Satã
é o nome do príncipe do mal (em hebraico Satan,
helenizado Satanás); significa
“Adversário”. Nos dois primeiros capítulos do livro de Jó se lê que “num dia em
que os filhos de Deus foram se apresentar ao Senhor, Satanás se apresentou
também.” Alguns acham que nessa passagem Satã não é reputado como especialmente
mau, mas simplesmente como alguém dentre as hostes celestes. Pode-se conceder
que então não havia a doutrina plenamente desenvolvida, mas as atividades de
“Satanás” sem dúvida alguma são contrárias a Jó. As referências a Satã, no AT,
são poucas, mas sempre apresentam coerentemente Satã ocupado em atividades
contra os interesses dos homens. Ele impeliu Davi para recensear o povo (1 Cr 21,1).
Ele se pôs ao lado direito de Josué, o Sumo Sacerdote, a fim de “resistir-lhe”,
atraindo assim, contra si mesmo, a repreensão do Senhor (Zc 3,lss). O Salmista
pensa que é uma calamidade para alguém ter Satã à sua mão direita (SI 109,6).
João nos diz que o Diabo vive pecando desde o princípio (1 Jo 3,8), e as
referências do A.T. comprovam isso. A maior parte de nossa informação,
entretanto, nos é dada pelo Novo Testamento, onde o ser supremamente mau é
chamado de Satanás ou de “o diabo” (ho diabolos) indiferentemente, com empregos
ocasionais de Beelzebu (Mt 10,25; 12,24-27). Outras expressões, tais como “o
príncipe deste mundo” (Jo 14,30), ou “o príncipe da potestade do ar” (Ef 2,2),
também ocorrem. Ele é sempre pintado como alguém hostil a Deus, como alguém que
trabalha para derrotar os propósitos de Deus. Mateus e Lucas nos dizem que no
início de seu ministério, Jesus passou por um severo teste quando Satanás O tentou
para que iniciasse a sua obra com um espírito errado (Mt 4; Lc 4; ver também Mc
1,13). Quando esse período de tentações passou, o diabo O deixou “até momento oportuno”,
o que deixa subentendido que a luta foi reiniciada posteriormente. Isso também
fica claro pela afirmação de que “ele foi tentado em todas as cousas, à nossa
semelhança” (Hb 4,15). Esse conflito não era algo incidental. Pois o propósito
expresso da vinda de Jesus a este mundo foi “destruir as obras do diabo” (1 Jo 3,8;
cf. Hb 2,14). O Novo Testamento por toda parte vê um grande conflito entre as
forças de Deus e do bem, por um lado, contra as forças do mal lideradas por
Satanás, por outro lado. Não se trata do conceito emitido por um ou outro
escritor sagrado, mas é comum a todos eles.
Não
há nas Escrituras qualquer dúvida sobre a severidade do conflito. Pedro salienta
a feroz oposição ao dizer que o diabo é como “leão que ruge procurando alguém
para devorar” (1 Pd 5,8). Paulo prefere pensar na astúcia empregada pelo
maligno “... o próprio Satanás se transforma em anjo de luz” (2 Cor 11,14) pelo
que não é para admirar que seus ministros apareçam com uma capa atrativa. Os crentes
efésios são exortados a se revestirem de “toda a armadura de Deus, para poderdes
ficar firmes contra as ciladas do diabo” (Ef 6,11), e existem referências ao
“laço do diabo” (1 Tim 3,7; 2 Tim 2,26). Tais passagens tem o efeito de frisar
o fato que os crentes (e até mesmo os arcanjos, Jd 9) estão empenhados em um
conflito que é ao mesmo tempo sem tréguas e efetuado com astúcia. Não estão em
posição de se retirarem do conflito. Nem podem simplesmente supor que o mal
será sempre obviamente mau. Há a necessidade do exercício da discriminação, bem
como de destemor. Mas a oposição firme será sempre bem-sucedida. Pedro nos
exorta a resistir “firmes na fé” (1 Pd 5,9). Enquanto que Tiago escreve “mas resisti
ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4,7). Paulo nos exorta com as palavras: “nem
deis lugar (isto é, oportunidade, por meio de licença dada à ira sem restrição)
ao diabo” (Ef 4,27), pelo que o que fica subentendido no revestir da completa
armadura de Deus é que dessa maneira o crente também será capacitado a resistir
a qualquer coisa tentada pelo diabo (Ef 6,11-13). Paulo deposita sua confiança
na fidelidade de Deus. “ ... Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentados além
das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento,
de sorte que a possais suportar” (1 Cor 10,13). Paulo estava perfeitamente
cônscio dos múltiplos recursos de Satanás, e que este está sempre procurando
alcançar “vantagem sobre nós”. Mas, igualmente pode adicionar que “não lhe
ignoramos os desígnios” (2 Cor 2,11).
Satanás
faz oposição contínua ao evangelho, conforme vemos por todo o ministério do
Senhor. Ele operava através dos seguidores de Jesus, como quando Pedro rejeitou
o pensamento da cruz, e teve de ouvir a reprimenda, “Arreda Satanás” (Mt
16,23). Pedro tomou-se alvo de novos planos de Satanás, mas o Senhor orou a
favor dele (Lc 22,31ss). Satanás também trabalhava nos inimigos de Jesus, pois Cristo
pode falar sobre aqueles que a Si se opunham como pertencentes a Satanás — “Vós
sois do diabo” (Jo 8,44). Tudo isso teve seu clímax na paixão de Cristo. A obra
de Judas Iscariotes foi atribuída à atividade do maligno. Satanás “entrou em
Judas” (Lc 22,3; Jo 13,27). O diabo pôs “no coração de Judas Iscariotes, filho
de Simão, que traísse a Jesus” (Jo 13,2). Tendo a cruz em mente, Jesus pode dizer
que “aí vem o príncipe do mundo” (Jo 14,30). Satanás continua tentando os
homens (1 Cor 7,5). Lemos que ele agiu na vida de um crente professo, Ananias (“por
que encheu Satanás teu coração...?”, At 5,3), bem como num oponente declarado
do caminho cristão, Elimas (“O filho do diabo...”, At 13,10). O princípio geral
é apresentado em 1 Jo 3,8: “Aquele que pratica o pecado procede do diabo”. Os
homens podem entregar-se de tal maneira a Satanás que em realidade se tornam
pertencentes a ele.
Tornam-se
seus “filhos” (1 Jo 3,10). Assim é que lemos sobre “a sinagoga de Satanás” (Apc
2,9; 3,9), bem como sobre os homens que habilitavam “onde está o trono de
Satanás” (Apc 2,13). Satanás impede a obra de missionários cristãos (1 Ts
2,18). Ele arrebata a boa semente depositada nos corações dos homens (Mt 4,15).
Ele semeia os “filhos do maligno” no campo que é este mundo (Mt 13,38ss). Sua atividade
pode produzir efeitos físicos (Lc 13,16). Ele sempre é descrito como alguém
ativo e cheio de recursos. Porém, o Novo Testamento também se mostra seguro das
limitações e da derrota de Satanás. Seu poder é derivado (Lc 4,6). Ele pode
exercer sua atividade somente dentro dos limites que Deus Ihe impõe (Jó 1,12;
2,6; 1 Cor 10,13; Apc 20,2-7). Ele pode até mesmo ser usado para promover a causa
do direito (1 Cor 5,5; cf. 2 Cor 12,7). Jesus contemplou a vitória preliminar
sobre Satanás na missão dos setenta discípulos (Lc 10,18). Nosso Senhor ensinou
que o "fogo eterno” foi “preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25,41), e
João viu isso ter lugar em visão (Apc 20,10). Já tivemos ocasião de notar que o
conflito com Satanás chegou ao auge na paixão de Cristo. Ali Jesus se referiu a
Satanás dizendo que o mesmo seria “expulso” (Jo 12,31), e “julgado” (Jo 16,11).
A vitória é explicitamente aludida em Hb 2,14; 1 Jo 3,8. A tarefa dos
pregadores consiste em “converter” os homens “da potestade de Satanás para
Deus” (At 26,18). Paulo pode escrever confiantemente: “E o Deus da paz em breve
esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás” (Rom 16,20). O testemunho do Novo
Testamento, por conseguinte, é claro. Satanás é uma perversa realidade, sempre
hostil contra Deus e contra o povo de Deus. Porém, já foi derrotado na vida, na
morte e na ressurreição de Jesus Cristo, e essa derrota tornar-se-á evidente e
completa no fim desta época presente.
Fonte: Existe o Diabo? Respondem os Teólogos - João E.
Martins Terra(org).
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