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O BATISMO DE JESUS.



O batismo de Jesus deu início a seu ministério terreno e é o único acontecimento de sua vida (à parte dos fatos relativos à sua morte) mencionado nos quatro evangelhos. Por si só, isso deveria chamar-nos a atenção, mas o batismo tem importância por uma quantidade de outras razões. Para começar, ele não era necessário. Somos batizados para o perdão de nossos pecados, mas Jesus não pecara para ter a necessidade de ser perdoado. Ele foi batizado a fim de cumprir toda a justiça, o que no contexto significa a lei do Antigo Testamento; todavia, o batismo não era uma prática veterotestamentária. Ele fora circuncidado ao oitavo dia de vida, e ao completar doze anos, subiu a Jerusalém para seu “bar mitzvah (cerimônia judaica em que o jovem se torna civil e religiosamente responsável por seus atos) portanto, do ponto de vista judaico, ele já era membro da comunidade da aliança. Aparentemente, o batismo era reservado aos gentios convertidos ao judaísmo, batizados com o objetivo de simbolizar a purificação das marcas dos pecados do mundo. No judaísmo, o único sinal do batismo surgiu no ministério de seu primo João, chamado “Batista” — o que “batiza” — justamente por essa causa. João batizava para o arrependimento, como sinal da vinda do reino de Deus; no entanto, ele foi o primeiro a reconhecer, como nos lembra o evangelho de João, que seu ministério nada tinha a oferecer a Jesus. Portanto, o que estava acontecendo e que lições podem ser extraídas desse relato? A primeira coisa a ser dita é que o batismo de Jesus não pode ser comparado ao dos cristãos. Não só porque Jesus recebeu o batismo de João — que é diferente do batismo praticado pela igreja. O mais importante: o batismo de Jesus não possui o mesmo significado que o nosso, pois sua condição espiritual e relacionamento com Deus eram completamente distintos. Nunca é importante demais frisar que Jesus não era cristão — nem poderia sê-lo.

Cristão é o pecador salvo pela graça divina, concedida por causa da fé no sangue vertido por Cristo. Todavia, Jesus não era pecador, ele não morreu para salvar-se e não faz sentido dizer que ele “creu” no que realizou. Mas, a despeito disso, há uma forte tendência na igreja cristã de considerar Jesus o primeiro cristão (e o maior). Uma das primeiras pessoas a fazer esta afirmação foi um homem chamado Paulo de Samosata, bispo de Antioquia de 260 a 272. Em 268, ele foi condenado por um sínodo reunido nessa cidade, que o acusou da heresia que conhecemos pelo nome de adocianismo. Aparentemente, Paulo cria que Jesus era um homem comum, com um pai humano, adotado por Deus no momento do batismo. Quando Jesus saiu da água, os céus se abriram e uma pomba desceu sobre ele, e a voz de Deus anunciava que ele era agora seu “Filho amado”. A motivação de Paulo para fazer dessa afirmação era provavelmente pastoral. Ele desejava explicar a importância do batismo cristão como uma cerimônia de transformação em filhos de Deus. Se o batismo é o sinal de nossa adoção espiritual, e Jesus foi batizado; então é óbvio que Jesus, no conceito de Paulo, também foi adotado como Filho de Deus. Ele, provavelmente não o afirmou com esse intuito, mas, na prática, fez de Jesus o primeiro cristão — o modelo a ser seguido. Na verdade, a Bíblia nos diz para sermos imitadores de Cristo, (ICo 11.1) desse modo, deve haver algumas circunstâncias em que nossa vida possa equiparar-se a dele. Por que não começá-la pelo batismo? É claro que isso acontece em certo sentido, pois o batismo é o início da vida cristã, portanto, também o princípio da imitação de Cristo. Entretanto, mesmo tudo isso sendo verdade, não se pode concluir que o batismo de Jesus ou seu ministério subsequente sejam de algum modo parecidos com os nossos. Além das razões já apresentadas, que dizem respeito à impecabilidade de Jesus, existe outra faceta a ser recordada: Jesus veio com um propósito específico — morrer pelos pecados do mundo. Esse propósito é esclarecido no momento do batismo, ao ser exaltado por João como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29). Por mais que sejamos assemelhados a Jesus, a ponto de carregarmos a cruz e segui-lo; não fomos chamados para morrer pelos pecados de outras pessoas, nem poderíamos fazê-lo, ainda que o desejássemos. A vida e o ministério de Jesus são únicos e portanto, o batismo que deu início a esse ministério também foi único.

Fonte: Quem é Jesus - Gerald Bray.

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