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A Santíssima Trindade.



Em decorrência de toda a exposição que fizemos sobre Jesus Cristo, já conhecemos melhor o nosso Deus: quem é Deus e como é Deus. E a mesma visão teremos depois de expor toda a realidade e a missão do Espírito Santo: ela nos impõe uma visão de Deus tipicamente cristã. Deus não é somente o Pai criador e autor de todas as coisas, o autor da libertação de seu povo, quem envia os profetas e constitui seu povo através da Lei e da Aliança. Deus também é o Filho, que, ao se fazer homem, faz-se pobre, oprimido, solidário com todos os marginalizados do mundo, que se faz servidor e por isso se oferece à morte, que aceita a condição humana até à cruz e assim se torna o começo de uma nova humanidade, saída precisamente dentre todas as vítimas e do seio dos pobres deste mundo. Deus é essa forma de compaixão, amor, solidariedade. E Deus é também a luz, a vida, a força que se esconde e difunde dentro dos pobres discípulos de Jesus, essa força que levou Jesus até a cruz, esse amor que fez dele o servidor: o Espírito. Deus é o Espírito que fica oculto nos que o recebem e os anima a partir de seu interior. Deus é esse amor mais forte do que a morte, que guia os homens, levando-os muito além de suas próprias forças, essa lei de amor, essa comunidade nova que faz dos discípulos servidores uns dos outros. Deus também é esse Espírito. Muitos cristãos mantêm uma ideia bastante incompleta de Deus. Quando falam de Deus, muitos cristãos pensam em primeiro lugar em uma só Pessoa, como se houvesse uma Pessoa chamada Deus. No entanto, há três Pessoas chamadas Deus; não há uma quarta Pessoa, paralelamente, que seria simplesmente Deus, sem ser o Pai, o Filho ou o Espírito Santo. Deus é o que as três Pessoas juntas são.

Essa ideia de uma só Pessoa chamada Deus se mantém em muitos cristãos porque ela já existe na mente de quase todos os homens antes mesmo de ouvirem falar em cristianismo. Quando falam de Deus, muitos pensam no autor todo-poderoso do mundo, no governador do universo, que orienta os astros, criou o sol, a lua e a terra, envia as chuvas, as recompensas e os castigos. Ou seja: têm a mesma ideia de Deus que a dos pagãos. Tal ideia contém uma parcela de verdade, porque considera que o mundo depende de algo superior, de alguém que é superior a todas as coisas que conhecemos em nosso mundo. Mas trata-se de uma ideia bastante incompleta, que não diz tudo o que Jesus Cristo nos deu a conhecer e tudo o que o Espírito Santo nos ensina. Muitos veem a Deus exclusivamente sob a imagem do poder. Para eles, as melhores imagens de Deus são as grandes forças deste mundo: os trovões, o sol, a terra, os exércitos e os chefes das nações. Deus já foi representado muitas vezes na forma de um chefe humano. Ora, desse modo não se fala do Deus Filho, que sofreu a cruz e se compadeceu dos oprimidos. E não se fala do Deus Espírito Santo, que é a força oculta dentro de cada um dos discípulos, por mais pobre e miserável que seja, uma força que se manifesta em primeiro lugar nos fracos deste mundo.

Por outro lado, muitos cristãos reconhecem em Jesus a presença de Deus. Mas veem sempre uma só Pessoa: Jesus é Deus que se fez homem. Vendo uma só Pessoa, se esquecem do Espírito Santo. Por isso, também veem primeiramente em Jesus o poder de Deus presente entre os homens. O veem como alguém superior aos homens, não o vendo como uma humanidade completa e muito menos como uma opção feita pelo Pai, de enviar seu Filho como servidor e escravo, partícipe da opressão dos homens, vítimas do pecado. Por isso, é necessário recordar sempre, bem claramente, quem é o nosso Deus: nosso Deus é o Pai, é o Filho, Jesus Cristo, que morreu na cruz, e é o Espírito Santo, que nos dá uma força renovada, nos torna livres e capazes de reconstruir em nós mesmos a imagem dos verdadeiros filhos do Pai, semelhantes a Jesus. Temos que nos acostumar a falar sempre de Deus em termos de Trindade: falar do Pai, do Filho Jesus Cristo, nosso Senhor, e do Espírito Santo, que nos ilumina e nos guia. Não devemos falar em termos de um Deus vago e unipessoal, como as pessoas fazem habitualmente.

Fonte: Breve Curso de Teologia – 1 - José Comblin.

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