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Ungindo Com Óleo - Tg 5.13-16

Há, nessa conclusão de Tiago, um versículo que tem sido um problema para muitos, e podemos facilmente entender o por­quê. É o que fala sobre ungir o doente com óleo: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes fa­çam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Se­nhor.” (v. 14).
Esse versículo tem sido interpretado de várias maneiras... Por um lado, ele é usado pela Igreja Católica Romana como base para o seu sacramento do final, ou extrema unção. Ele se encaixa bem dentro do sistema sacramental da Igreja de Roma, de acordo com o qual a graça é administrada por meio dos sa­cramentos, por um sacerdote especialmente designado para realizá-los (Esse é o único versículo nas Escrituras que dá al­gum suporte para esse sacramento). Mas, certamente, esse não é o verdadeiro significado do texto. Porque o texto não está fa­lando em ungir alguém um pouco antes de morrer, mas, pelo contrário, tem em vista a sua recuperação. E, certamente, não é um ato público, mas muito privado. Entender que ele está en­sinando o rito da extrema unção é uma interpretação muito errada.
Por outro lado, esse versículo tem sido interpretado erro­neamente pelos protestantes, que têm visto nele uma promessa de cura para todos os cristãos em todas as circunstâncias. Mui­tas reuniões de cura apelam para versículos como esse, com a explicação de que é direito de nascimento de todo cristão de ser curado. E alguns até acrescentam ao seu argumento que a pala­vra “salvação” está baseada na palavra usada para saúde — salute (latim), que significa “saúde” ou “totalidade” — e argumentam, dessa forma, que, quando você é salvo, você está habilitado à totalidade do seu corpo, como também da sua alma.
Bem, Deus geralmente garante plenitude de saúde, e, às vezes, ele garante o que parecem ser curas maravilhosas. Mas, em nenhum lugar nas Escrituras Deus promete que a cura é di­reito de nascimento de todo cristão. O caso de Jó, que nós con­sideramos deveria dissipar essas noções. Jó sofreu não apenas pela perda de suas posses e família, mas, tam­bém, pela perda de sua saúde, e a principal razão para o seu sofrimento foi para que Deus fosse glorificado. Apesar de Deus ter restaurado sua saúde, ela não era seu direito de nascimento e ele, certamente, não sofreu por falta de fé, como alguns desses professores argumentam.
Entretanto, quando dissipamos essas interpretações falsas, ainda temos a responsabilidade de determinar o que o versículo significa, e não é fácil de fazer isso.
B. B. Warfield em seu livro Counterfeit Miracles(Mila­gres Falsos) observou, com propriedade, que Deus nem sempre garante a cura quando o óleo é aplicado e concluiu que, uma vez que Deus geralmente não acompanha o sinal pela realidade, nós deveríamos ministrar o sinal até Deus restaurar a realidade. É assim que abordo essa passagem. Mas se é ou não a forma ade­quada de lidar com a situação, eu deixo para você julgar. Ape­nas gostaria aqui de investigar esse versículo um pouco mais a fundo no contexto do ensinamento total do capítulo.
Tiago está dizendo que apenas o processo de ungir com óleo salva o doente? Não, eu não penso assim. Tiago descreve algo que, sem sombra de dúvidas, ocorria em seus dias. Ele não estava pres­crevendo um ritual. Ele não estava dizendo: “Eu tenho alguma coisa nova sobre a qual eu quero contar-lhes. Se alguém ficar doente, aqui está o que fazer. Primeiro, você deve conseguir um pouco de óleo; então, você deve ungir o seu amigo doente e, então, orar, e a unção e a oração o curarão”. Não era isso o que ele estava fazendo.
O óleo era usado de várias maneiras no judaísmo, geral­mente nos rituais do templo, e Tiago devia ter isso em mente, uma vez que ele está descrevendo algo que normalmente era feito. Ele diz: “Quando você seguir o procedimento normal, te­nha a certeza de orar”. Essa é a ênfase. É a oração da fé que é eficaz, pela graça de Deus, para curar.
Orar em fé é uma resposta à revelação de Deus. Fé é ouvir Deus e agir baseado naquilo que Deus diz. Aqui temos o caso daqueles que estão assegurados dessa ou daquela forma — tal­vez subjetivamente, talvez com base nos seus estudos da Palavra de Deus, talvez por causa de alguma circunstância especial — que Deus vai fazer algo por eles, e então, com base nessa convicção e revelação, oram com fé para que tudo seja feito. Em tais circunstâncias, Tiago diz: “Deus, que deu, primeiro de tudo, a revelação, dará em resposta à crença da fé, aquilo que ele prometeu”.
Certamente quando ele fala nos efeitos da oração fervoro­sa de um homem justo, ele está pensando nesses termos.
Observe como Tiago indica que há algumas pessoas às quais isso não se aplica. Não se aplica a cristãos apóstatas, cristãos desobedientes ou cristãos duvidosos. Aplica-se a cristãos jus­tos, que vivem de acordo com os mandamentos de Deus e que podem orar eficaz e fervorosamente.
A essa altura, poderíamos dizer: “Bem, se esse é o caso, então eu tenho certeza de que não poderei orar ousadamente. Eu tenho dúvidas da minha retidão. Sei que sou pecador. Peco dia­riamente em pensamentos, palavras e ações. Eu mal sei como orar. Isso deve se aplicar a outros”.
Tiago antecipou essa objeção, porque no verso 17, temos exemplo do profeta Elias, lembrando-nos que Elias era um ho­mem como nós. Ele tinha as mesmas fraquezas humanas que temos. Depois da grande vitória de Elias no monte Carmelo, quando o fogo de Deus desceu e consumiu o altar de Baal e todos os profetas de Baal foram expulsos e mortos, Jezabel avi­sou a Elias: “Façam-me os deuses como lhes aprouver se ama­nhã a essas horas não fizer eu à tua vida como fizeste a cada um deles.” (1Rs 19.2). E Elias ficou apavorado. Ele correu e escondeu-se. Obviamente Elias, às vezes, era fraco e vacilante. No entanto, como Tiago nos lembra, ele era um homem que foi usado por Deus para falar palavras espirituais ao rei Acabe e trazer julgamento àquele reino.
Deus disse a Elias para falar a Acabe que não iria chover, e não choveu. A grama secou, as plantações murcharam, os ani­mais começaram a morrer. O reino estava devastado. Então, depois de três anos, Deus mandou Elias dizer a Acabe que iria chover novamente.
Elias subiu o monte Carmelo, colocou sua cabeça entre os joelhos, em atitude de oração, e mandou um servo ao topo do monte para procurar alguma indicação de chuva. O menino vol­tou e disse: “Tudo o que eu vejo é uma grande extensão de céu azul sobre o Mediterrâneo”.
Elias disse: “Sobe, e olha novamente”. O menino voltou e Elias continuou a orar. Quando o menino retomou, Elias per­guntou: “Você viu algo?” Não havia nada. O céu estava total­mente claro. Elias mandou o menino de volta sete vezes.
Na sétima vez, o menino disse: “Eis que se levanta do mar uma nuvem pequena como a palma da mão do homem.” (lRs 18.44). Elias sabia que era isso. Então ele disse: “Sobe e diz a Acabe: Aparelha o teu carro e desce, para que a chuva não te detenha.” (v. 44). Então ele cingiu os lombos e correu adiante de Acabe, distanciando-se da carruagem. As chuvas vieram, e acabou a seca.
Tiago está nos lembrando como Deus trabalhou por meio de Elias naquela época. E ele está nos encorajando a sermos homens e mulheres de oração — não homens e mulheres de presunção, que tiram uma idéia da cabeça e a batizam com ora­ção dizendo: “É isso o que Deus vai fazer”, quando Deus não prometeu nada assim. Devemos ser aqueles que procuram pela vontade de Deus e oram por ela e, então, nos tomamos agentes da benção que Deus traz.
Ao terminar sua epístola, Tiago nos dá um lugar para co­meçar. Nós, frequentemente, queremos começar com algo es­petacular. Gostaríamos de orar por alguém, que é um doente terminal, e ver essa pessoa melhorar imediatamente. Pense como nós poderíamos ser espirituais! Bem, há vezes que Deus opera dessa forma, mas Tiago diz que, se quisermos aprender a orar, devemos começar em um lugar onde sabemos que Deus quer abençoar outros: “Sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá mul­tidão de pecados.” (v. 20).
Você deseja ser uma pessoa de oração? Comece orando pelos pecadores. Ore por aqueles que necessitam do Evangelho, porque, quando Deus ouvir a sua oração e os salvar, eles serão resgatados da morte, e muitos pecados que poderiam ter sidos cometidos por eles durante suas vidas serão evitados.

Fonte:Creio, Sim Mais e Daí? - James Montgomery Boice

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