John
Wesley (1703-1791) era evangelista e o organizador responsável pelo surgimento da
maioria das Igrejas Metodistas nas Ilhas Britânicas e América Norte. Seu irmão Charles
era considerado um grande expoente da música sacra protestante cujos hinos não
apenas enriqueceram o louvor do Metodismo do século XVIII, mas também o de muitas
outras tradições cristãs a partir de então. Eles permaneceram como exemplos
clássicos de espiritualidade evangélica; e como importantes lembranças da importância
dos hinos para o início do Movimento Metodista e para um reavivamento evangélico
mais amplo.
Os
irmãos Wesley eram filhos do casal Samuel Wesley, reitor de Epworth em Lincolnshire
e Susanna, cujo forte regime educacional e controle maternal deixaram neles uma
marca duradoura. Em 1729, eles ajudaram a formar o chamado “Clube Sagrado” em Oxford
, onde suas rigorosas disciplinas lhes fizeram ganhar o nome ridículo de “Metodistas”
e, em 1735, eles viajaram como missionários para os americanos nativos, na
Geórgia. A missão terminou em amargor e fracasso, mas a viagem serviu para
travarem contato com alguns morávios. Foi sob a influência de John e Charles
que John Wesley experimentou sua bem conhecida e estimulante experiência na Rua
Aldersgate, em Londres, em 1738. Um ano depois, John Wesley, com o incentivo de
George Whitefield , organizou uma pregação evangélica no campo para os ingleses
pobres.
O
Metodismo que Wesley e seus seguidores pregavam e praticavam era caracterizado
por uma teologia evangélica arminiana, que enfatizava que Cristo morrera por
toda a Humanidade, e não apenas pelos eleitos. Wesley via sua missão como “uma
difusão da santidade das Escrituras na Terra”, primeiro no coração humano e
depois na sociedade como um todo. Ele acreditava que era possível alcançar “o
amor perfeito" antes da morte, uma crença que era repudiada por quase
todas as outras tradições religiosas do século XVIII, mas que explica o desejo
apaixonado de um a santificação inteira, que constituía a marca registrada da
espiritualidade metodista inicial A mensagem de Wesley se mostrou de grande
apelo para as classes inglesas inferiores. O Metodismo cresceu rapidamente
naquelas áreas menos receptivas à influência paternalista de nobres e párocos,
incluindo paróquias livres, vilas proto-industriais, comunidades mineradoras,
cidades-mercado e portos. O Metodismo recrutou mais mulheres — especialmente
solteiras ou viúvas— que homens, um padrão que se repetiu em todos os lugares
onde a religião se enraizou — nas Ilhas Britânicas, na América do Norte e
outras paragens. Embora o Metodismo tenha se originado como uma sociedade
religiosa dentro da Igreja da Inglaterra, com o tempo a abordagem pragmática de
John Wesley ao governo e à disciplina eclesiástica levou a crescentes tensões e
à separação da Igreja Anglicana. Wesley permaneceu na Igreja da Inglaterra por
toda a sua vida, mas não foi surpresa quando o Metodismo efetivamente declarou
independência sacramental da Igreja estabelecida por meio do Plano de
Pacificação, em 1795. Logo depois, o Metodismo sofreu uma de suas muitas divisões
que caracterizaram e, algumas vezes desfiguraram o movimento no século XIX.
Embora
o Metodismo tenha surgido como um movimento predominantemente inglês com raízes
na espiritualidade da Alta Igreja e no Pietismo continental, era também parte
de um “grande reavivamento” internacional que ia dos Urais no Oriente aos
Apalaches no Ocidente. O Metodismo logo se espalhou para o País de Gales e
Irlanda, mas foi nos EUA que o movimento obteve crescimentos mais
espetaculares, emergindo como a maior denominação cristã na véspera da Guerra Civil
Americana. A estrutura flexível e exportável do Metodismo e sua mensagem igualitária
adequavam-se bem a uma nação de mercados livres e aspirações políticas democráticas.
Primeiro se estabelecendo nas cidades costeiras do leste, o Metodismo se
espalhou para o sul e oeste, numa velocidade notável, conseguindo mesmo causar
um impacto significativo nos escravos africanos, apesar de a pregação para os
escravos ser desestimulada pelos proprietários de escravos e muitas autoridades
eclesiásticas. O Metodismo Americano Africano permaneceu como uma das tradições
metodistas mais duráveis.
Embora
tenha sido principalmente um movimento que se enraizou entre os protestantes
anglo-americanos, também sustentou um rigoroso movimento missionário no século
XIX que levou ao seu crescimento em áreas da África, Ásia e Austrália. Na
realidade, algumas das igrejas metodistas que cresceram mais rapidamente, sem
mencionar a grande expansão do Pentecostalismo, um movimento irmão do Metodismo,
estão agora localizadas no Hemisfério Sul.
Como
deveria, então, o Metodismo ser interpretado e qual é o seu lugar na tradição
cristã? Ele surgiu como uma sociedade voluntária dentro da Igreja da Inglaterra
em uma época em que as Igrejas já estabelecidas da Europa ocidental julgavam
difícil manter seu status e controle tradicional. Junto com seus grandes hinos,
o bilhete de acesso aos serviços da Igreja — um símbolo de comprometimento
voluntário e um emblema altamente valorizado de associação— era provavelmente o
seu símbolo mais reconhecido. Embora, algumas vezes, sejam feitas reivindicações
exageradas sobre a contribuição metodista para a estabilidade política na Inglaterra
na era da Revolução Francesa, e à civilização da fronteira americana, os metodistas
de toda a região atlântica deram uma importante contribuição à transição
pacífica da sociedade de um controle autoritário para a participação democrática.
Então,
afinal, o que havia no Metodismo que atraía a lealdade e o comprometimento de
tantas pessoas no mundo nos séculos XVIII e XIX? Mais especificamente, há uma ideia
central e instigante no componente metodista do Grande Reavivamento
Internacional? Uma resposta poderia ser sua crença na possibilidade de
aquisição de santidade pessoal e social na Terra, assim como no Céu. Nesse
sentido, o Metodismo ao propagar a religião como um meio e uma forma de vida
melhor para indivíduos e comunidades, poderia ser considerado um paralelo
protestante ao Iluminismo. Crucial para a experiência de santidade era a noção
de que a religião pura era uma escolha auto adotada, não uma obrigação patrocinada
pelo Estado. A ideia ilusoriamente simples propagada nas palavras e nas
canções, por John e Charles Wesley, era esta: não obstante a corrupção política
e a letargia pastoral que eles identificavam na Inglaterra hanoveriana, seria
possível, pela iniciativa divina, cooperação humana e capacitação do Espírito,
promoção à santidade pessoal e social com uma qualidade que desafiaria a
esperança pela perfeição da vida do crente e da purificação da sociedade maior.
Fonte: História do
Cristianismo - Jonathan Hill.
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