Esta palavra vem do latim mille, "um mil", e annum, "ano", "mil anos", e é um termo teológico baseado nos mil anos mencionados em Apocalipse 20.2-7. Será uma época de bênçãos especiais, durante a qual Satanás estará confinado, e o evangelho será propagado sem obstáculos. Existem três principais visões.
Pós-milenialismo. A segunda vinda de Cristo ocorrerá depois do Milênio. A pregação do evangelho pela Igreja irá trazer um tempo de paz e prosperidade, e o conhecimento do Senhor encherá toda a terra. Considera-se a duração desse período como sendo de aproximadamente mil anos. Esta teoria foi promulgada pela primeira vez na Inglaterra pelos ensinos de Daniel Whitby (1638-1726). Ela foi bem popular até que a I Guerra Mundial trouxe uma desilusão aos homens, que perceberam que no final o evangelho não seria aceito por todos, e que a humanidade não estava progredindo moralmente. Recentemente, ela foi renovada especialmente por Loraine Boettner (The Millennium). Amilenialismo. De acordo com esta interpretação escatológica não haverá nenhum período literal de mil anos de paz. Nem haverá um milênio físico durante o qual Cristo reinará na terra. As passagens que falam de um reino terreno devem ser interpretadas como se fossem aplicáveis à Igreja, e as bênçãos que o Evangelho traz, como pregado no mundo durante a Era do Evangelho (Hamilton). Acredita-se que a prisão de Satanás ocorreu na cruz, na época de Constantino o Grande, ou em algum período posterior. Muitos amilenialistas consideram que Apocalipse 2O.4ss. esteja referindo-se ao estado abençoado daqueles santos que morreram e foram para o Senhor durante a Era do evangelho (Kuyper, Bavinck). A segunda vinda de Cristo é vista como introdutora de um juízo universal final, tanto dos bons como dos maus.
Pré-milenialismo. O Milênio é o período do reino literal de Cristo sobre a terra por mil anos. Cristo deve voltar antes do Milênio começar (Ap 19.llss.; 2O.4ss.). Nenhum julgamento universal tanto dos crentes como dos não crentes pode ocorrer, visto que o julgamento dos maus ocorre depois dos mil anos (Ap 2O.5,6,11ss.).
Uma comparação das três visões.
Longe de fazer uma avaliação completa das três visões neste artigo, as três posições são possíveis, considerando as duas linhas de profecia encontradas na Bíblia com relação ao governo, reino, sofrimento e sacrifício do Messias. (1) As profecias relacionadas ao governo e reinado do Messias podem ser aceitas literalmente, e aquelas relacionadas ao sofrimento e sacrifício do Messias podem ser espiritualizadas ou interpretadas simbolicamente (como fazem muitos judeus). (2) Aquelas relacionadas ao sofrimento e sacrifício do Messias podem ser aceitas literalmente, e as relacionadas ao governo e reinado do Messias podem ser espiritualizadas ou interpretadas de modo figurado ou místico (por exemplo, no caso dos pós-milenistas e amilenialistas). (3) Ambas podem ser consideradas literalmente (por exemplo, no caso dos pré-milenialistas).
Embora alguns problemas estejam relacionados com cada visão, quando estudados em teologia sistemática, a visão pré-milenialista encontra um suporte mais forte na teologia bíblica. É difícil justificar uma mudança da interpretação literal da profecia com relação à primeira vinda de Cristo, a uma interpretação metafórica da sua segunda vinda.
Descrição da Era Milenial
O cumprimento das alianças. O Milênio é o período em que todas as alianças incondicionais de Deus com a nação de Israel serão cumpridas. As promessas da aliança com Abraão (Gn 12.1-3) com respeito à terra e à semente serão cumpridas, porque Israel irá possuir a Palestina, e a semente de Abraão irá ocupá-la. As promessas da aliança de Davi, com relação à sua casa, seu trono e seu reino (2 Sm 7.16) serão cumpridas porque alguém da linhagem de Davi irá ocupar o trono e governará sobre a nação de Davi. As promessas da aliança de Jeremias (Jr 31.31-34) com respeito à escrita da lei de Deus no coração dos homens cumprir-se-ão porque Israel será convertida, receberá um novo coração, experimentará o perdão dos pecados e a plenitude do espírito. As promessas da aliança de Moisés (Dt 30.1-10) relacionadas ao reajuntamento de Israel serão cumpridas, e a nação de Israel será abençoada na terra da Palestina.
Condições ideais da terra. Várias características da Era Milenial aparecem nas Escrituras. Este será um tempo de paz porque todas as nações estarão sujeitas à autoridade de Cristo (Ap 11.15; Is 9.6,7). Conseqüentemente, a guerra será abolida, será um tempo de alegria (Is 65.18,19). A santidade caracterizará o reino e os seus subordinados (Zc 14.20,21). A glória do Senhor se manifestará sobre a terra (Is 35.2). O rei virá trazer o consolo (Is 66.13) e estabelecerá a justiça perfeita (Is 9.7). Através do ensino do Espírito Santo, o conhecimento da verdade divina se espalhará (Is 11.2; Jr 31.33,34), e os efeitos da maldição serão eliminados da terra (Is 11.6-9; Rm 8.17-23). As enfermidades físicas e todas as doenças serão removidas (Is 35.3-6; Ez 47.12). A longevidade será restaurada (Is 65.20). Haverá perfeita ordem social (Is 65.21-23) e abundância econômica (Is 30.23-26; Am 9.13). Toda a terra se reunirá em adoração a Jeová (Is 45.22-24; Zc 14.l6ss.). O fortalecimento divino continuará a ser transmitido pelo Espírito, para que o povo obedeça aos mandamentos do rei (Jl 2.28-32).
A maldição do Milênio. Por ocasião de sua segunda vinda, o Senhor Jesus Cristo acabará com toda rebelião organizada contra a sua autoridade (Ap 19.11-21; Sl 2.9). Satanás será preso (Ap 20.2,3) de forma que a origem externa da tentação será removida. Os santos da Era da Igreja presente que deverão reinar com Cristo (Mt 19.28; Lc 19.12-17; 22.30; Ap 3.21; 5.10; 20.4) demonstrarão a plenitude da salvação por terem não só a "garantia da salvação" que é o Espírito Santo (Ef 1.13,14; Rm 8.23), como no presente, mas também porque seus corpos ressurretos estarão livres da natureza caída de Adão. A terra com tudo o que nela há será uma revelação da salvação, pois ela será libertada da maldição (Is 11.6-9; 65.25; Ez 34.25; Rm 8.17-23).
Ainda como prova da iniqüidade do pecado, as multidões não crerão em Cristo para salvação, mas expressarão apenas um culto de lábios. Como resultado, quando Satanás for solto no final dos mil anos, estes o seguirão e atacarão ao Senhor e aos santos (Ap 20.7-9). Sendo finalmente provada a incorrigibilidade do pecador e o excesso da iniqüidade do pecado, a rejeição da graça de Deus sob a lei, o Evangelho e o reino, Deus irá julgar o mundo com justiça. Acontecerá então a destruição e o julgamento final de Satanás e dos perversos (Ap 20.10-15). No final dos mil anos, Cristo entregará o reino ao Pai para que Ele seja tudo em todos (1 Co 15.24-28).
Os propósitos divinos do Milênio. Na época da criação, o propósito de Deus era sujeitar a criação ao homem, que seria um governador teocrático (Gn 1.26). Este propósito nunca foi concretizado por causa do pecado de Adão (Hb 2.8), mas será cumprido durante a Era do Milênio, quando todas as coisas estarão sujeitas a Cristo (1 Co 15.25, 27). Esta será, então, a época do aparecimento mais pleno do Filho de Deus, jamais conhecido em toda a história do mundo, porque Jesus Cristo reinará pessoalmente, em justiça e paz. Um milênio futuro não é claramente uma negação das maravilhas ou da eficácia presente do evangelho. Somente na Era Milenial aparecerão os efeitos completos da redenção de Cristo, na remoção da natureza humana caída dos crentes ressurretos, da maldição sobre a natureza, e dos efeitos da morte física. Hoje os homens podem rejeitar a Cristo por não conseguirem enxergar o significado da salvação, e tropeçam naquilo que ainda lhes parece ofensivo, como por exemplo, a natureza caída dos cristãos, a maldição sobre a natureza, e a mortalidade do corpo. Assim, eles não poderão se desculpar, por causa destas objeções. Para provar sua justiça e amor, Deus não irá colocar ninguém no final e eterno inferno até que Ele tenha mostrado a todos que o homem é tão pecador que não crerá - nem mesmo no Milênio - exceto pela sua soberana graça.
Bibliografia. Loraine Boettner, The Millenium, Filadélfia. Presbyterian and Reformed, 1958. Charles L. Feinberg, Premillennialism or Amillennialism? 2a ed., Wheaton. Van Kampen, 1954. Floyd E. Hamilton, The Basis of Millennial Faith, Grand Rapids. Eerdmans, 1942. Alva J. McClain, The Greatness of the Kingdom, Chicago. Moody, 1959. J. Dwight Pentecost, Things to Come, Findlay. Dunham, 1958. Charles C. Ryrie, The Basis of the Premillennial Faith, Nova York. Loizeaux, 1953. John F. Walvoord, The Millennial Kingdom, Findlay. Dunham, 1959.
Fonte: J. Dwight Pentecost – Dicionário Bíblico Wycliffe
Nenhum comentário:
Postar um comentário