura e lealdade de um grupo de jovens hebreus durante o cativeiro babilónico. Daniel e seus colegas ocupam um lugar de importância na corte pagã, e esperasse que comam certos alimentos que, com toda probabilidade, tinham sido primeiro oferecidos a deuses pagãos. No pensar da época, aqueles que comiam a comida participavam da vida da deidade, ou comungavam com o deus. Daniel e seus companheiros sabiam que isso entristeceria a Deus e então, recusando-se a comer esses alimentos palacianos, nutriram-se de uma dieta simples de vegetais. Contudo Deus os fez prosperar e ficaram mais saudáveis fisicamente e também mais sábios do que os outros cortesãos jovens (1.1-21). A história, bem no início promete honrar aqueles que o honram e lhe obedecem (1Sm 2.30; Mt 6.33).

Daniel e seus amigos leais se tornaram conhecidos por sua sabedoria (1.17), e logo ele foi usado para interpretar o sentido de um sonho desconcertante (2.1-49) de Nabucodonosor. Como a maioria dos monarcas da época, Nabucodonosor tinha ideias muito exaltadas sobre sua própria importância, e determinava que todos precisavamfazer exatamente o que ele ordenava, quer estivesse ou não em conflito com seus princípios. Ele colocou uma imagem na planície de Dura e exigia que todo o mundo a adorasse; a penalidade para quem se recusasse a fazê-lo consistia em ser lançado numa fornalha e morrer queimado.

Os amigos de Daniel, sabendo que a Palavra de Deus proíbe a adoração de imagens (Êx20.4), recusaram-se a adorar essa imagem e foram, por isso, lançados no fogo. Mas, outra vez, a promessa de Deus de proteger aqueles que lhe obedecem foi cumprida maravilhosamente e, quando estavam de pé no meio das chamas, uniu-se a eles um “como o Filho de Deus” (3.25 Kjv) que os livrou miraculosamente (3.1-30). Daniel, mais tarde, teve oportunidade de ajudar o rei, confuso com a interpretação de um sonho, cujo significado era que Nabucodonosor seria julgado por Deus por seu orgulho arrogante (4.1-37).

Um incidente importante na vida de um dos governantes que se seguiram, Belsazar, está registrado em seguida (5.1-31), e traz uma clara mensagem sobre a soberania e juízo de Deus. Depois vem a famosa história do reinado de Dario: Daniel na cova dos leões. A esse tempo Daniel já era bem conhecido no palácio e vários cortesãos, com ciúme de sua popularidade, determinaram colocar uma armadilha para ele. Decretou-se que nenhuma oração seria oferecida a qualquer divindade durante um mês - pedidos só seriam feitos ao rei. Com toda naturalidade, Daniel continuou a orar ao Senhor Deus, três vezes por dia, e ele foi lançado na cova dos leões como castigo (6.1-17). Uma vez mais, a história registra um livramento miraculoso (6.18-28). A fidelidade inabalável, a coragem espiritual de Daniel foi recompensada ricamente. É possível que estas grandes histórias tenham servido de imenso encorajamento espiritual durante a revolta dos macabeus, mais tarde, quando muitos judeus fiéis foram severamente perseguidos e testados por causa de sua fé. Em séculos posteriores também inspiraram milhares de cristãos dedicados e lhes deram novas forças e corajosa firmeza, especialmente em tempos difíceis.

2. Nova luz sobre o futuro (capítulos 7 a 12).

Em nosso estudo do Livro de Ester notamos a preocupação paternal de Deus com o indivíduo, bem como seu soberano controle sobre nações. De modo semelhante, o Livro de Daniel expõe esses dois temas. O amor providencial nas vidas de indivíduos está claramente ilustrado nos capítulos 1 a 6. A segunda metade do livro muda o cenário de problemas pessoais para assuntos mundiais. Em contraste com os primeiros seis capítulos, que tratam sobretudo de histórias, a segunda parte (capítulos 7 a 12) é quase que inteiramente dedicada a visões. Essas passagens descrevem uma série de sonhos que Daniel teve, e as cenas que se desdobram na história do mundo. Obviamente, esse tipo de literatura gera diferentes interpretações das visões, mas a impressão geral não é nem um pouco controvertida: Deus reina, ele está no controle do destino de impérios bem como de indivíduos.

Nesses capítulos, Daniel é nitidamente apresentado não só como um homem capacitado a ver o futuro, mas também como um homem de oração sincera (9.3-19). O capítulo final do livro retrata não o choque e conflito de potências mundiais sobre essa terra, mas sim o destino do homem (12.2), e nos lembra a importância de examinarmos nossos próprios corações, para ter certeza de que fazemos parte daqueles que, pela fé em Cristo como Salvador de suas vidas, estão “inscritos no Livro” (12.1), isto é, entre aqueles que são conhecidos por Deus como seus filhos. Estes são descritos como os “purificados, alvejados e refinados” (12.10), e em muitos lugares a Bíblia descreve como tal milagre é possível (SI 51.1-2, 7; Is 1.16; Ez 36.25-27; 1Jo 1.9).

Fonte: Entendendo o Antigo Testamento: esboço, mensagem e aplicação livro por livro - Raymond Brown.

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