Um milagre genuíno é um acontecimento fora do comum, que realiza uma obra útil e revela a presença e o poder de Deus (Êx. 4:2-5; I Reis 18: 24; João 5:36; 20:30,31; Atos 2:22); um falso milagre, se não for um simples engano, é um capricho de poder, arquitetado para exibição e ostentação, e inferior ao verdadeiro milagre (Êx. 7:11,12, 22; Atos 8:9-11; 13:6-8; Mt. 24: 24; II Ts. 2:9; Ap. 13:13). Um milagre verdadeiro é um acontecimento fora do comum por não ser o mero produto das chamadas leis naturais. Em relação à natureza, os milagres se dividem em dois tipos:aqueles nos quais as leis naturais são intensificadas ou aumentadas, como no dilúvio, em algumas pragas do Egito, na força de Sansão, etc.; e aqueles nos quais toda participação da natureza fica excluída, como no florescimento da vara de Arão, a obtenção de água da rocha, a multiplicação dos pães e dos peixes, a cura dos doentes, a ressurreição dos mortos.
Um milagre genuíno realiza uma obra prática e benevolente. Diz-se que Orígenes aplicou este teste quando soube de milagres praticados por santos homens e por sábios pagãos: “Em que resultaram? O que estabeleceram? Onde está a sociedade que foi fundada com sua ajuda? O que existe na história do mundo que eles ajudaram a progredir?” Contra Celsus, II 51. E nas Pseudo Homílias Clementinas, Pedro aparece contrastando os milagres de Cristo com aqueles que se diziam ter sido praticados por Simão o mágico, e concluindo assim. “Se ele praticar milagres inúteis, é um agente do mal; mas se praticar coisas úteis, é um líder da bondade.” Nós também cremos que o teste de um milagre genuíno deve ser sempre: Que obra útil ele fez ou faz?
Milagres genuínos é uma revelação especial da presença e do poder de Deus. Provam Sua existência, cuidado e poder. São ocasiões nas quais Deus como que sai de seu esconderijo e mostra ao homem que é um Deus vivo, que ainda está no trono do universo e que é suficiente para todos os problemas do homem. Se um milagre não produz essa convicção no tocante a Deus, então provavelmente não é um milagre genuíno.
Mas há muita oposição hoje aos ensinamentos que dizem respeito a milagres. Todos os sistemas naturalistas, panteístas e deístas rejeitam-nos a priori.Para eles, o universo é uma grande máquina autossustentada. Hume objetou que milagres são impossíveis, pois são violações da lei da natureza; e que são incríveis, pois contradizem a experiência humana. Enquiry Concerning Human Understanding (Questão a Respeito da Compreensão Humana) (Chicago: The Open Court Publishing Co., 1926) págs. 120, 121. Oferecemos as seguintes réplicas a essa posição.
A primeira posição assume incorretamente que as leis da natureza são autossuficientes e sem influência, direção ou manutenção externas. Afirmamos, em vez disso, que elas não são completamente independentes, pois mero poder não pode manter-se a si próprio ou funcionar com um propósito: um poder infinito e inteligente é necessário para fazer isso; e que Deus participa de todas as operações, quer da matéria, quer da mente, sem agredi-las. Nos atos maus, entretanto, Ele participa apenas até o ponto deles serem naturais, e não na sua maldade. E se Ele fizer isso na operação comum das leis da natureza, porque deveríamos considerar isso como uma violação delas se em Suas administrações extraordinárias Ele as intensifica ou aumenta, neutraliza ou age independentemente delas?
A segunda proposta de que milagres são incríveis porque contradizem a experiência humana, assume erradamente que precisamos basear toda a nossa crença na experiência humana presente. Os geólogos falam sobre grandes atividades glaciais no passado e da formação de mares e baías por intermédio dessas atividades, e no entanto não vemos nada disso acontecendo hoje. A revelação de Deus na natureza, história e consciência nos deveria levar a esperar milagres em diversas ocasiões. Os milagres não contradizem a experiência humana a menos que contradigam toda a experiência humana, no passado bem como no presente. Isso deixa bem aberta a porta para bem fundamentada evidência sobre o que realmente aconteceu.
Além disso, os geólogos admitem francamente que a vida não existiu eternamente neste planeta. Chamberlain e Salisbury dizem: “Condições apropriadas de vida não existiam até após algum desenvolvimento notável da atmosfera e da hidrosfera”. T.C. Chamberlain e R.D. Salisbury — Geology (Geologia) (New York: Henry Holt & Co., 1937), II407.
Não têm explicação para a origem da vida, dizendo que essa não é uma questão fácil de responder. Mas a vida não pode ter vindo de substância inanimada — a teoria da abiogenese já morreu faz tempo — só pode ter vindo da vida. A introdução da vida neste planeta é portanto em si mesma uma testemunha da realidade dos milagres.
E agora, positivamente, diríamos que a prova dos milagres repousa em testemunho. Todos cremos em muitas coisas na base do que consideramos testemunho verdadeiro. Quão pouca história conheceríamos se acreditássemos apenas naquilo que pessoalmente observamos e experimentamos!, Os milagres da Bíblia repousam sobre testemunho válido. Não é possível examinar aqui a evidência para todos eles, nem é necessário. Se conseguirmos provar um dos mais importantes milagres da Bíblia, teremos aberto o caminho para que também os outros sejam aceitos.
Cremos que a ressurreição física de Cristo é um dos fatos mais bem comprovados da história. Quase todos os relatos que nos falam sobre ela foram escritos de 20 a 30 dias após o acontecimento; eles nos asseguram: que Cristo havia realmente morrido e sido sepultado; que apesar de Seus seguidores não esperarem que Ele ressuscitasse, muitos deles O viram vivo poucos dias após a crucificação; que eles tinham tanta certeza de Sua ressurreição que corajosa e publicamente declararam esse fato em Jerusalém um mês e meio após ela haver ocorrido; que nem naquela época nem em qualquer outra época em que o assunto foi mencionado nos tempos apostólicos ela foi posta em dúvida; que nenhuma prova em contrário do fato jamais chegou até nós, de qualquer fonte; que os discípulos sacrificaram sua posição social, posses materiais e mesmo sua vida por este testemunho; que Paulo não argumenta em favor da ressurreição de Cristo, mas a usa como prova do fato de que todos os crentes ressurgirão da mesma maneira; e que na igreja, no Novo Testamento e no dia do Senhor, temos testemunho corroboratório da historicidade deste grande acontecimento. E se a ressurreição de Cristo é um fato histórico, então o caminho para a aceitação de outros milagres está aberto.
E finalmente, acreditamos que milagres ainda acontecem.Não são contrários nem à experiência dos dias de hoje. Todos os verdadeiros cristãos testificam a respeito do fato de que Deus responde a orações. Na verdade, estão convencidos de que Deus operou milagres em seu favor ou em favor de alguns de seus amigos. Eles têm certeza de que apenas as leis da natureza não podem explicar as coisas que viram com seus próprios olhos e experimentado em suas próprias vidas. Nenhuma quantidade de oposição por parte dos descrentes vai jamais persuadi-los a pensar de outra maneira. Mais especificamente, temos o sempre recorrente milagre da regeneração. O Etíope não pode mudar sua pele, nem o leopardo suas manchas, mas o Senhor pode mudar e muda o coração e remove as manchas do pecador.
Fonte:Palestras Introdutórias à Teologia Sistemática - Henry Clarence Thiessen.
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