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Uma Breve História do Jejum.



Os cristãos que aceitam o convite de jejuar têm o privilégio singular de identificar-se com alguns grandes heróis da fé ao longo dos séculos. O jejum tem um passado rico e interessante.
O jejum no Antigo Testamento
A palavra “jejum” deriva do vocábulo hebraico tsom, que se refere à prática de abnegação. O Novo Testamento emprega a palavra grega nesteia para o jejum, a qual também se refere à abnegação.
A maioria dos estudiosos acredita que a prática do jejum começou com a perda de apetite durante os tempos de grande dificuldade e aflição. Ana, que posteriormente veio a ser mãe de Samuel, estava tão aflita com sua esterilidade que "chorava e não comia” (1 Sm 1.7). Igualmente, o rei Acabe, quando fracassou na tentativa de comprar a vinha de Nabote, "recusou-se a comer” (1 Rs 21.4).
Ao que parece, o jejum começou como uma expressão natural de tristeza. Com o tempo, entretanto, para um indivíduo refletir ou demonstrar sua tristeza, passou a ser costume abster-se de alimento e/ou demonstrar tristeza. Davi jejuou para demonstrar sua tristeza pela morte de Abner (veja 2 Samuel 3.35). Muitas referências nas Escrituras falam do jejum “afligindo” a alma ou o corpo de alguém (veja Isaías 58.3, 5). O jejum veio a ser praticado como meio de demonstrar externamente e depois promover o sentimento interno de remorso pelo pecado.
O jejum era uma expressão perfeitamente natural da tristeza humana; por isso, transformou-se num costume religioso para aplacar a ira de Deus. As pessoas começaram a jejuar para evitar que a ira de Deus as destruísse. Finalmente, o jejum se transformou num meio para tornar uma petição eficaz diante de Deus. Davi sustentou seu jejum antes da morte de seu filho com Bate-Seba, demonstrando sua esperança de que, enquanto a criança vivesse, a oração dele podia ser atendida. Quando a criança morreu, Davi encerrou imediatamente o jejum, demonstrando que sabia que nem o jejum nem a oração poderiam fazer mais nada (veja 2 Samuel 12.15-23).
Quando Deus derramava sua ira sobre uma nação por causa de iniquidade, o jejum passava a ser um modo de toda a nação buscar o favor e a proteção divinos. Portanto, era simplesmente natural que um grupo de pessoas se associasse em confissão, jejum, tristeza pelo pecado e intercessão diante de Deus.
O jejum no Novo Testamento
No Novo Testamento, o jejum era uma disciplina bastante praticada, principalmente entre os fariseus e os discípulos de João Batista. Jesus inaugurou seu ministério público com um extenso jejum de quarenta dias (veja Mateus 4.1, 2). Como vimos, quando os apóstolos de Jesus foram criticados, tanto pelos fariseus quanto pelos discípulos de João Batista por não jejuar, Jesus defendeu que eles não jejuassem enquanto Ele estivesse presente. Contudo deixou subentendido que jejuariam depois que Ele fosse retirado do meio deles (veja Mateus 9.14,15).
Jesus não deu diretrizes específicas a seus discípulos quanto à frequência do jejum. Ele ensinou que o jejum deles devia ser diferente do dos fariseus, porque tinham de jejuar para Deus, não para impressionar os outros com uma suposta espiritualidade (veja Mateus 6.16-18).
Mais tarde, a igreja do Novo Testamento adotou a prática do jejum, principalmente quando ordenava presbíteros e/ou comissionava pessoas para projetos ministeriais especiais (veja Atos 13.1-3). Podemos observar que o jejum era praticado por Paulo e outros líderes cristãos com bastante regularidade (veja 1 Coríntios 7.5 e 2 Corintos 6.5).
O jejum na igreja primitiva
Epifânio, bispo de Salamina, nascido em 315 d.C., perguntava: “Quem não sabe que o jejum do quarto e do sexto dia da semana é observado pelos cristãos do mundo inteiro?” No início da história da igreja, os cristãos começaram a jejuar duas vezes por semanas, preferindo as quartas e sextas-feiras para evitar ser confundidos com os fariseus, que jejuavam nas terças e quintas-feiras.
A prática de jejuar durante alguns dias antes da Páscoa, para preparar-se espiritualmente para a comemoração da ressurreição de Cristo, também era observada comumente. Mais tarde, esse jejum assumiu a forma de uma série de jejuns de um dia por semana durante várias semanas antes da Páscoa. Reminiscências desses jejuns da igreja primitiva podem ser vistas nas tradições católico-romanas de evitar outras carnes, exceto peixe, nas sextas-feiras, e na observação da Quaresma durante os quarenta dias que precedem a Páscoa. Também era costume dos cristãos do período pós-apostólico jejuar para prepararem-se para o batismo.
Jejuar em movimentos de renovação
A disciplina do jejum há muito tem sido associada com movimentos reformadores e de avivamento no cristianismo. Os fundadores do movimento monástico praticavam o jejum como disciplina regular de sua vida espiritual. Embora o monasticismo mais tarde tenha-se desvirtuado para a prática de jejum e outras formas de ascetismo como tentativas vãs de atingir a salvação, é provável que os primeiros monges jejuassem no desejo de que a igreja experimentasse avivamento e reforma.
Todos os reformadores do século xvi também praticavam o jejum, bem como os lideres de avivamentos evangélicos nos séculos seguintes. Jonathan Edwards jejuou durante 22 horas antes de pregar o seu famoso sermão, “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”. Durante o Avivamento de Oração de Leigos nos Estados Unidos, em 1859, os cristãos jejuavam na hora do almoço e frequentavam reuniões de oração nas igrejas próximas de seus locais de trabalho. Esse avivamento de oração irrompeu nas grandes cidades industriais do nordeste dos Estados Unidos.
A oração sempre era acompanhada de jejum quando as pessoas buscavam o Senhor para obter bênção espiritual durante o despertamento mundial de 1906. Billy Graham conta que jejuou e orou durante sua viagem à Inglaterra para dirigir a primeira cruzada britânica, no início dos anos 1950. A reação em suas reuniões nessa época foi descrita como um dos maiores avivamentos de nosso tempo. Muitos movimentos de despertar espiritual defenderam o retorno à prática cristã primitiva de jejuar dois dias por semanas.
Resumindo, o jejum tem uma história longa e impressionante como disciplina adotada pelos crentes por várias razões, mas todas elas estão relacionadas com o princípio de abnegação. Podemos negar o “eu” para destacar as necessidades da nação, dos outros que precisam das bênçãos de Deus ou de nossas próprias necessidades espirituais.

Fonte: Jejuar - uma revolução na vida espiritual - Elmer L. Towns.

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