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Demonologia

Ao considerar os demônios e o serviço que eles prestam a Satanás, é importante distinguir entre a possessão demoníaca ou controle e influência demoníaca. No caso do corpo ser penetrado e um controle dominante ser obtido, enquanto no outro caso uma batalha de fora é travada somente por sugestão, tentação e influência. A investigação das Escrituras com respeito à possessão demoníaca revela:
Primeiro, que esse exército é composto de espíritos somente. Os seguintes textos verificam tal afirmação: "Ora, havendo o espírito imundo saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, chegando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e o último estado desse homem vem a ser pior do que o primeiro. Assim há de acontecer também a esta geração perversa" (Mt 12.43-45): "Rogaram-lhe, pois, os demônios, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles" (Mc 5.12).
Segundo, que eles estão, além disso, não somente à procura de entrar nos corpos dos mortais ou dos animais, pois o poder deles parece ser em alguma medida dependente de tal incorporação, mas eles são constantemente vistos assim incorporados, de acordo com o Novo Testamento. Umas poucas destas passagens são dadas aqui:
"Caída a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele com a sua palavra expulsou os espíritos, e curou todos os enfermos" (Mt 8.16); "Enquanto esses se retiravam, eis que lhe trouxeram um homem mudo e endemoninhado. E, expulso o demônio, falou o mudo e as multidões se admiraram, dizendo: Nunca tal se viu em Israel" (Mt9,32,33); "Chegaram então ao outro lado do mar, à terra dos gerasenos. E, logo que Jesus saíra do barco, lhe veio ao encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo, o qual tinha a sua morada nos sepulcros; e nem ainda com cadeias podia alguém prendê-lo; porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões em migalhas; e ninguém o podia domar; e sempre, de dia e de noite, andava pelos sepulcros e pelos montes, gritando, e ferindo-se com pedras. Vendo, pois, de longe a Jesus, correu e adorou-o; e, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjure-te por Deus que não me atormentes. Pois Jesus lhe dizia: Sai desse homem, espírito imundo. E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? Respondeu-lhe ele: Legião é o meu nome, porque somos muitos. E rogava-lhe muito que não os enviasse para fora da região. Ora, andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos. Rogaram-lhe, pois, os demônios, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles. E ele lho permitiu. Saindo, então, os espíritos imundos, entraram nos porcos; e precipitou-se a manada, que era de uns dois mil, pelo despenhadeiro no mar, onde todos se afogaram. Nisso fugiram aqueles que os apascentavam, e o anunciaram na cidade e nos campos; e muitos foram ver o que era aquilo que tinha acontecido. Chegando-se a Jesus, viram o endemoninhado, o que tivera a legião, sentado, vestido, e em perfeito juízo; e temeram" (Mc 5.1-13); "As multidões escutavam, unânimes, as coisas que Filipe dizia, ouvindo-o e vendo os sinais que operava; pois saíam de muitos possessos os espíritos imundos, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados" (At 8.6,7); "Ora, aconteceu que quando íamos ao lugar de oração, saiu-nos ao encontro uma jovem que tinha um espírito adivinhador, e que, adivinhando, dava grande lucro a seus senhores" (At 16.16).
Terceiro, que eles eram ímpios, impuros e malévolos. Muitas passagens poderiam ser citadas em prova desta observação:
"Tendo ele chegado ao outro lado, à terra dos gadarenos, saíram-lhe ao encontro dois endemoninhados, vindos dos sepulcros; tão ferozes eram que ninguém podia passar por aquele caminho" (Mt 8.28); "E, chamando a si os seus doze discípulos, deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades" (Mt 10.1); "E, logo que Jesus saíra do barco, lhe veio ao encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo, o qual tinha a sua morada nos sepulcros; e nem ainda com cadeias podia alguém prendê-lo; porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões em migalhas; e ninguém o podia domar; e sempre, de dia e de noite, andava pelos sepulcros e pelos montes, gritando, e ferindo-se com pedras" (Mc 5.2-5); "Então lhe trouxeram; e quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente o convulsionou; e o endemoninhado, caindo por terra, revolvia-se espumando" (Mc 9.20). Poderia ser acrescentado que parece haver graus de impiedade apresentados por esses espíritos, pois isso está afirmado em Mateus 12.43-45 que o demônio, retornando à sua casa, "toma consigo sete outros espíritos mais ímpios do que ele próprio".
A questão freqüentemente levantada é se a possessão demoníaca acontece no presente tempo. Embora os registros bíblicos de tal controle sejam quase totalmente limitados aos três anos do ministério público de Jesus, é incrível que a possessão demoníaca não tenha existido antes desse tempo ou que não tivesse sempre existido. Neste contexto deveria ser lembrado que estes seres não são somente inteligentes, mas são diretamente governados e ordenados por Satanás, cuja sabedoria e astúcia têm sido tão claramente apresentadas na Escritura. É razoável concluir que eles, iguais ao seu monarca, adaptam a maneira da atividade dele à iluminação da era e a localidade atacada. Parece evidente que eles não estão menos inclinados do que antes a entrar e a dominar um corpo.
A possessão demoníaca no presente tempo é provavelmente insuspeita por causa do fato geralmente não-reconhecido de que tais espíritos são capazes de inspirar uma vida moral e exemplar assim como de aparecer como o espírito dominante de um médium espírita ou como o poder por detrás de manifestações grosseiras que são registradas por missionários a respeito das condições que eles observam em terras pagãs. Esses demônios também, igual ao rei deles, podem aparecer como "anjos de luz" ou "leões que rugem" quando pela primeira personificação eles podem mais perfeitamente promover os empreendimentos estupendos de Satanás em sua batalha contra a obra de Deus. A influência demoníaca, igual a atividade de Satanás, é instigada por dois motivos: um é impedir o propósito de Deus para a humanidade e o outro é estender a autoridade do próprio Satanás.
Eles, portanto, ao comando de seu rei, voluntariamente cooperam em todos os empreendimentos que desonram Deus. A influência deles é exercida no confundir os não-salvos como no travar uma batalha incessante contra o crente (Ef 6.12). O motivo deles é sugerido naquilo que foi revelado pelo conhecimento deles da autoridade e da divindade de Cristo, assim como pelo que eles conhecem da eterna condenação deles próprios. As passagens a seguir são importantes neste contexto: "E eis que gritaram dizendo: Que temos nós contigo, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?" (Mt 8.29); "Ora, estava na sinagoga um homem possesso dum espírito imundo, o qual gritou: Que temos nós contigo, Jesus, nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus. Mas Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e saí dele" (Mc 1.23-25); "Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: A Jesus conheço, e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?" (At 19.15); "Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o crêem, e estremecem" (Tg 2.19).
Satanás, embora proponha substituir o Todo-Poderoso, não é onipotente; mas ainda seu poder e o grau de sua atividade são imensuravelmente aumentados pela cooperação de um exército de demônios. Satanás não é onisciente; todavia, o seu conhecimento é amplamente estendido pela sabedoria e observação combinadas de muitos súditos leais. Satanás não é onipresente, mas ele é capaz de manter uma atividade incessante em toda localidade por uma obediência leal do exército satânico.

Fonte: Lewis Sperry Chafer - Teologia Sistemática v.7,8

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