Há, nessa conclusão de Tiago, um versículo que tem sido um problema para muitos, e podemos facilmente entender o porquê. É o que fala sobre ungir o doente com óleo: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor.” (v. 14).
Esse versículo tem sido interpretado de várias maneiras... Por um lado, ele é usado pela Igreja Católica Romana como base para o seu sacramento do final, ou extrema unção. Ele se encaixa bem dentro do sistema sacramental da Igreja de Roma, de acordo com o qual a graça é administrada por meio dos sacramentos, por um sacerdote especialmente designado para realizá-los (Esse é o único versículo nas Escrituras que dá algum suporte para esse sacramento). Mas, certamente, esse não é o verdadeiro significado do texto. Porque o texto não está falando em ungir alguém um pouco antes de morrer, mas, pelo contrário, tem em vista a sua recuperação. E, certamente, não é um ato público, mas muito privado. Entender que ele está ensinando o rito da extrema unção é uma interpretação muito errada.
Por outro lado, esse versículo tem sido interpretado erroneamente pelos protestantes, que têm visto nele uma promessa de cura para todos os cristãos em todas as circunstâncias. Muitas reuniões de cura apelam para versículos como esse, com a explicação de que é direito de nascimento de todo cristão de ser curado. E alguns até acrescentam ao seu argumento que a palavra “salvação” está baseada na palavra usada para saúde — salute (latim), que significa “saúde” ou “totalidade” — e argumentam, dessa forma, que, quando você é salvo, você está habilitado à totalidade do seu corpo, como também da sua alma.
Bem, Deus geralmente garante plenitude de saúde, e, às vezes, ele garante o que parecem ser curas maravilhosas. Mas, em nenhum lugar nas Escrituras Deus promete que a cura é direito de nascimento de todo cristão. O caso de Jó, que nós consideramos deveria dissipar essas noções. Jó sofreu não apenas pela perda de suas posses e família, mas, também, pela perda de sua saúde, e a principal razão para o seu sofrimento foi para que Deus fosse glorificado. Apesar de Deus ter restaurado sua saúde, ela não era seu direito de nascimento e ele, certamente, não sofreu por falta de fé, como alguns desses professores argumentam.
Entretanto, quando dissipamos essas interpretações falsas, ainda temos a responsabilidade de determinar o que o versículo significa, e não é fácil de fazer isso.
B. B. Warfield em seu livro Counterfeit Miracles(Milagres Falsos) observou, com propriedade, que Deus nem sempre garante a cura quando o óleo é aplicado e concluiu que, uma vez que Deus geralmente não acompanha o sinal pela realidade, nós deveríamos ministrar o sinal até Deus restaurar a realidade. É assim que abordo essa passagem. Mas se é ou não a forma adequada de lidar com a situação, eu deixo para você julgar. Apenas gostaria aqui de investigar esse versículo um pouco mais a fundo no contexto do ensinamento total do capítulo.
Tiago está dizendo que apenas o processo de ungir com óleo salva o doente? Não, eu não penso assim. Tiago descreve algo que, sem sombra de dúvidas, ocorria em seus dias. Ele não estava prescrevendo um ritual. Ele não estava dizendo: “Eu tenho alguma coisa nova sobre a qual eu quero contar-lhes. Se alguém ficar doente, aqui está o que fazer. Primeiro, você deve conseguir um pouco de óleo; então, você deve ungir o seu amigo doente e, então, orar, e a unção e a oração o curarão”. Não era isso o que ele estava fazendo.
O óleo era usado de várias maneiras no judaísmo, geralmente nos rituais do templo, e Tiago devia ter isso em mente, uma vez que ele está descrevendo algo que normalmente era feito. Ele diz: “Quando você seguir o procedimento normal, tenha a certeza de orar”. Essa é a ênfase. É a oração da fé que é eficaz, pela graça de Deus, para curar.
Orar em fé é uma resposta à revelação de Deus. Fé é ouvir Deus e agir baseado naquilo que Deus diz. Aqui temos o caso daqueles que estão assegurados dessa ou daquela forma — talvez subjetivamente, talvez com base nos seus estudos da Palavra de Deus, talvez por causa de alguma circunstância especial — que Deus vai fazer algo por eles, e então, com base nessa convicção e revelação, oram com fé para que tudo seja feito. Em tais circunstâncias, Tiago diz: “Deus, que deu, primeiro de tudo, a revelação, dará em resposta à crença da fé, aquilo que ele prometeu”.
Certamente quando ele fala nos efeitos da oração fervorosa de um homem justo, ele está pensando nesses termos.
Observe como Tiago indica que há algumas pessoas às quais isso não se aplica. Não se aplica a cristãos apóstatas, cristãos desobedientes ou cristãos duvidosos. Aplica-se a cristãos justos, que vivem de acordo com os mandamentos de Deus e que podem orar eficaz e fervorosamente.
A essa altura, poderíamos dizer: “Bem, se esse é o caso, então eu tenho certeza de que não poderei orar ousadamente. Eu tenho dúvidas da minha retidão. Sei que sou pecador. Peco diariamente em pensamentos, palavras e ações. Eu mal sei como orar. Isso deve se aplicar a outros”.
Tiago antecipou essa objeção, porque no verso 17, temos exemplo do profeta Elias, lembrando-nos que Elias era um homem como nós. Ele tinha as mesmas fraquezas humanas que temos. Depois da grande vitória de Elias no monte Carmelo, quando o fogo de Deus desceu e consumiu o altar de Baal e todos os profetas de Baal foram expulsos e mortos, Jezabel avisou a Elias: “Façam-me os deuses como lhes aprouver se amanhã a essas horas não fizer eu à tua vida como fizeste a cada um deles.” (1Rs 19.2). E Elias ficou apavorado. Ele correu e escondeu-se. Obviamente Elias, às vezes, era fraco e vacilante. No entanto, como Tiago nos lembra, ele era um homem que foi usado por Deus para falar palavras espirituais ao rei Acabe e trazer julgamento àquele reino.
Deus disse a Elias para falar a Acabe que não iria chover, e não choveu. A grama secou, as plantações murcharam, os animais começaram a morrer. O reino estava devastado. Então, depois de três anos, Deus mandou Elias dizer a Acabe que iria chover novamente.
Elias subiu o monte Carmelo, colocou sua cabeça entre os joelhos, em atitude de oração, e mandou um servo ao topo do monte para procurar alguma indicação de chuva. O menino voltou e disse: “Tudo o que eu vejo é uma grande extensão de céu azul sobre o Mediterrâneo”.
Elias disse: “Sobe, e olha novamente”. O menino voltou e Elias continuou a orar. Quando o menino retomou, Elias perguntou: “Você viu algo?” Não havia nada. O céu estava totalmente claro. Elias mandou o menino de volta sete vezes.
Na sétima vez, o menino disse: “Eis que se levanta do mar uma nuvem pequena como a palma da mão do homem.” (lRs 18.44). Elias sabia que era isso. Então ele disse: “Sobe e diz a Acabe: Aparelha o teu carro e desce, para que a chuva não te detenha.” (v. 44). Então ele cingiu os lombos e correu adiante de Acabe, distanciando-se da carruagem. As chuvas vieram, e acabou a seca.
Tiago está nos lembrando como Deus trabalhou por meio de Elias naquela época. E ele está nos encorajando a sermos homens e mulheres de oração — não homens e mulheres de presunção, que tiram uma idéia da cabeça e a batizam com oração dizendo: “É isso o que Deus vai fazer”, quando Deus não prometeu nada assim. Devemos ser aqueles que procuram pela vontade de Deus e oram por ela e, então, nos tomamos agentes da benção que Deus traz.
Ao terminar sua epístola, Tiago nos dá um lugar para começar. Nós, frequentemente, queremos começar com algo espetacular. Gostaríamos de orar por alguém, que é um doente terminal, e ver essa pessoa melhorar imediatamente. Pense como nós poderíamos ser espirituais! Bem, há vezes que Deus opera dessa forma, mas Tiago diz que, se quisermos aprender a orar, devemos começar em um lugar onde sabemos que Deus quer abençoar outros: “Sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados.” (v. 20).
Você deseja ser uma pessoa de oração? Comece orando pelos pecadores. Ore por aqueles que necessitam do Evangelho, porque, quando Deus ouvir a sua oração e os salvar, eles serão resgatados da morte, e muitos pecados que poderiam ter sidos cometidos por eles durante suas vidas serão evitados.
Fonte:Creio, Sim Mais e Daí? - James Montgomery Boice
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