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Crítica Bíblica.



É a aplicação de uma ou mais técnicas no estudo científico da Bíblia. Tais técnicas não são peculiares ao estudo bíblico: são igualmente úteis no estudos dos textos de Homero ou Shakespeare. Sua intenção primeira é ajudar o leitor da Bíblia a entendê-la melhor; por essa razão, a crítica bíblica examina os textos gregos e hebraicos (crítica textual), o contexto histórico de várias partes da Bíblia (crítica histórica) e diversas questões literárias relacionadas a como, quando, onde e o motivo de os livros da Bíblia terem sido escritos (crítica literária). Tais métodos de estudo, quando feitos com reverência às Escrituras, devem auxiliar na avaliação do pesquisador com relação à Inspiração da Bíblia.

Crítica Textual. É a tentativa de determinar, o mais exatamente possível, a expressão do texto bíblico como primeiramente escrito sob a inspiração do Espírito Santo. Visto que nenhum dos textos originais sobreviveu, e o texto bíblico existe apenas em cópias, faz-se necessário comparar as primeiras cópias entre si. Isso permite à crítica textual classificar tais cópias em grupos, segundo determinadas características, decidir o motivo das diferenças entre os textos e qual tenha sido provavelmente a forma original. As primeiras cópias nas quais se baseiam os críticos textuais consistem principalmente em manuscritos nas línguas originais, traduções em outras línguas e remissões bíblicas feitas por escritores judeus e cristãos.

Crítica Histórica O exame da Bíblia à luz de seu contexto histórico. Isso é particularmente importante em virtude de a Bíblia ter sido escrita durante um período de mais de mil anos. A narrativa bíblica estende-se do início da civilização no mundo antigo até o império romano do primeiro século d.C. A crítica histórica é útil pata determinar quando os livros da Bíblia foram escritos. Auxilia também na determinação de uma data aproximada, levando-se em consideração a descrição das pessoas e os eventos narrados com o fator tempo. A data dos eventos de Gênesis, por exemplo é muito anterior à data em que o livro foi escrito. A crítica histórica questiona se as narrativas dos patriarcas - Abraão, Isaque Jacó e José - refletem as condições dos tempos em que eles viveram. O consenso é de que tais histórias refletem mais a data aproximada dos eventos relatados do que exatamente a data de quando foram escritas, assim como o quadro apresentado no Novo Testamento reflete mais o que se sabe das primeiras décadas do primeiro século d.C.

Crítica Literária Estudo de como quando, onde e por quê os livros da Bíblia foram escritos. A crítica literária pode ser dividida em questões relacionadas a fontes, tradição, redação e autoria.

1. A crítica da fonte procura determinar se os escritores dos livros da Bíblia usaram fontes anteriores de informação e, nesse caso, se tais fontes eram orais ou escritas. Alguns livros bíblicos indicam claramente sua relação com fontes anteriores: 1 e 2Crônicas, Lucas e Atos. Algumas das fontes de Crônicas ainda estão disponíveis em 1 e 2Samuel e 1 e 2Reis, que foram escritos antes. O autor de Lucas e Atos mencionam a fonte de grande parte das informações obtidas: “conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra” (Lc 1.2). No entanto, tais fontes normalmente acabaram não permanecendo de modo independente; sua identificação e reconstrução não podem ser determinadas. É suficientemente claro, no entanto, que os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas têm fontes em comum; as duas mais abrangentes relacionam-se com a narrativa de Jesus e com a coletânea de seus ensinos.

2. A crítica da tradição (incluindo a crítica da forma) estuda como as informações foram transmitidas de uma geração a outra antes de adquirir a forma atual. A tradição é simplesmente o legado; pode ser divinamente autorizada ou meramente a "tradição dos homens” (Mc 7.8; Cl 2.8). Por vezes, uma tradição era transmitida oralmente por várias gerações antes de ser escrita, como no caso do registro dos patriarcas em Gênesis. Em outras, uma tradição era transmitida oralmente por apenas 20 ou 30 anos, como nos registros dos ensinos e feitos de Jesus antes de serem escritos nos evangelhos. A crítica da tradição esforça-se por traçar as etapas pelas quais essas tradições foram transmitidas, as formas assumidas em vários estágios e as formas finais dadas pelas pessoas que se comprometeram em escrevê-las. A crítica da forma é a ramificação da crítica da tradição que examina as várias “formas”- por exemplo, parábolas, milagres e discursos - nas quais as tradições foram modeladas. A crítica da forma foi aplicada a muitas áreas da literatura bíblica, tal como na composição dos salmos, nos chamados de profetas ao ministério e no conteúdo dos evangelhos. Alguns estudiosos classificaram, por exemplo, vários salmos como "reais”, “de lamentação”, “da lei”, “de louvor” etc. A classificação de partes da Bíblia de acordo com sua forma final pode fornecer outra perspectiva a partir da qual é possível entender melhor o texto bíblico. No entanto, esse método deve ser usado com grande prudência e restrições para evitar que o intérprete faça imposições de seus pressupostos.

3. A crítica da redação procura entender a contribuição do manuscrito final produzido pela pessoa que reuniu as tradições orais e escritas em um só texto. Isso pode ser ilustrado com o evangelho de Lucas. O evangelista não tem a pretensão de se dizer testemunha ocular dos eventos do ministério de Jesus; tudo o que ele registra no evangelho havia sido recebido de outros. A crítica da tradição estuda o que Lucas recebeu e o estado em que o recebeu. A crítica da redação estuda o que o autor fez com o que recebeu. Lucas (e isso pode ser dito de outros evangelistas) foi um autor responsável que imprimiu sua personalidade no que escreveu. É importante lembrar que a contribuição pessoal de um autor a um livro acabado não era menos fidedigna (e, portanto, não menos autorizada) que a tradição por ele recebida. Infelizmente, alguns críticos cometeram o erro de presumir que o trabalho do autor não é autêntico, desprezando a obra do Espírito Santo em inspirar os escritores da Bíblia.

4. A crítica da autoria e do público alvo envolve a tentativa de determinar a autoria de uma obra, assim como a pessoa, o grupo ou o público mais abrangente para o qual tenha sido escrita. Por vezes, não há necessidade de investigar tais questões; a carta de Paulo aos Romanos, por exemplo, é claramente obra do apóstolo Paulo e foi enviada por ele aos cristãos em Roma. Mas o uso ponderado da crítica literária iluminará as circunstâncias que conduziram o autor do livro e o propósito de ter sido enviado. Quando, no entanto, se lida com uma obra anônima, a investigação crítica pode ajudar a revelar a pessoa do autor. Por exemplo, não se sabe ao certo quem escreveu a carta aos Hebreus. No entanto, considerando criticamente o livro, depreende-se muito a respeito do caráter do autor e pouco sobre o caráter e a situação das pessoas a quem a carta foi dirigida.

Fonte: Dicionário Ilustrado da Bíblia - Ronald F. Youngblood, F.F Bruce & R.K. Harrison.

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