Alguns
teólogos (Marcião e Orígenes, na igreja primitiva, Schleiermacher, Dorner,
Godet e outros, em tempos mais recentes) têm argumentado que alguns (ou todos)
que morrem sem serem salvos terão uma segunda oportunidade. As testemunhas de
Jeová também sustentam essa opinião. Os argumentos principais a favor dela são:
(1) as considerações gerais a
respeito do amor e da justiça divinos; (2)
a posição defendida por textos como Jo 3.18, 36 de que a descrença consciente e
deliberada em Jesus é a única base legítima para a condenação; pelo menos
aqueles, portanto, que nunca ouviram falar em Cristo ou que nunca o levaram em
conta seriamente devem ter outra oportunidade; (3) textos como Mt 12. 32; 1 Pe 3.19; 4. 6 que, segundo eles,
ensinam um período de experiência depois da morte.
Esse
ponto de vista é rejeitado por todas as igrejas protestantes ortodoxas. A corrente
principal da teologia protestante insiste que a morte é o fim do período de experiência ou provação do homem e que a condição
espiritual do homem depois da morte é fixa, e não fluida (Lc 16. 19-31; Jo 8. 24;
Hb 9. 27). O juízo divino é baseado nos atos que o homem pratica no corpo,
i.e., na terra (Mt 7.22-23; 10.32-33; 25. 34ss.; 2 Co 5. 9-11; GI 6. 7-8; 2 Ts
1.8). A ideia de uma segunda oportunidade é incoerente com aquilo que consta
das Escrituras: a chamada urgente ao arrependimento e à obediência agora (2 Co
6. 2; Hb 3. 7-19; 12. 25-29).
Respondendo
a esses argumentos a favor de um segundo período de provação [com suspensão
condicional da sentença de condenação]: (1)
Deus não deve nada ao homem; já nos deu uma prova legítima (em Adão); se alguns
entre nós têm a oportunidade de ouvir o evangelho é uma bondade divina
extraordinária. (2) Jo 3.18 e passagens
semelhantes ensinam que Jesus é o único caminho para a salvação; somos condenados
pela totalidade do nosso pecado, inclusive nosso pecado coletivo em Adão (Rm
3.23; 5.12-17; 6.23). (3) Esses
textos são demasiadamente difíceis e isolados para prover uma base adequada
para uma hipótese tão significante. Além disso, de acordo com qualquer
interpretação responsável, não ensinam um segundo período de provação. Mt 12. 32
não diz que alguns pecados serão perdoados depois da morte, mas somente que
alguns não o serão. 1 Pe 3.19 tem sido entendido de várias maneiras:
(1)
Jesus pregou o evangelho aos santos do AT; (2)
Jesus proclamou a condenação aos descrentes mortos (ideia comum entre os intérpretes
luteranos); (3) Jesus proclamou aos
anjos caídos o Seu triunfo (interpretação comum entre os estudiosos contemporâneos,
baseada em paralelos com o Livro de Enoque); (4) Jesus pregou através de Noé àqueles que viveram antes do
dilúvio (cf. 1.11; Ef 2.17 — Agostinho, Beza, alguns dos reformados). Nenhuma destas interpretações permite a
conclusão de que é dada uma segunda oportunidade aos mortos em geral. 1Pe 4.6
provavelmente se refere à pregação do evangelho neste mundo a pessoas que subsequentemente
foram martirizadas por causa do nome de Cristo.
Fonte:
John M. Frame em Enciclopédia
Histórico-Teológica da Igreja Cristã - Walter A. Elwell.
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