Vamos
agora voltar nossa atenção para uma denominação protestante que muito cresce no
Brasil, assumindo formas diversificadas; trata-se dos pentecostais, dos quais o
ramo mais conhecido é a Igreja Universal do Reino de Deus. A origem dos
pentecostais se prende à denominação protestante metodista. O metodismo é uma
corrente que tendia a reavivar o anglicanismo ou o episcopalismo da Inglaterra
do século XVI. Julgando que os episcopalianos haviam perdido o seu fervor, John
Wesley (1791) desejava lhes dar novo método de vida espiritual - daí o nome de
“metodismo” dessa reforma da reforma anglicana. No século XIX surgiu dentro do
metodismo um novo movimento de renovação dito “Holiness" (Santidade). Esse movimento ensinava que, depois da
conversão (necessária para a salvação), o cristão deve passar por uma “segunda
bênção” ou uma nova e mais profunda experiência religiosa, que era chamada
“batismo no Espírito Santo”. Em 1900 o pastor metodista Charles Parham aderia
às concepções de Holiness. Tinha uma
escola para estudos bíblicos em Topeka, Kansas (EUA), com 30 alunos. Lendo At
2,1-12; 10,44-48; 19,17 chegaram à conclusão de que o sinal característico do
batismo no Espírito Santo é o dom das línguas (glossolalia). Então grande
entusiasmo se apoderou do grupo, que se pôs a orar ininterruptamente durante
vários dias e noites, pedindo a vinda do Espírito Santo.
Em
01/01/1901, uma das estudantes, Agnes Oznam, rogou a Parham que lhe impusesse
as mãos sobre a cabeça enquanto orava; quando isso foi feito, ela experimentou
o “batismo no Espírito”, e começou a falar línguas. Dentro de poucos dias,
Parham e os outros membros do grupo tiveram a mesma experiência. Assim surgiu a
primeira congregação pentecostal; os seus membros aspiravam a outros dons do
Espírito Santo, entre os quais o da cura de doenças mediante imposição das
mãos. Este núcleo deu origem a outros, principalmente por obra do pastor W. J.
Seymour. Parham, Seymour e seus discípulos não intencionavam fundar nova
denominação cristã, mas apenas suscitar um reavivamento no seio das comunidades
protestantes. Quando, porém, viram-se rejeitados por estas, passaram a
constituir congregações próprias, hoje conhecidas pelo termo genérico
“pentecostais”, que rapidamente se espalharam pelos diversos continentes. Já em
1906 o pentecostalismo se propagara pela Europa, atingindo sem demora a América
Latina - especialmente o Brasil. Nenhuma denominação protestante está sujeita a
se dividir e subdividir tanto quanto a dos pentecostais. Isso se compreende,
dado que as raízes e as forças propulsoras são muito subjetivas e emocionais. O
crente pentecostal que julgue ter uma visão ou uma “profecia”, facilmente se
torna fundador de um ramo Independente com seu título próprio; Cruzada da Nova
Vida, Igreja do Evangelho Quadrangular, Cruzada Nacional de Evangelização,
Igreja da Restauração, Reavivamento Bíblico, Cristo Pentecostal da Bíblia,
Igreja Pentecostal Jesus Nazareno, Igreja do Reino Universal, Deus é Amor,
Igreja Universal do Reino de Deus...
No
Brasil, os pentecostais constituem cerca de 75% da população protestante, com
tendência ao crescimento. Não há estatísticas seguras sobre o número desses
crentes entre nós, pois o ecletismo religioso é intenso, de modo que não se
conhecem bem os limites entre o pentecostalismo protestante puro e correntes
próximas do mesmo. Ao encararmos o movimento pentecostal protestante,
verificamos algumas de suas características, que nos sugerem uma reflexão:
1)
A emoção não raro prepondera sobre a razão em tais correntes religiosas;
2)
Há nelas uma propensão forte aos fenômenos tidos como extraordinários, que
fazem vibrar, aplaudir, gritar, dificultando o raciocínio e o senso crítico;
3)
Há aí pouco estudo profundo da Bíblia. Esta é interpretada em chave fundamentalista,
que, por insegurança e medo de perverter a fé, toma a Bíblia ao pé da letra,
mesmo quando ela exige entendimento diverso, de acordo com o gênero literário
do respectivo livro;
4)
Nesse ritmo, os pentecostais se afastam cada vez mais do genuíno cristianismo. Tendem
a fazer da religião um serviço ao homem, e não a Deus; o antropocentrismo
predomina, ainda que veladamente. Os seus templos se transformam mais e mais em
salões de proclamação da Bíblia e pregação, com a realização de “milagres”
correspondentes. Tais “milagres” deveriam ser submetidos a sério exame
científico, que revelaria quanto de sugestão e histeria há nesses fenômenos;
5)
O crescimento das denominações pentecostais se deve, em grande parte: à
insuficiente formação religiosa e catequética do povo católico; à ausência de
senso crítico e a certo anti-intelectualismo, que propiciam livre curso às
emoções em matéria de religião; e à secularização que tem invadido alguns
setores do catolicismo, deixando o povo de Deus sequioso por um atendimento
mais religioso e sacral. Para o catolicismo, o fenômeno pentecostal protestante
é um sinal evidente da urgência de sólida catequese.
Fonte:
Crenças, Religiões, Igrejas e Seitas: Quem
São? - Estêvão Tavares Bettencourt.
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