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Bíblia Católica X Bíblia Protestante.

A diferença entre a Bíblia católica e a protestante gira em torno da lista de livros judaicos pelos quais se regem. Os católicos regem-se pela lista da LXX, que é a mesma que a Vulgata, portanto, incluem como canônicos os sete escritos chamados deuterocanônicos. Estes são Tohias, Judite, Sirácida (Eclesiástico), Sabedoria, Baruc e 1 e 2 Macabeus, além dos acréscimos em grego a Ester (no início, entre os versículos 3,13.14; 4,17.18; 5,1.2.3; 8,12.13; 9,19.20; e no final 10,4ss) e a Daniel (3,24-90; 13-14). Os protestantes regem-se pela lista da Bíblia hebraica, que não inclui os deuterocanônicos. Esta é a única diferença substancial entre a Bíblia católica e a protestante. Foi Lutero que declarou que os deuterocanônicos (que ele chamou de “Apócrifos”) não deveriam ser considerados como parte da Bíblia, pois não são da Bíblia hebraica. Esta teria sido a Bíblia no tempo de Jesus. E certo que os deuterocanônicos não são parte da Bíblia hebraica. Mas também é certo que no tempo de Jesus ainda não existia uma Bíblia hebraica fechada. Por isso mesmo, o cristianismo utilizou com valor canônico os deuterocanônicos desde suas origens, tal como o atesta seu uso no Novo Testamento. Uma das surpresas nas descobertas de Qumrã foi encontrar em língua hebraica textos que antes críamos que haviam sido originalmente compostos em grego, como Tobias e Sirácida, e que por isso haviam sido considerados (equivocadamente) como apócrifos.
Em sua tradução da Bíblia para o alemão, em 1534, Lutero reteve os deuterocanônicos como um grupo à parte, qualificando-os como “úteis e bons para a leitura” . Ele se apoiou na opinião de São Jerônimo, que inicialmente se pronunciara a favor da Septuaginta (que inclui os deuterocanônicos), mas posteriormente defendeu o cânon Palestinense como o único autêntico, pois pensava que esse tinha sido o cânon já fixo no tempo de Jesus. Mas nisso ele se equivocou. Não houve tal cânon até depois do início do séc. II d.C. Conscientes hoje disso, alguns exegetas protestantes propuseram reconsiderar a inclusão dos deuterocanônicos como parte integrante da Bíblia. De fato, algumas edições protestantes da Bíblia os incluem, embora como um bloco à parte (por exemplo, “Deus fala hoje” ).
O Concilio de Trento, em 1546, declarou como canônica a Vulgata, que inclui os deuterocanônicos e os acréscimos gregos a Ester e Daniel. A Vulgata era, de fato, a versão quase universalmente aceita até então. De qualquer forma que se julgue o valor dos deuterocanônicos, o certo é que não são de vital importância. Não são Tobias, Judite, Sabedoria, Sirácida, Baruc ou Macabeus os que nos separam.

Fonte: A Bíblia Sem Mitos - uma introdução crítica - Eduardo Arens.

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