Precursor
de Jesus, reformador moral e pregador da esperança messiânica. De acordo com
Lucas 1.36, Isabel e Maria, mães de João e de Jesus, respectivamente, eram
parentes de sangue ou aparentadas. Lucas acrescenta que tanto João quanto Jesus
foram anunciados, separados e nomeados pelo anjo Gabriel, mesmo antes de
nascerem. Tal como no caso de Jesus, pouco se sabe sobre a infância de João
Batista, exceto que “crescia e se fortalecia em espírito" (Lc 1.80). O
silêncio desses primeiros anos, no entanto, foi quebrado com sua conclamação tempestuosa
ao arrependimento, algo em torno dos anos 28-29 dC., pouco tempo antes de Jesus
iniciar seu ministério. Mateus relata que o lugar onde João pregava era o
deserto da Judéia (3.1). É provável que também pregasse na Peréia, a leste do
no Jordão. A Peréia, como a Galiléia, pertencia à jurisdição de Herodes
Antipas, a mando a de quem João foi posteriormente preso. Os quatro evangelhos são unânimes em seu
relato de que João vivia “no deserto". Lá cresceu (Lc 1.80), foi chamado
por Deus (Lc 3.2) e pregou (Mc 1.4) até sua execução. O deserto - vasto terreno
de rochedos, vento e calor - foi o lugar onde Deus habitou com seu povo após o Êxodo.
Desde então, tem sido o lugar de esperança religiosa para Israel. João chamou
as pessoas para fora do conforto de suas casas e cidades em direção ao deserto,
onde podiam encontrar Deus.
A
convicção de que Deus estava para começar uma nova tarefa entre esse povo despreparado
surgiu com João como uma tempestade no deserto. Este foi chamado para vestir o
manto peludo do profeta com a determinação e a urgência do próprio Elias. Não
só vestia-se como Elias, com pelos de camelo e couro (2Rs 1.8; Mc 1.6), mas
entendia que seu ministério seria de restauração e preparação, exatamente como o
de Elias (Lc 1.17). Na crença popular da época, acreditava-se que Elias voltaria
do céu para preparar o caminho do Messias (Ml 4.5-6). João lembrava Elias por
causa do modo de se vestir e de seu comportamento (Mt 11.14; Mc 9.12-13). Sem
dúvida, João era tão austero quanto o deserto. Apesar disso, sua retidão
imponente conduzia grandes multidões para ouvi-lo. O que seus ouvintes
encontravam nessa voz a clamar no deserto (Mc 1.3) era um chamado à renovação moral,
ao batismo e à esperança messiânica. A ferroada do desafio moral pregado por
João é dura de ser apreciada atualmente. Sua ordem para as vestes e a comida
serem repartida (Lc 3.11) era uma ferida dolorosa em uma sociedade faminta de
bens materiais. Quando advertiu cobradores de impostos a não cobrarem mais do
que deviam (Lc 3.12-13), expôs, principalmente, a ganancia que havia conduzido
pessoas a tais posições. Quanto aos soldados, aos quais disse que deveriam ficar
satisfeitos com o salário que recebiam, estes deveriam estremecer diante da
hipótese de usar o poder para tirar vantagens das pessoas comuns (Lc 3.14). O batismo
de João era uma regeneração simbólica e moral de purificação, administrada a
cada candidato apenas uma vez. João criticou as pessoas por se acharem corretas
e confiantes em Deus porque eram filhos de Abraão (Mt 3.9). Pôs o machado à
raiz da presunção, advertindo que eles, os judeus, seriam eliminados e
rejeitados a menos que demonstrassem frutos de arrependimento (Mt 3.7-12).
O
esforço de João quanto à reforma moral, simbolizada pelo batismo, foi o meio de
preparar Israel para se encontrar com Deus. Sua pregação teve início com as palavras:
“Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Mc 1.3). João teve
uma consciência firme de que aquele que viria depois dele batizaria com água e
com o Espírito Santo (Mc 1.7-8). João foi o precursor do todo-poderoso, um mensageiro
da esperança messiânica que se originaria em Jesus. Foi precursor de Jesus não
somente em seu ministério e mensagem (Mt 3.1; 4-17), mas também em sua morte.
Somente depois de João ser preso é que Jesus iniciou seu ministério (Mc 1.14);
a execução de João prenunciou o destino semelhante de Jesus. Aprisionado por
Antipas na fortaleza de Machaerus, nas colinas abandonadas a Leste do mar
Morto, João deve ter ficado desiludido com seu fracasso e com o fracasso
crescente que sentia a respeito da missão de Jesus. Por isso enviou mensageiros
para perguntar a Jesus: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar
outro!” (Mt 11.3). João foi finalmente morto pelo funcionário de um rei
induzido por outros, que se permitiu ser influenciado por uma esposa ardilosa,
por mu nora, e pelas pessoas ao seu redor (Mc 6.14-29).
Josefo
registra que Herodes prendeu e executou João Batista porque temia que sua popularidade
pudesse resultar em uma revolta. Os evangelhos revelam que o motivo foi o fato
de João falar contra o casamento imoral de Herodes com Herodias, a esposa de
seu irmão Filipe (Mc 6.17-19). Os relatos são complementares, porque a retidão
moral de João deve ter inflamado em grande parte uma esperança política que
começava a ser arruinada. Disse Jesus a
respeito de João: "entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do
que João Batista" (Mt 11.11). Ele foi o último e o maior dos profetas (Mt
11.13-14). Apesar disto, permaneceu, como Moisés, no limite da terra prometida.
Não entrou no reino de Deus proclamado por Jesus; e, consequentemente, "o
menor no reino dos céus é maior do que ele" (Mt 11.11). A influência de
João continuou a existir após sua morte. Quando Paulo foi a Éfeso, aproximadamente
30 anos mais tarde, encontrou um grupo de discípulos de João (At 19.1-7).
Alguns destes devem ter pensado em João em termos messiânicos. O fato levou o autor
do evangelho de João, que também escreveu de Éfeso, 60 anos após a morte de
João Batista, aproximadamente, a enfatizar a superioridade de Jesus (Jo 1.19-27;
3.30).
Fonte:
Dicionário Ilustrado da Bíblia - Ronald F. Youngblood, F.F Bruce & R.K.
Harrison.
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