C. Uma Breve História dos Pontos de Vista;
Vários pontos de vistas sobre eventos dos últimos dias têm sido sustentados durante os séculos da história da igreja. É importante notar os pontos principais. A evidência de certo ponto de vista não é fortalecida porque apareceu mais cedo ou tem mais seguidores; mas se pode ganhar confiança num certo ponto de vista, sabendo que outros estudiosos bíblicos durante grandes períodos de tempo asseguraram-no.
1. Os primeiros dois séculos da história da igreja.
Há um consenso geral entre eruditos que a visão escatológica da igreja primitiva era pré-milenista. Isto é, cristãos asseguravam que Cristo reinaria sobre um reino literal, terrestre, por mil anos, auxiliado por santos arrebatados. Até onde se sabe, nenhum dos líderes dos primeiros dois séculos discordou deste ponto de vista. Segue-se uma lista daqueles que pensavam dessa forma: do primeiro século, Aristides, João o presbítero, Clemente de Roma, Barnabé, Hermas, Inácio, Policarpo, e Pápias; do segundo, Plotino, Justino Mártir, Melito, Hegesipo, Taciano, Ireneu, Tertuliano, e Hipólito.s Embora nem todos tenham proclamado o seu ponto de vista com a mesma clareza, alguns deram indicações bem claras da sua posição pré-milenista. Dois destes são especialmente significativos. Primeiro é Pápias (80-163 d.C), que não somente declarou claramente o seu próprio ponto de vista, mas acrescentou que o mesmo era defendido pelos apóstolos André, Pedro, Filipe, Tomé, Tiago, João e Mateus. Pápias estava numa posição favorável para conhecer os pensamentos da igreja primitiva, pois Ireneu afirma que ele era um seguidor de João e um íntimo de Policarpo. Pode se concluir então que, na igreja primitiva, era conhecido que os apóstolos de Cristo eram pré-milenistas.O segundo é Justino Mártir, do segundo século, que não somente declarou a sua posição pré-milenista mas acrescentou que era o ponto de vista de todos os cristãos ortodoxos.
2. O terceiro século
No terceiro século o ponto de vista pré-milenista continuou a ser assegurado por muitos. Peters alista os seguintes defensores: Cipriano, Cômodo, Nepos, Coracion, Vitorino, Metódio, e Lactâncio. Ao mesmo tempo, este século viu surgir oposição a este ponto de vista. Líderes opositores foram Gaio, Clemente de Alexandria, Orígenes, e Dionísio. Esta oposição surgiu de um novo método de - hermenêutica- O método alegórico de interpretar a Escritura veio a tomar o lugar do antigo método literal e, desde que a posição pré-milenista era baseada no princípio literal, caiu no descrédito. Para ser justo, acrescento que nenhum discípulo do amilenismo atual (que também rejeita a interpretação literal das passagens sobre o milênio) aceita o método alegórico usado naquela época.
3. O quarto século
Concorda-se geralmente que no quarto século viu-se o declínio do pensamento pré-milenista. Poucos favoreceram esta posição. Em vez disso, teólogos começaram a interpretar conceitos pré-milenistas como símbolos de verdades relacionadas à igreja. Discerne-se o começo do pensamento amilenista aqui. Peters cita os seguintes fatores que contribuíram para esta mudança de ponto de vista: 1) várias doutrinas errôneas surgiram, tais como Gnosticismo, Asceticismo, e Docetismo, que não se reconciliavam com a idéia de um reino terrestre futuro. 2) O Judaísmo, tendo já começado na igreja primitiva, ganhou forças e resultou em maior inimizade entre cristãos judeus e gentios. Isto, por sua vez, contribuiu para a negação do milênio, visto que o milênio tinha um caráter distintamente judaico. 3) o Imperador Constantino fez do Cristianismo a religião oficial da Roma, que resultou numa perda de esperança entre os cristãos para o retorno de Cristo, visto que a igreja não estava sendo mais perseguida. Muitos cristãos acreditavam que esta supremacia temporária do Cristianismo era o cumprimento real das promessas milenistas, uma opinião declarada oficialmente por Roma.
4. O surgimento de amilenismo
Embora possa traçar o começo do pensamento amilenista no terceiro século, Agostino (354-430 d.C.) recebe o crédito merecido por ser o primeiro a sistematizar este conceito não-literal do milênio. Era um teólogo muito competente, e o seu pensamento veio a pesar muito em todas as discussões doutrinárias da Igreja Romana após a sua época. Ele apresentou o seu ponto de vista principalmente no seu livro conhecido, "A Cidade de Deus", em que declarou que a igreja visível era o reino de Deus na terra. Cria que o milênio deveria ser interpretado espiritualmente como cumprido na igreja. Acreditava que a prisão de Satanás havia ocorrido durante o ministério terrestre de Cristo; que a primeira ressurreição deveria ser identificada com o novo nascimento do crente, e que o milênio, portanto, deveria coincidir com o presente período da igreja. Com a Igreja Romana aceitando este ponto de vista, tornou-se a posição dominante por séculos, embora certos grupos, afastados da igreja mãe e considerados heréticos na época, continuassem a assegurar princípios pré-milenistas. Entre estes ficaram os Valdenses, os Paulicianos, e os Albigenses.
5. O surgimento do pós-milenismo
Os lideres da Reforma continuaram no pensamento amilenista, embora deva ser reconhecido que deram pouca atenção aos assuntos dos últimos dias. Sua maior preocupação era com a área de salvação, o ponto principal de sua diferença com a Igreja Romana. Deve-se notar que enfatizaram um retorno ao método literal de interpretação, e isto, além das suas intenções, providenciou o alicerce para um retorno ao pré-milenismo. Mas não foi o pré-milenismo que trouxe uma mudança no pensamento escatológico, e sim uma visão nova que veio a ser chamada de pós-milenismo. Considera-se que foi Daniel Whitby (1638-1726), um Unitariano liberal, que deu origem a este ponto de vista. Algumas das suas idéias básicas foram apresentadas até no décimo segundo século por Joaquim de Floris. Whitby viu uma era maravilhosa para a igreja no futuro, com o apogeu num milênio feito por homens. Outros liberais o seguiram, atraídos pela conveniência deste ponto de vista com o progresso do homem na sociedade, na ciência, e na tecnologia. Estudiosos bíblicos conservadores também foram atraídos, porque a teoria voltava à idéia de um reino terrestre, que achavam ser mais compatível com numerosas passagens bíblicas. Como resultado, dois tipos de pós-milenismo foram criados, liberal e conservador; o primeiro vendo o homem fazer o seu próprio milênio por progresso natural, e o segundo visando o milênio como o resultado de um número crescente de pessoas sendo salvas por fé em Cristo. Pós-mílenismo foi aceito extensivamente pelos teólogos mais conceituados. Recebeu um golpe severo pelas duas Guerras Mundiais deste século, que demonstraram que o homem não estava fazendo o progresso que fora previsto.
6. Reavivamento do pré-milenismo
Com o surgimento do pós-milenismo houve um sensível retorno ao pré-milenismo, após os primeiros dias da Reforma. Resultou, como já foi notado, da volta aos princípios literais de interpretação. O movimento demorou a se desenvolver no começo, mas gradativamente ganhou ímpeto à medida que homens de renome foram persuadidos a favor dele. Entre estes estão os seguintes: Bengel, Steir, Alford, Lange, Meyer, Fausset, Bonar, Ryle, Tregelles, Lightfoot, e Darby. Devido a liderança e influência de tais homens, o último século tem presenciado uma grande ênfase na posição pré-milenista. Acrescenta-se também que amilenismo tem experimentado um reavivamento, com a influência decrescente de pós-milenismo. Atualmente as duas posições principais são pré-milenismo e amilenismo.
Perguntas para Recapitulação
1. Defina os seguintes termos:
Arrebatamento julgamento do grande trono branco
tribunal de Cristo conceito pré-milenista
bodas do Cordeiro conceito pós-milenista
grande tribulação conceito amilenista
revelação de Cristo conceito pré-tribulacionista
a batalha de Armagedom conceito pós-tribulacionista
julgamento dos gentios conceito mid-tribulacionista
milênio
2. Onde os santos ressurretos se encontrarão com Cristo no arrebatamento?
3. Que dois eventos podem ocorrer entre o arrebatamento e o começo da tribulação?
4. Com que propósito a tribulação servirá para os gentios?
5. Com que propósito servirá para os judeus?
6. O que acontecerá ao Anticristo, ao Falso Profeta e o seu exército na revelação de Cristo?
7. Que prova Cristo usará para julgar os gentios?
8. Quando os santos do Antigo Testamento e da tribulação serão ressurretos?
9. Qual o significado de Satanás ser aprisionado durante o milênio?
10. Que assuntos Cristo terá de tratar em preparação para a inauguração do reino milenar?
11. Que três grupos de pessoas serão súditos durante o reino milenar de Cristo?
12. Será que pessoas rebeldes e pecaminosas viverão durante o milênio? Justifique sua resposta.
13. Que dois grupos de pessoas serão ressurretos após o milênio?
14. Que conceito sobre o futuro prevaleceu durante os primeiros dois séculos da história da igreja?
15. Como o conceito alegórico, surgido durante o terceiro século, afetou este ponto de vista prevalecente?
16. Que conceito se destacou no quarto século?
17. Que conceito Agostino assegurou?
18. Que dois tipos de pós-milenismo surgiram?
19. Que dois pontos de vista sobre escatologia são mais aceitos hoje em dia?
Fonte: Leon J. Wood - A Bíblia e os Eventos Futuros.
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