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Søren Kierkegaard e a Apologética

O existencialista dinamarquês de meados do século XIX Søren Kierkegaard(1813 -1855) também faz um tipo de apologética negativa da fé cristã. Ele crê que a vida é vivida em três planos ou estágios diferentes:o estágio estético, o estágio ético e o estágio religioso. O ser humano no estágio estético vive apenas no nível sensual, leva uma vida centrada em si mesmo e no prazer. Isso não precisa ser hedonismo grosseiro. As pessoas nesse nível podem ser muito cultas e mesmo prudentes; mesmo assim, sua vida gira em torno delas mesmas e das coisas materiais — sexo, arte, música, o que quer que seja — que lhes dão prazer. O paradoxo da vida nesse nível é que, no fim, ela leva à infelicidade. A pessoa egocêntrica, estética, não encontra na vida um significado fundamental nem satisfação verdadeira. Assim, a vida estética leva finalmente ao desespero, a um tipo de enfado diante da vida.
 Porém isso não é o fim, pois apenas nesse ponto a pessoa está pronta para viver no segundo plano de existência, o plano ético. A transição para o estágio ético da vida é um tipo de salto para um nível mais elevado, motivado pelo desespero, em que a pessoa afirma valores morais interpessoais e orienta a vida por esses padrões objetivos. A vida já não é vivida apenas para si mesmo e para o prazer; a pessoa se vê induzida a buscar o bem ético e mudar sua conduta para conformá-la a esse bem. Assim, o ser humano no estágio ético é uma pessoa moral. A vida nesse nível, contudo, também termina em infelicidade, pois, por mais que se tente sinceramente levar a vida em conformidade com os padrões objetivos do bem, mais dolorosamente se percebe que não se consegue fazê-lo. Assim, a vida ética, quando buscada com seriedade, leva no fim à culpa e ao desespero.
Todavia, há mais um estágio ao longo do caminho da vida: o estágio religioso.Aí se encontram o perdão dos pecados e um relacionamento pessoal com Deus. Somente aqui, na comunhão íntima com seu Criador, o ser humano encontra existência autêntica e realização verdadeira. Novamente, Kierkegaard representa a transição do estágio ético para este como um salto. A decisão de crer é uma escolha sem critério, um salto de fé no escuro. Apesar de não se poder dar bases racionais ao ser humano para esse salto, se ele não o der permanecerá no desespero e na existência não autêntica.


Fonte: Apologética Contemporânea - William Lane Craig

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