Às vezes os críticos das Escrituras chegam à conclusão precipitada de que a Bíblia contém erros porque Deus ordena algo diferente de um período para outro. O exemplo clássico é a ordem de Deus sobre os sacrifícios de sangue para expiar o pecado sob a Lei de Moisés. Estes não são mais válidos porque Cristo se ofereceu como o sacrifício expiatório definitivo que os sacrifícios animais prenunciavam (v. Hebreus 7-10). Da mesma forma, Deus ordenou que Adão comesse apenas plantas (Gn 1.29,30). No entanto, depois do dilúvio, mandou Noé comer carne. A Lei mosaica proibia comer certos animais por serem impuros (Lv 11). Porém Jesus anunciou que esses animais eram puros, e podiam ser comidos (Mc 7.19; At 10.14,15; l Tm 4.4). Essas não são contradições, mas exemplos de revelação progressiva.
O princípio da revelação progressiva significa que Deus não revela tudo ao mesmo tempo nem sempre estabelece as mesmas condições para todos os períodos. Revelações posteriores apresentam coisas que suplantam as anteriores. Logo, o At revelava apenas sinais da Trindade ensinada no Nt (p. ex., Mt 3.16,17; 28.18-20). O Nt declara explicitamente o que estava apenas implícito no At.
Deus pode mudar qualquer coisa que não envolva uma contradição ou que não vá contra sua natureza imutável (Ml 3.6; 2 Tm 2.13; Tt 1.2; Hb 6.18). Deus pode mudar fatores não-morais sem qualquer razão aparente ou afirmada. O mandamento dado aos seres humanos de serem herbívoros, mudado para serem onívoros (Gn 1.29,30; 9.2,3), é um exemplo; mudanças nas leis cerimoniais são outro exemplo. São mandamentos diferentes, de épocas diferentes, que Deus tinha razões diferentes para decretar, mesmo sem nosso conhecimento completo (Dt 29.29).
Às vezes Deus ordena mudanças por causa das condições da humanidade. Tal é o caso da permissão para o divórcio "por qualquer motivo" no AT e uma proibição forte no NT (Mt 19.3). Jesus disse que a lei original era "por causa da dureza de coração de vocês" (19.8). Às vezes Deus tolera certas coisas por causa de tempos de ignorância (At 17.30); mais tarde, porém, não as tolera.
Uma razão importante para mudança é que Deus está revelando um plano. Esse plano tem estágios nos quais algumas coisas são necessárias e estágios em que outras coisas são necessárias. Quando um "tipo" de profecia se cumpre (o sangue do cordeiro), quando se torna realidade, o tipo não é mais necessário. Quando o fundamento da igreja foi estabelecido sobre os apóstolos (Ef 2.20), eles não foram mais necessários.
À luz do princípio de revelação progressiva, as revelações posteriores não são contraditórias, mas complementares. Elas não erram, mas revelam mais verdade. Revelações posteriores não negam as anteriores; apenas as substituem. Já que não foram dadas a todos, mas apenas para um período específico, não se contradizem quando mudam. Não há mandamentos contraditórios para o mesmo povo ao mesmo tempo.
Um exemplo de revelação progressiva pode ser visto em toda família que tem filhos em fase de crescimento. Quando são bem pequenos, os pais deixam os filhos comer com as mãos. Mais tarde, os pais insistem no uso da colher. Finalmente, à medida que a criança progride, o pai manda usar o garfo. Essas ordens são temporárias, progressivas e adequadas para a situação.
Fonte: Norman L. Geisler – Enciclopédia de Apologética
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