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Fé na Bíblia ou em Deus?

A fé do judeu e a do cristão é no Deus que é testemunhado na Bíblia: o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, o Deus dos profetas e de Jesus de Nazaré. Nossa fé NÃO é fé na Bíblia (um conjunto de escritos), mas naquele a quem a Bíblia nos refere: Deus. E o Deus de que fala e que se atesta nos escritos bíblicos distingue-se de outras divindades: é um Deus credível e confiável; não é uma projeção humana ou criação fictícia (ídolo). É um Deus livremente soberano, não manipulável ou controlável, que se foi manifestando na história - como o atestam precisamente os escritos da Bíblia (veja Isaías 43-44) -, que misericordiosamente deseja o bem e a salvação_das pessoas. Essa vontade salvífica de Deus é incessantemente testemunhada na Bíblia – a expressão segundo as Escrituras, ou como está escrito em..., significa o mesmo que segundo a vontade de Deus, pois ela se encontra escrita na Bíblia.
A Revelação não se deu em um só instante nem de forma escrita, mas ao longo da história, a pessoas concretas e através de acontecimentos vividos que foram compreendidos como reveladores por essas pessoas de fé, as quais os interpretaram como tais. A fé, então, existiu antes que se escrevesse uma só linha. A fé brotou das manifestações de Deus neste mundo (Revelação), das quais mais tarde se deu testemunho por escrito. Em outras palavras, a Bíblia situa-se entre nós e os acontecimentos ali testemunhados: a única maneira que temos de conhecer esses acontecimentos reveladores e o que significavam é através do testemunho bíblico. Isto significa que os escritos bíblicos são meios, veículos que apontam para os acontecimentos ali relatados - ou em relatos (não históricos) que apontam para experiências vividas -, e estes por sua vez apontam para Deus, o revelador. E assim que foram interpretados. Por conseguinte, a Bíblia não tem autoridade em si nem por si mesma, mas em relação a Deus. Por isso, ela é qualificada como “Palavra de Deus” .
Valha o esclarecimento: o que nos remete a Deus não são os relatos dos fatos como tais, mas a interpretação desses fatos que os autores incorporaram entretecidos em seus relatos. O que nos remete a Deus não é o relato do êxodo como acontecimento em si e sem mais nada, mas o que o êxodo revelava a respeito de Deus. Como tal, o êxodo simplesmente foi a fuga de um grupo humano da escravidão do Egito, mas o que revelava - e é assim que foi compreendido, interpretado e transmitido - era que a fuga foi cheia de êxito, graças à ajuda de Deus e, portanto, remete a Deus que se manifestou como libertador.

Fonte: A Bíblia Sem Mitos - Eduardo Arens.

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