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Introdução à Carta aos Romanos



Introdução e Título - Romanos, a maior obra de Paulo, encabeça suas treze epístolas no Novo Testamento. Enquanto os quatro Evangelhos apresentam as palavras e obras de Jesus Cristo, Romanos explora a significação de sua morte sacrificial. Usando o método de perguntas e respostas, Paulo registra a mais sistemática apresentação doutrinária da Bíblia. Romanos é mais que um livro de teologia; é também um livro de exortações práticas. As boas novas de Jesus Cristo são mais que fatos a serem cridos; são também uma vida a ser vivida - uma vida de justiça condizente com a pessoa “justificada gratuitamente por sua graça pela redenção que há em Cristo Jesus” (3.24). Ainda que alguns manuscritos omitam as palavras “em Roma”, no capítulo 1, versículos 7 e 15, o título Pros Romaious, “Aos Romanos”, tem sido associado à epístola quase desde o início.

Autoria - Todas as escolas críticas concordam quanto à autoria paulina (1.1) deste livro fundamental. O vocabulário, o estilo, a lógica e o desenvolvimento teológico são consistentes com as outras epístolas de Paulo. Este ditou esta carta a um secretário chamado Tércio (16.22), a quem foi permitido adicionar sua própria saudação. Suscita-se o problema não com a autoria, mas com a falta de unidade da epístola. Alguns manuscritos latinos (porém não gregos) omitem uma porção (15.1-16.24). Em alguns manuscritos, a doxologia final (16.25-27) aparece no fim do capítulo 14. Essas variações têm levado alguns estudiosos à conclusão de que os dois últimos capítulos não eram partes originais da epístola, ou que Paulo a elaborou em duas edições. Entretanto, a maioria dos estudiosos acredita que o capítulo 15 se ajusta logicamente ao restante da epístola. Há mais debate sobre o capítulo 16, visto que Paulo saúda nominalmente vinte e seis pessoas numa igreja que jamais visitara. Alguns estudiosos contendem que esse trecho constitui uma carta separada, talvez escrita a Éfeso, a qual foi anexada a esta epístola. Tal carta constituiria uma surpresa, para dizer o mínimo (nada senão saudações), especialmente no mundo antigo. É mais simples entender a lista de saudações como uma tentativa, na qualidade de um estranho para com a igreja romana, de arrolar seus amigos mútuos. Paulo conheceu essas pessoas nas cidades de suas viagens missionárias. De uma forma mui significativa, a outra única epístola paulina que apresenta uma lista de saudações foi destinada aos crentes de Colossos, igreja que Paulo jamais visitou. É possível que esta porção fosse omitida de algumas cópias de Romanos, em virtude de não parecerem relevantes.

Data e Cenário - Paulo não fundou a igreja em Roma, e a tradição de que Pedro foi seu fundador contraria as evidências. É possível que essa igreja tinha começado quando alguns dos judeus e prosélitos ao Judaísmo, os quais se tomaram seguidores de Cristo no Dia de Pentecostes (cf. At 2.10), regressaram a Roma; porém é mais provável que cristãos das igrejas estabelecidas por Paulo na Ásia, Macedônia e Grécia tenham passado a residir em Roma e levado outros a Cristo. Segundo esta epístola, os gentios eram predominantes na igreja de Roma (1.13; 11.13; 11.28-31; 15.15-16), mas havia também crentes judeus (2.17-3.8; 3 .21- 4.1; 7.1-14; 14.1-15.12). Roma foi fundada em 753 a.C., e nos dias de Paulo era a maior cidade do mundo, com mais de um milhão de habitantes (certa inscrição diz que havia nela mais de quatro milhões). Era repleta de edifícios magnificentes, mas a maior parte da população se compunha de escravos: opulência e miséria coexistiam na Cidade Imperial. A igreja em Roma era bem conhecida (1.8), e fora estabelecida havia diversos anos ao tempo desta carta (14.14; 15.23). Os crentes ali eram provavelmente numerosos, e evidentemente se encontravam em diversos lugares (16.1-16). O historiador Tácito se referiu aos cristãos que eram perseguidos sob Nero em 64 d.C. como “uma numerosa multidão”. O evangelho preencheu o vácuo deixado pelo politeísmo praticamente extinto da religião romana. Paulo escreveu Romanos em 57 d.C., próximo ao fim de sua terceira viagem missionária (At 18.23-21.14; cf. Rm 15.19). A epístola foi evidentemente escrita durante sua permanência de três meses na Grécia (At 20.3-6), mais especificamente em Corinto. Paulo residia com Gaio em Corinto (16.23; cf. ICo 1.14) e mencionou também “Erasto, o tesoureiro da cidade” (16.23). Uma inscrição em Corinto do primeiro século o menciona: “Erasto, o chefe de obras públicas, lançou este pavimento às suas próprias expensas”. A coleta que Paulo fez nas igrejas da Macedônia e Acaia para os cristãos carentes de Jerusalém fora completada (15.26), e ele estava pronto a entregá-la (15.25). Em vez de navegar diretamente para Jerusalém, Paulo evitou uma trama feita pelos judeus em sua primeira viagem ao norte, a Filipos. Evidentemente ele entregou esta carta a Febe, da igreja em Cencréia, vizinha de Corinto, e ela a levou para Roma (16.1-2).

Tema e Propósito - O tema de Romanos se encontra no capítulo 1, versículos 16-17: Deus oferece o dom de sua justiça a todos quantos vêm a Cristo pela fé. Paulo escreveu Romanos com o fim de revelar o soberano plano divino de salvação (1-8), a fim de mostrar como judeus e gentios fazem parte desse plano (9-11) e para exortá-los a viver de forma justa e harmoniosa (12-16). Em sua ampla apresentação do plano divino de salvação, Paulo se move da condenação à glorificação, e da verdade posicional à verdade prática. Palavras-chave como justiça, fé, lei, todos e pecado aparecem, cada uma delas, pelo menos sessenta vezes nesta epístola. Paulo não escreveu Romanos para discutir problemas específicos na igreja, e, sim, para preparar os irmãos para sua visita há muito esperada àquela igreja estratégica (15.22-24). Ele lançara o fundamento para o evangelho nas províncias orientais ao longo de suas três viagens missionárias, e agora desejava começar uma obra significativa nas províncias ocidentais. Roma, a mais influente cidade do Império, seria a base lógica de operações para os futuros empreendimentos missionários de Paulo, assim como Antioquia fora durante suas primeiras três viagens missionárias. Paulo tentou várias vezes visitar Roma no passado, mas fora impedido (1.13; 15.22). Ao escrever esta carta, Paulo esperava edificar os crentes ali em seu conhecimento e fé, e encorajar esta igreja mista de judeus e gentios a trabalhar unida como um só corpo. Paulo também solicita deles sua oração de apoio em vista da perigosa oposição que o aguardava em Jerusalém.

Cristo em Romanos - Paulo apresenta Jesus Cristo como o Segundo Adão, cuja justiça e morte substitutiva proveram justificação para quantos depositam nele sua fé. Ele oferece sua justiça como um dom gracioso aos pecadores, havendo suportado a condenação e a ira de Deus por conta de sua pecaminosidade. Sua morte e ressurreição são a base para a redenção, justificação, reconciliação, salvação e glorificação dos crentes.

Contribuição à Bíblia - Romanos não foi a primeira das epístolas de Paulo, mas foi adequadamente posta no início do corpus paulino, não só porque se constitui a maior obra de Paulo, mas porque fornece um fundamento doutrinal sobre o qual as outras epístolas são construídas. É a mais sistemática e detalhada exposição da verdade teológica das Escrituras. Romanos se concentra nas doutrinas da hamartiologia (pecado) e soteriologia (salvação); precisamente como todos os homens (judeus e gentios) são pecadores, assim Deus graciosamente estendeu sua oferta de salvação a todos quantos puserem sua fé em Cristo. Romanos é o mais formal dos escritos de Paulo - é mais um tratado do que uma carta. Paulo não passava de um estranho para a maioria dos crentes romanos (daí a longa introdução), e não buscou refutar erros específicos na igreja deles. Esta é primariamente uma epístola preventiva, não uma epístola corretiva, e Paulo faz habilidoso uso de uma forma de debate com vistas a refutar os tipos de objeções que encontrou durante duas décadas de reflexão e defesa do evangelho. O resultado consiste em uma das mais vigorosas, lógicas e eloquentes obras já escritas. É seguro dizer que Romanos influenciou a subsequente história da igreja mais que qualquer outra epístola.

Fonte: Descobrindo a Bíblia - Bruce Wilkinson, Keneth Boa.

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