A IGREJA FILIPENSE - Fílipos foi construída por Filipe da Macedônia, pai de Alexandre Magno, no local da antiga Crenides. Em 42 d.C. tornou-se colônia militar e recebeu de Augusto o título de Colônia Julia Augusta Philippensis. Sua população era constituída principalmente de veteranos romanos, e a cidade era administrada a maneira romana (At 16.21). O elemento judaico era evidentemente muito reduzido, uma vez que lá não havia sinagoga (At 16.13). Paulo visitou Fílipos pela primeira vez em 50 d.C., durante a sua segunda viagem missionaria; fazia-se acompanhar de Silas, Timóteo e Lucas. Parece provável que a primeira comunidade, se reunia na casa de Lídia, natural de Tiatira na Ásia Menor, que se dedicava com proveito ao comércio da purpura. A igreja de Fílipos — inevitavelmente, por ser diminuta a população judia — compunha-se sobretudo de gentios (cf. At 16.12-40; Fl 2.15s; 3.3s; 4.8s). O Apostolo tornou a visitar a cidade na sua terceira viagem missionaria (57 d.C.) — Lucas tomou conta da comunidade nesse meio tempo — e uma terceira vez, voltando de Corinto (58 d.C.), quando trouxe Lucas consigo para Jerusalém (At 20.1-6). Depreendemos que a igreja de Fílipos era especialmente cara a Paulo. Essa a razão por que ele fez uma exceção no caso dos filipenses e, abrindo por uma só vez mão da sua independência rigidamente mantida, aceitou deles uma ajuda material (Fl 4.16; 2Cor 11.19).
INTEGRIDADE A autenticidade de Filipenses não esta em causa; a evidencia interna é de tal modo clara que deixa a questão fora de qualquer duvida razoável. Desde o começo do estudo critico da epístola, porém, a sua unidade foi seriamente posta em dúvida. A leitura da carta revela quebras no tom e no assunto tratado no inicio do capitulo 3, e novamente em Fl 4.10. A hipótese que melhor explica esses fatos é que Filipenses seria uma coleção de cartas — emanadas todas elas de Paulo e igualmente dirigidas a igreja de Fílipos. Recentes estudos distinguiram três cartas, embora nem sempre haja acordo no tocante aos limites de cada uma. Para o objetivo que temos em vista podemos designa-las do seguinte modo: A.4.10-20; B. 1.1-3.1 + 4.2-9; C. 3.2-4.1. Todos acham que a carta A é mais antiga que as outras, mas quais sejam as datas relativas de Be C, e de onde e até onde vão estas cartas, não se sabe ao certo. Abstraindo da interrupção entre os versículos 9 e 10 do capitulo 4, a afirmação de que A é uma carta independente (ou parte de uma) repousa em duas considerações:
1 ) O seu lugar bem no fim da carta. Nesta seção Paulo agradece aos filipenses a sua generosidade numa conjuntura difícil. Mostra-se tão profundamente agradecido que é de todo improvável que esse sentimento não se houvesse manifestado antes na epístola (o que encontramos, no entanto, são duas alusões, Fl 1.5; 2.30).
2 ) Supor que a seção pertencia à carta levada por Epafrodito no seu regresso a Fílipos é supor que Paulo se houvesse esquecido de agradecer logo aos filipenses e deixado até de aproveitar os mensageiros anteriores para a comunidade, que teriam tão facilmente podido levar a carta. À vista do estreito laço de amizade que ligava Paulo aos filipenses, esta suposição é pouco plausível. Consequentemente, a passagem (A) deve ser considerada a carta — ou parte de uma — que o Apóstolo mandou ao receber o donativo.
C é considerada uma carta separada porque pressupõe uma situação diferente da implicada em A e B. Em A e B, embora- se depreenda que nem tudo andasse às mil maravilhas na igreja de Fílipos, não temos indício algum de que a situação estivesse tão séria como C dá a entender. A atitude de Paulo para com seus adversários em Fl 1.28 (B) é quase magnânima, mas em Fl 3.2,18s (C), é desapiedada, e os termos que usa são deliberadamente insultantes. A impressão de que ele não está se havendo com os mesmos opositores é confirmada por outros indícios.
Em Fl 1.28 exorta os filipenses a não se deixarem “atemorizar” pelos seus adversários, dando assim a entender que estes recorriam a ameaças. Quando às voltas com opositores judaicos, Paulo nunca se preocupa com a possibilidade de que seus cristãos se deixem intimidar, e sim com a de que sejam seduzidos da verdadeira fé. É lógico, portanto, concluir que a alusão em Fl 1.28 visa uma perseguição movida pelos pagãos. Concorda isto com o que sabemos da situação histórica em Fílipos, porque parece que a comunidade pagã ali existente era muito fervorosa. A referência à circuncisão em Fl 3.2 (C) torna certo que o segundo grupo de adversários era de origem judaica e defendia esta exigência central da Lei. A violência da reação de Paulo se explica prontamente pela natureza insidiosa da propaganda desse grupo.
Estas considerações parecem realmente estabelecer uma diferença básica entre Ce A + B. Pode-se aventar, em conclusão, que Filipenses seja uma coleção de três cartas, a qualquer das quais pode pertencer o final Fl 4.21-23. Quando ocorreu a fusão dessas cartas? Sobre esta questão fica-se em meras conjecturas. Pode ter ocorrido no momento em que os filipenses passaram sua correspondência paulina para outra igreja. A bem da verdade, porém, devemos observar que a distinção das três cartas repousa apenas na crítica interna: os manuscritos de Filipenses não mostram variação alguma na sua apresentação da epístola.
LUGAR DE ORIGEM E DATA Filipenses foi escrita na prisão (Fl 1,14.17) e, até o fim do século XIX, teve-se por certo tratar-se do primeiro cativeiro romano de Paulo (61-63 d.C.). Mas desde o começo deste século Cesaréia e Éfeso foram propostas como alternativas de Roma. Todavia, Cesaréia encontrou poucos partidários, porque todas as razões alegadas em seu favor se podem aplicar com maior força a Éfeso.
Prova segura, direta em favor de um período de encarceramento de Paulo em Éfeso não existe. Provam, no entanto, as epístolas a Corinto, que Paulo foi encarcerado mais frequentemente do que os Atos registraram (2Cor 11.23), e que seu ministério em Éfeso foi muito mais perturbado pela perseguição do que os Atos nos permitem ver. A brevidade do relato de um ministério efesino que durou perto de três anos se explica pelo fato de que Lucas, ao que tudo indica, não estava com Paulo: ele não é mencionado em Filipenses, e uma passagem “nós” termina em Fílipos na narrativa da segunda viagem missionária (At 16.10s), ao passo que a passagem “nós” seguinte começa com alusão à visita de Paulo a Fílipos quando da volta de sua terceira viagem (At 20.6). Portanto, apesar do silêncio dos Atos, é possível que Paulo tenha sofrido encarceramento em Éfeso.
Podemos indicar aproximadamente a mesma data para todas as três cartas que compõem a epístola, e os indícios são de que esta data está no período das epístolas maiores. Com certa confiança, Filipenses pode ser datada de 56-57 d.C., e Éfeso posta como seu lugar de origem.
PLANO Ainda que possamos não ignorar a forma na qual Filipenses veio até nós, importa ter presente, também, a gênese provável da epístola; por isso damos dois planos do escrito.
ESQUEMA
1. Endereço (1.1s )
Ação de graças e oração (1.3-11)
1) Situação de Paulo (1.12-36)
2) Exortação (1.27-2.18)
3) Ministros apostólicos (2.19-3.1)
4) O caminho da salvação (3.2-4.1)
5) Paz na Igreja (4.2-9)
6) Paulo acusa o recebimento dos donativos (4.10-20)
Saudação final (4.21-23)
2. Carta A (4.10-20)
Carta B (1.1-3.1 + 4.2-9)
Carta C (3.2-4.1)
Conclusão (4.21-23)
Fonte: Chave Para a Bíblia - Wilfrid John Harrington.
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