O
primeiro livro da biblioteca chama-se “Gênesis”. Essa palavra significa
simplesmente “origem” ou “começo”. Está aí para nos fazer lembrar que a Bíblia
fala sobre Deus e seu modo de proceder com os homens e não meramente sobre os
homens e seus esforços para buscar a Deus. Essa distinção é importante. Esclarece
que, nos assuntos espirituais, a iniciativa é de Deus. Ele fez o mundo. Ele
amou os homens. Ele quis muito que os homens andassem com ele em
companheirismo, confiança e serviço - mas seu desejo foi frustrado pelo pecado.
O livro de Gênesis conta a história da formação do mundo, a tragédia da rebelião
pecaminosa do homem contra Deus, e de como, por várias maneiras, Deus veio ao
homem, implorando que se arrependesse e mudasse.
Os
primeiros dois capítulos nos apresentam um magnífico retrato da criação do
mundo. Deve-se lembrar que este é um relato literário de uma realização
maravilhosa e não um levantamento científico detalhado. Está ali, bem no
comecinho da Bíblia, para afirmar grandes fatos e para esboçar temas imensos que,
mais tarde, são desenvolvidos ao longo de toda a Bíblia de formas variadas.
Para começar, a história da criação diz que a
Palavra de Deus é poderosa (“E Deus disse: ‘Haja luz’, e houve luz” (1.3)).
Sempre que Deus dá uma ordem, algo acontece. Ele nunca fala em vão (Is 55.11).
A frase chave aqui é “E assim foi” (1.7, 9, 11, 15, 24, 30). Que maravilha que,
bem no início da Bíblia, sejamos lembrados do poder da Palavra de Deus! Se ele quer
alguma coisa, ele pronuncia a Palavra.
A
Bíblia é a Palavra de Deus e ela realizará os propósitos dele em nossas vidas.
Leia João 4.46-54 neste sentido e note que foi quando Jesus pronunciou aquela
palavra poderosa - “O seu filho continuará vivo” - que o filho começou a se restabelecer.
As histórias de criação também nos contam que O Trabalho de Deus é bom. “Viu Deus que ficou bom” é outro dito
recorrente (1.4, 10, 12, 21, 25, 31, N V l). O que Deus fez foi um mundo lindo.
O pecado desfigurou a magnificência deste mundo de muitas maneiras, mas ele
ainda nos mostra algo da grandeza e glória de Deus (Sl. 8.3-9, 19.1-6, Rm
1.19-20). E mais, o modo de Deus é
bondoso. Ele sabia que, ainda que o mundo fosse magnífico e que o homem que
ele fez pudesse contar com seu companheirismo infalível (3.8), ele poderia
sentir-se sozinho. Então lhe fez uma auxiliadora (2.18), e veio a este mundo
maravilhoso o presente que não tem preço: o amor humano.
Observe,
finalmente, que a vontade de Deus é a
melhor. Deus veio e proferiu uma palavra adicional - para avisar o homem e
instruí-lo. Colocou uma árvore naquele primeiro jardim e proibiu o homem de
tocá-la (2.16, 17). Deus disse bem claramente: “Não coma”. Todas as outras
frutas eram para seu deleite, mas essa não era para pegar. Possivelmente, a
própria proibição teria a finalidade de fortalecer nele o sentimento de dependência
de Deus, para que confiasse em sua voz a respeito de tais assuntos. Ele não deveria
tocar daquela árvore para discernir o que era certo ou errado; o certo era ele
escutar a voz de Deus sobre tais assuntos. Nós nem sempre entendemos tudo sobre
as exigências de Deus para nossas vidas, mas como é melhor obedecê-lo do que o
desconsiderar!
O
relato da desobediência do homem vem a seguir (3.1-24), e essas primeiras
páginas da história já contam um caso deprimente de ciúme (4.5), assassinato
(4.8), medo (4.14), imoralidade (6.4-6) e orgulho (11.4). O triste relato dos
capítulos 3 a 11 só é aliviado pelo heroísmo e devoção de uns poucos como Abel (4.4,
Hb 11.4), Enoque (5.21-24, Hb 11.5) e Noé (6.8, Hb 11.7). De resto, há uma
frase recorrente que grifa a história do pecado do homem: “e morreu” (5.5, 8,
11, 14, 17, 20, 27,31). É justamente o que Deus havia dito que aconteceria se o
homem o desobedecesse (2.17). Note também como o pecado se espalha rapidamente
de um indivíduo (3.1) a um casal (3.12), depois a uma família (4.1-15) e,
finalmente, ao mundo todo (11.1-9).
Fonte: Entendendo o Antigo
Testamento - Raymond Brown.
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