Esse texto é de difícil interpretação. A estrutura do versículo é poética, e poderia ser ordenada assim:
“Não deis aos cães o que é santo,
para que não vos dilacerem;
nem aos porcos vossas pérolas,
para que não as pisoteiem.”
Sua terminologia nos parece chocante, mas não o seria para os primeiros ouvintes, pois o uso de provérbios desse tipo era comum na sabedoria popular do Oriente Próximo.
Aparentemente, o texto se refere à relação da comunidade messiânica com aqueles que, não sendo do reino, se mostram indiferentes à sua mensagem, ou se opõem violentamente aos que participam de sua vida. Diante de tal situação, aconselha-se cautela. Não é prudente insistir num estilo de vida próprio dos seguidores de Jesus Cristo entre aqueles que não manifestam nenhum interesse no evangelho do reino.
Isto não quer dizer que o discípulo cortará todo contato com os indiferentes e os inimigos do reino. Pelo contrário, buscará a maneira de relacionar-se de forma redentora com essas pessoas. E não deixará de ser testemunha do reino, ainda que, ao fazê-lo, enfrente o risco da perseguição. Mas, no cumprimento dessa missão, não deverá iniciar insistindo na observância da ética evangélica (tal qual a encontramos resumida em Mt 5-7) por parte daqueles que não se comprometeram com o Senhor do reino, nem tampouco contam com os recursos espirituais que Ele outorga para vivê-la.
A participação na vida do reino pressupõe uma decisão tomada livre de coação por parte do discípulo, em resposta à graça de Deus. E devemos reconhecer que a ética do reino é para discípulos. A melhor forma de atrair as pessoas a Jesus é viver tal como Ele nos ensinou, encarnando o Sermão do Monte. À medida que os ensinos e os princípios do Sermão do Monte chegarem a ser parte de nós, o mundo saberá o que significa ser seguidor de Jesus Cristo.
Por conseguinte, não se lança o “o que é santo”, isto é, aquilo na comunidade que reflete a natureza de Deus, nem “as pérolas”, isto é, o valor mais precioso que se encontra na comunidade, que é o evangelho de Cristo, aos “cães”e aos “porcos”, isto é, aos homens que manifestam uma absoluta falta de interesse no evangelho do reino e ainda se opõem a ele com violência. Por outro lado, procura-se viver em seu meio, ainda que a custo de sacrifício e sofrimento, a vida do reino, tal qual Jesus a encarnou.
Fonte: Ouça Jesus – John Driver
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