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O Ofício do Ministério 3



NÃO HÁ GRAUS NO MINISTÉRIO.

A própria natureza do ofício ministerial mostra que por direito divino, nenhum ministro tem categoria superior nem possui maior poder e autoridade do que outro. O sistema hierárquico romano, no qual o sacerdote está sujeito a seu bispo, o bispo ao arcebispo, e esse ao papa, não é instituído por Deus, mas inventado por pessoas. A Bíblia usa os termos presbítero e bispo alternadamente (At 20.17-28; Tt 1.5-7). “De direito divino não são diversos os graus de bispo e pastor” (Os Artigos de Esmalcalde, Poder, 65, Livro de Concórdia). “Os bispos, todos iguais quanto ao ofício (ainda que desiguais no concernente aos dons)” (Os Artigos de Esmalcalde, Parte II, Art. IV, 9, Livro de Concórdia). Por autoridade divina, não há diferença de categoria entre os que são ordenados, ou licenciados, ou chamados.

A FINALIDADE DESSE OFÍCIO NÃO É QUE O MINISTRO RECONCILIE, COMO SACERDOTE, AS PESSOAS COM DEUS.

Isso Cristo fez, mas que ele, como profeta e embaixador de Deus, proclame aos seres humanos a redenção e a reconciliação consumadas, e que suplique e persuada para que aceitem na fé o que Deus lhes oferece (2 Co 5.19-20). Por isso, o objetivo desse ofício não é apresentar os ensinamentos da Bíblia de um modo puramente acadêmico, como um professor pode ensinar um sistema de filosofia. O Evangelho deve ser pregado e os sacramentos, administrados para uma finalidade bem definida e prática. Devemos transformar os seres humanos em discípulos de Cristo e ensiná-los a guardar todas as coisas que Cristo ordenou (Mt 28.19-20). Devemos aperfeiçoar os santos e edificar a Igreja de Deus (Ef 4.12). Devemos salvar almas imortais (1 Tm 4.16). Podemos, por isso, definir o ofício ministerial da seguinte maneira: é a administração pública dos meios da graça para a finalidade de salvar almas.

O PODER DESSE OFÍCIO NÃO SE ESTENDE ACIMA E ALÉM DA PALAVRA.

Textos da Escritura que prescrevem obediência aos pastores (Hb 13.17; Lc 10.16) não conferem autoridade ilimitada em matéria espiritual, mas autoridade sob a Palavra de Deus e dentro dela. “Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.20). Sempre que os ministros chamados ensinam de maneira diversa da Palavra de Deus, não devemos obedecer-lhes nem segui-los (Rm 16.17; cf. Apologia, Art. XXVIII, 4, Livro de Concórdia; Confissão de Augsburgo, Art. XXVIII, 30-34, Livro de Concórdia). Por outro lado, quando os ministros chamados tratam conosco por ordem de Cristo, isto é, quando nos ensinam, aconselham e confortam com a Palavra de Deus, devemos receber sua instrução, seu aconselhamento e seu conforto como se o próprio Deus nos falasse. “Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou” (Lc 10.16). Sempre que ensinam verdadeiramente a Palavra de Deus, são embaixadores de Deus junto a nós e, como tais, devemos respeitá-los e obedecer-lhes (2 Co 5.20).

A NECESSIDADE DESSE OFÍCIO FUNDAMENTA-SE EM SUA INSTITUIÇÃO DIVINA.

Por essa razão, cada congregação local deve estabelecer o ofício do ministério em seu meio. Todavia, esse ofício não é absolutamente necessário no sentido de que sem ele ninguém pudesse salvar-se, pois não é o próprio ofício que confere bênçãos espirituais. Apenas administra os meios através dos quais a graça e o perdão são oferecidos e dados aos seres humanos. E esses meios da graça são eficazes para a salvação também sem o benefício do clero (cf. capítulo 32, Do Evangelho, 4).

“O MINISTÉRIO É O OFÍCIO MAIS ELEVADO NA IGREJA”.

(Apologia, Art. XV, 42, Livro de Concórdia). Visto que a Palavra de Deus tem o governo supremo da Igreja, é evidente que não pode haver ofício mais elevado do que o Ministério da Palavra. Isso, todavia, não quer dizer que só possa haver um ministro na congregação (At 13.1; 20.17-28). Nesse caso, o trabalho do ofício provavelmente foi dividido entre os diversos ministros, como parecem indicar os diferentes nomes (Ef 4.11). Até no Ministério de Cristo vemos que ele pregava, mas não batizava (Jo 4.2; 1 Co 1.14-17). De modo que a congregação tem o direito de chamar mais do que um pastor e dividir o trabalho entre eles. Tal divisão no trabalho do ministério não é obrigatória; é antes questão de conveniência. É determinada diretamente pela congregação ou indiretamente através do pastor em exercício, a fim de que o trabalho ministerial possa ser realizado com mais eficiência. Os deveres e as posições das diversas pessoas dentro da estrutura do ministério devem ser determinados pela organização, sendo usualmente estipulados no chamado. Isso também se aplica ao apascentamento dos cordeiros de Cristo. O trabalho de ensinar e educar os novos certamente é parte integrante e importante do trabalho do ministério público. Já que a educação cristã das crianças requer muito tempo e atenção, a congregação pode chamar uma ou mais pessoas especiais para esse trabalho particular. A elas não é transmitida a obra do ministério, mas apenas a parte para a qual houverem sido chamadas. Todavia, já que professores de escola paroquial são chamados pela congregação para a finalidade expressa de instruir as crianças na Palavra de Deus e para ensiná-las a guardar tudo o que Cristo ordenou, são deveras obreiros na Palavra e doutrina, e seu chamado, por conseguinte, é divino. Visto que se trata de ensinar a crianças, e não a homens, também mulheres podem ser empregadas para esse trabalho. Todavia, não há mandamento divino no sentido de que, sob qualquer circunstância, esse trabalho deve ser entregue a uma pessoa especial. É verdade que o apascentamento dos cordeiros é ordenado (Jo 21.15), mas não se ordena que para esse trabalho se chamem pessoas especiais. Onde o rebanho é pequeno, é perfeitamente possível que um só homem apascente as ovelhas e os cordeiros. Por isso, como posição separada e distinta da do pastor, o ofício do professor de escola paroquial não é instituição divina. O ensino de matérias seculares em nossas escolas paroquiais não é parte do Ministério da Palavra, mas nossos professores também fazem esse trabalho a fim de terem oportunidade para ensinar às crianças a única coisa necessária, o Evangelho de Cristo e para eliminar de toda a instrução secular tudo o que possa ser danoso para as almas das crianças, e para exercerem uma influência cristã positiva para a sua educação também nas horas em que ensinam leitura, escrita e matemática.

Fonte: Sumário da Doutrina Cristã - Edward W. A. Koehler.

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