A mais
formal e sistemática das epístolas de Paulo. O tema principal de Romanos é que
a justificação é um presente gratuito de Deus e é recebida somente pela fé.
Romanos ocupa a posição principal entre as epístolas paulinas, não apenas por
ser a mais longa de suas cartas, mas também por ser a mais importante. Ao longo
da história da igreja, esta epístola tem sido muitas vezes o catalizador de
reformas e de uma nova vida. No quarto século, um jovem atormentado, sentindo que
Deus lhe dizia para abrir a Bíblia e ler a primeira passagem em que pusesse os olhos,
leu estas palavras: "Não em orgias e bebedices, não em impudicícias e
dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo
e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (13.13-14). “No
mesmo instante - disse Santo Agostinho - a luz da confiança inundou meu coração
e todas as trevas da dúvida se dissiparam.” No século XVI, foi liberto de seus
conflitos com Deus ao reafirmar a salvação pela graça, por meio da fé (Rm 1.17;
3.24). Esta verdade fez com que Martinho Lutero inicia-se a maior reforma de
toda a história da igreja. Romanos, talvez mais do qualquer outro livro isolado
da Bíblia, tem exercido uma influência poderosa na história do cristianismo.
Estrutura - A
Epístola aos Romanos consiste de duas metades: uma seção doutrinária (caps.
1-8) e uma seção prática (caps. 12-16), separadas por três capítulos a respeito
da posição de Israel na história da salvação (caps. 9-11). Paulo declara seu
tema principal no primeiro capítulo - que o evangelho é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê (1.16-17). Esta declaração é mantida em suspenso
até 3.21, enquanto Paulo se aparta do assunto principal para mostrar que todas
as pessoas precisam de salvação: os gentios infringiram a lei da consciência, e
os judeus, a lei de Moisés (1.18 - 3.20). Paulo, então, retoma seu tema de
abertura. Numa formulação clássica do evangelho cristão, ele explica que a
justificação vem pela graça de Deus através da confiança do indivíduo na obra
salvadora de Cristo (3.21-31). O exemplo de Abraão testifica que a promessa de
Deus é cumprida através da fé (4.1-25). São estes os benefícios da Justificação:
paz e confiança diante de Deus (5.1-11). Portanto, a capacidade que Jesus tem de
salvar é maior que a de Adão para corromper (5.12-21). Em seguida, Paulo aborda
o problema do Pecado na vida cristã. Em vez de servir de estímulo para o
pecado, a Graça nos atrai para uma união fiel com Cristo (6.1-14). Cristo nos
libertou da escravidão do pecado para que pudéssemos nos tornar escravos da
justiça (6.15-7.6). Paulo admite que a lei traz o pecado à luz, mas o pecado nos
convence de que precisamos de um Salvador (7.7-25). Paulo conclui a seção doutrinária
com um dos mais triunfantes capítulos de toda a Bíblia: os crentes não são
condenados por Deus, mas sim regenerados pelo poder do Espírito Santo para
enfrentarem todo tipo de adversidade, através do amor redentor de Deus (8.1-39).
Nos capítulos 9-11, Paulo discute a questão de por que Israel rejeitou o
Salvador que lhes foi enviado. Finalmente, Paulo discute várias consequências práticas
do evangelho. A reação correta diante da mensagem da salvação envolve o sacrifício
de toda a vida do indivíduo pelo evangelho (12.1-2). Os dons da graça para a
igreja são complementares, não competitivos ou uniformes (12.3-8). Ele faz uma
lista de comportamentos apropriados para um cristão (12.9-21). Os crentes são instruídos
a respeito das atitudes que devem ter em relação ao governo (13.1-7), ao
próximo (13.8-10), à Segunda Vinda (13.11-14), e ao julgamento (14.1-12) e
cooperação com os outros (14.13-15.13). Paulo encerra a carta falando sobre
seus planos de viagem (15.14-33) e apresentando uma longa lista de saudações
(16.1-27).
Autoria e Data - Não
pode haver dúvida de que Romanos é uma exposição do conteúdo do evangelho feita
pelo maior pensador dos primórdios da igreja - o apóstolo Paulo. A epístola traz
o nome de Paulo como seu autor (1.1). De ponta a ponta, ela reflete o profundo
envolvimento de Paulo com o evangelho. Muito provavelmente, Paulo escreveu esta
epístola durante sua terceira viagem missionária, enquanto finalizava seus
planos de visitar Roma (At 19.21). Sua estadia de três meses em Corinto,
provavelmente na primavera do ano 56 ou 57 d.C., teria proporcionado o tempo longo
e ininterrupto necessário para compor um comentário tão profundo e minucioso
sobre a fé cristã.
Contexto Histórico - Romanos
foi escrita a uma igreja que Paulo não fundou e que nunca tinha visitado. Ele
escreveu a carta com o intuito de fazer um relato de seu evangelho, preparando
a igreja para uma visita pessoal (1.11). O mais provável é que Paulo tenha
escrito de Corinto, onde estava terminando a coleta de dinheiro dos cristãos da
Macedônia e Acaia para os “pobres santos” de Jerusalém. Depois de entregar o dinheiro,
ele planejava visitar Roma e, com o apoio dos romanos, viajar para a Espanha. A
epístola, portanto, serviria como um embaixador de boa vontade para a visita de
Paulo a Roma e para sua posterior missão à Espanha (15.22-33).
Contribuição Teológica - O
grande tema de Romanos é poder de Deus para salvar. Os romanos entendiam de poder;
quando Paulo escreveu essa epístola para a capital do mundo antigo, Roma
reinava absoluta. O evangelho, entretanto, não perde, absolutamente, na
comparação com Roma, pois ele também é poder - de feto, “é o poder de Deus para
a salvação de todo aquele que crê” (1.16). No evangelho, tanto judeus quanto
gentios têm acesso a Deus, não através de obras humanas, mas pela imerecida
graça de Deus, derramada sobre aqueles que a aceitam por meio da fé. Paulo
enfatiza que todos precisam da graça de Deus. Isso era claro no caso dos gentios
que, em vez de adorarem o Criador, adoravam as coisas criadas (1.25). Mas os judeus,
apesar de sua crença de que eram superiores aos gentios, também estavam perdidos.
Os judeus conheciam a vontade revelada de Deus e julgavam os outros por ela,
mas eram incapazes de ver que estavam condenados pela mesma lei pela qual julgavam
(2.1-3.8). Portanto, “não há distinção” pois todos pecaram e carecem da glória
de Deus” (3.22-23). Mas as “boas novas” são que o amor de Deus é tão grande que
alcança a humanidade apesar do pecado. A forma que esse amor assumiu foi a
morte do amado Filho de Deus na cruz do Calvário. O justo Jesus morreu em favor
dos injustos. Deste modo, Deus declara as pessoas justificadas, não quando alcançam
um certo nível de santidade - excluindo, por tanto, a justificação pelas obras
- mas estando elas ainda em seus pecados e rebelião (5.8-10). Esta graça só
pode ser recebida através de uma entrega agradecida e confiante, que é a FÉ. Á
luz desta magnífica salvação, Paulo recomenda com insistência aos romanos que
não voltem à sua velha natureza humana, que sempre está de baixo da condenação
da lei. Em vez disso, ele os convida a viverem livres do pecado e da morte,
através do poder da presença do Espírito Santo no coração de todo aquele que
crê (8.10-11).
Considerações Especiais - Romanos
reflete a profunda preocupação de Paulo com o relacionamento entre judeus e
gentios (caps. 9-11). Os judeus são, de fato, o Povo Escolhido de Deus, apesar
de sua história de rebelião contra Deus. O fato de haverem rejeitado a Cristo é
coerente com sua história, embora um remanescente permaneça fiel. A rejeição
dos judeus, ironicamente, fez aumentar o número dos verdadeiramente fiéis
porque o corte dos ramos da oliveira natural (Israel) permitiu que os ramos da
oliveira brava (gentios) fossem enxertados na árvore (11.13). Paulo também
declara que a inclusão dos gentios na família de Deus provocou ciúmes nos
judeus, motivando-os a reclamar o cumprimento das promessas de Deus. Portanto, a
dureza de coração dos judeus para com o evangelho é apenas temporária, até que
os gentios tenham sido plenamente incluídos na fé. Em algum momento no futuro,
os judeus mudarão seu modo de pensar e, como o remanescente, “todo o Israel
será salvo” (11.26). A luta de Paulo para entender essa questão não fez com que
ele duvidasse de Deus ou o condenasse, mas sim deixou-o maravilhado diante da
sabedoria de Deus (11.33). Esta epístola extraordinária tem provocado a mesma
reação em cristãos de todas as gerações.
Fonte: Dicionário
Ilustrado da Bíblia - Ronald F. Youngblood, F.F Bruce & R.K. Harrison.
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